A biblioteca do colégio Sant Marie quase não era frequentada por boa parte dos alunos, o que eu nunca poderia entender. A iluminação era incrível, repleta de lâmpadas em forma de lanternas como as do filme Enrolados, isolando a luz sobre nossas cabeças. E centenas de livros que estavam dentro de um pacote combinado por uma grande Editora, todos disponíveis a qualquer momento, para qualquer um que se interessasse.Sempre consideraria um absurdo a desvalorização que recaía sobre nossos livros. Enquanto algumas escolas possuíam tão pouco, e nós tínhamos tanto, era mesmo justo não aproveitar?
Era o terceiro dia na semana que o sol dava as caras, uma raridade na cidade de Brighton. Obviamente aproveitei, sentando-me em uma das únicas mesas onde o sol alcançava e folheando livros e mais livros, tendo como iluminação apenas a luz do sol.
As palavras de Romeu sobre magia não me deixavam em paz, rondando em círculos dentro de minha cabeça, tocando tambor e pulando sem parar. Elas se repetiam, em tons diferentes, vozes diferentes. Mas todas diziam: Você acreditava em magia, Julieta. Você sempre acreditou.
Sentia-me como uma criança folheando um livro sobre magia na biblioteca da escola, esperando que a qualquer momento Hagrid fosse aparecer e dizer que houve um terrível engano sobre minha carta de Hogwarts e, bum, eu seria uma bruxa!
Na infância, Romeu Falak e eu éramos uma equipe de dois integrantes unida. Usávamos os materiais que sobravam da escola para forjar poderes e habilidades, e então fingíamos ser super-heróis ou bruxos vigiando e cuidando dos indefesos pelo mundo.
– Gosto desses momentos. –Romeu Falak deitara-se sobre o feno, apontando para o céu com um pedaço de graveto que ele dizia ser sua varinha. – Somos crianças no subúrbio da Itália e, ao mesmo tempo...
– Tudo o que quisermos. –Eu completara, também apontando meu graveto-varinha.
– Acha que somos sonhadores demais? –Romeu me olhara, franzindo a testa.
– Não. –Respondi, de prontidão. – A magia está aqui, Romeu. Sonhamos na medida certa e, quanto mais sonharmos, melhor.
Aquela conversa estivera presente quando criei Romeu Javadd. De fato, Romeu era a personificação que reunia lembranças, memórias e sonhos. Muito perto, mas ainda assim atrás da pequena linha tênue separando a ficção da realidade.
Então por que você está lendo sobre magia se não acredita em Romeu?
Franzi a testa. É claro que minha própria mente tentaria me sabotar, estranho seria se não o fizesse. Encontraria brechas em minhas próprias dúvidas e quando eu fornecesse respostas, encontraria brechas e perguntas ainda melhores.
Suspirei ao inclinar a cabeça para trás em direção a janela –a luz do sol, em especial–. Fechei os olhos e apoiei as mãos no banco para sustentar o corpo. Com um pouquinho de criatividade, era como estar na praia, em um dia quente de verão.
Gostava do som do silêncio, mesmo que isso não fizesse sentindo. A tranquilidade em um dia ensolarado e silencioso era impagável. Podia escrever com uma iluminação natural, sem estardalhaço a volta ou simplesmente passar o dia tomando sol confortavelmente.
Franzi a testa ao reconhecer o som de uma foto sendo tirada. Abri os olhos devagar, esperando minha visão assumir um foco decente por causa do sol e inclinei a cabeça na direção do som, me deparando com Romeu.
Ele abaixou a câmera e aguardou até que a pequena foto saísse pela parte inferior da câmera. Abriu um sorriso e me estendeu a foto, como um vendedor oferecendo uma amostra grátis de seu produto.
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Até breve, Romeu
RomanceJulieta De Angelis é uma jovem escritora italiana que teve um ano difícil. Após vencer a adaptação à um novo país, atolou-se com o trabalho e reprovou no ano da formatura. Seu livro Até breve, Romeu rodou o mundo das plataformas online com tamanho...