XXVIII - Savanah Young, o anjo de vestido branco

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O nome Lorenzo De Angelis soou de uma maneira inovadoramente estranha em meus ouvidos.

A voz de Savanah parecia vir de outro lugar. Me senti debaixo d’água, deitada entre os peixes, enquanto as palavras da garota a minha frente vinham de um lugar muito alto, tentando árdua e incansavelmente me alcançar. Depois disso, o nome se repetiu várias vezes, como se estivéssemos em uma caverna com muito eco.

Grande parte dos adolescentes no refeitório permaneciam me encarando. O silêncio prevalecia, tomando conta do ambiente, enquanto todos esperavam que eu saísse do transe assustador e tomasse uma atitude ainda mais assustadora, como arremessar mesas ou coisas do tipo.

A responsável pelas líderes de torcida estava encolhida. Os braços colados ao corpo, as mãos entrelaçadas em volta do celular e a cabeça baixa. Savanah evitava meus olhos, tendo sido a última voz presente no refeitório.

O refeitório voltou ao normal antes que eu percebesse. Em um instante, Savanah não estava mais ali, tendo atravessado todo o alvoroço. Os adolescentes voltaram a gritar uns com os outros, rir, fofocar e/ou trocar agressões gratuitas. Seria impossível dizer que a poucos segundos o mundo caíra sobre meus ombros.

Julieta. — a voz de Francine subiu sobre a algazarra do refeitório. — Ei, Julieta. Julieta!

Arregalei os olhos ao virar a cabeça.

Meus amigos me encaravam, todos os olhos arregalados e exalando preocupação, ombros tensos e lábios franzidos. Os olhos de Romeu estavam mais escuros que o normal, beirando ao preto, e suas sobrancelhas estavam franzidas enquanto os olhos me acompanhavam. Parecia estar tentando me ler, e, sem dúvidas, conseguindo. Ele sempre conseguia.

— Minha cabeça está doendo. — confessei, aceitando a mão de Romeu para sentar ao seu lado.

¿entendiste lo que pasó? — Nick murmurou para Francine.

— Não. — Francine e eu respondemos em uníssono.

— Continuo sem entender. Acho que Savanah disse outro nome e tivemos uma alucinação coletiva. — minha amiga afirmou.

Eu tinha os olhos fixos na mesa. A mão de Romeu pousava em minha coxa, mas ele permanecia em silêncio, esperando o momento certo para falar.

Não consegui convencer meus amigos a ficarem na escola. Em alguns minutos, Romeu, Nicholas, Francine e eu estávamos pegando um ônibus que atravessaria a cidade em consideráveis vinte e poucos minutos para chegar até a prisão.

Agora, tudo isso parecia ter acontecido a dias atrás, quando acontecera a poucos minutos.

Eu estava separada de meu irmão mais velho por um maldito vidro. Ambos segurávamos aparelhos de telefone grudados aos ouvidos, tentando sustentar nossos próprios olhos e organizar nossas ideias na mesma sintonia, com o mesmo volume.

Lorenzo parecia extremamente cansado. Vestia uma camisa branca e uma calça de moletom, ambas seguindo um triste padrão entre os homens sentados ao seu lado. Os olhos acinzentados não emitiam muita vida, voltados para baixo, pesando sobre olheiras fundas. Não estava ali a tanto tempo, mas conhecendo meu irmão, poderia estar chorando segundos antes de vir me ver.

Minha única decepção era não poder tocá-lo. Sabia que Lorenzo não era culpado, não precisava de provas para ter certeza. Ele não estaria envolvido em nada que não fosse proteger a família. O que teria acontecido?

Sabia que James Flynn não hesitaria em ferrar comigo. Mas até que ponto ele iria?

— Lorenzo... Lorenzo, o que aconteceu? — perguntei, abaixando a voz.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora