XXXV - O vestido, a madrugada e a carta

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Recebi um e-mail inesperado antes de chegar em casa.

jeanjacquesstudio@gmail.com
olá, querida Julieta, espero que se lembre de mim! Trago a notícia de que seu modelo acaba de ficar pronto e a convido para a última prova e os ajustes! Venha logo e não traga o Romeu, ficaria feliz em surpreende-lo.
                    Com carinho, Jean Jacques, não o Rousseau.

A primeira coisa que pensei foi: Não é possível que Jacques se chame Jean Jacques.

Em seguida, decidi que iria até Jacques. O que quer que saísse de lá, seria magnífico, e eu não me prestaria ao orgulho de desperdiça-lo. E Jean Jacques, não o Rousseau, lera meus pensamentos de que não era um bom momento para conversar com Romeu.

No ônibus a caminho para o outro lado da cidade, respondi o e-mail de Jacques e imediatamente me senti culpada por brigar com Romeu e ainda mais por não contar a ele onde estava indo. Quase precisei me morder para não mandar mensagem, mas consegui enfiar o celular no bolso e deixa-lo lá por todo o caminho.

Toquei a campainha de Jean Jacques, não o Rousseau, e esperei por pouco tempo. Mal pisquei e o homem já estava na porta, com um gigantesco sorriso no rosto. Agora suas tranças estavam cor de rosa e ele usava uma camisa branca que ia até as coxas, combinando com uma calça jeans rosa bebê.

— Eu esperei por você! — Jacques se pendurou na porta, olhando para ambos os lados, procurando por alguém. — Ele não veio, certo?

— Estou sozinha, não se preocupe.

— Melhor assim. Venha, entre logo.

Jacques deu espaço para que eu entrasse. A sala ainda era capaz de abrigar minha casa e não sei porque isso me surpreendia. Surpreenderia sempre que eu entrasse lá, na verdade. O tapete permanecia tão limpo e delicado que me perguntei se poderia ser pisado por meros pés mortais.

O lugar estava diferente e logo compreendi o porquê. Estava repleto de caixas, grandes e pequenas, espalhadas por toda a sala. Todas as caixas estavam gravadas, em letras douradas, com o nome Jacques. Poucas que se encontravam abertas revelavam vestidos e peças que pareciam extremamente caras.

— Pare de ser enxerida. — Jacques me acertou um peteleco nada sutil. — O seu está lá em cima!

Resmunguei, afagando minha testa.

— Espere aqui. Se for pisar no tapete, tire os sapatos. — Jacques piscou antes de disparar para o andar superior.

Chutei os tênis para um canto, temendo que pusessem em risco a impecável organização de Jacques. Sentei sobre seu tapete e me joguei para trás, apoiando as costas no tapete que parecia melhor que muitas camas por aí. Estiquei os pés para cima e admirei minhas meias de arco-íris.

Refleti sobre a vida enquanto encarava meus próprios pés até Jacques descer as escadas. Ele me lançou um olhar indagador, até intrigado, como se avaliasse seu mais novo modelo que estava do avesso. Acho que me sentia assim.

Jacques segurava uma caixa nos braços e a repousou sobre o sofá quando desceu para a sala. Fez um gesto com a cabeça para que eu sentasse e deu uma leve palmada sobre a caixa, gesticulando com as sobrancelhas. Estava ansioso como nunca.

— Você precisa ver!

Ajoelhei e me estiquei sobre a caixa, fazendo menção de abri-la. Jacques me acertou um tapa na mão.

— Qual é o seu problema?! — grunhi.

— Devagar, mocinha. — Jacques sorriu, nem um pouco ofendido. — Precisamos de emoção.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora