XXXXI - Uma história sobre amor

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Queridos leitores, esse é o último capítulo de Até breve, Romeu. Agradeço a todos que participaram de algum jeito dessa história. Espero que gostem! 





Algumas decisões são tão pesadas que nos fazem acreditar que não seremos capazes de sustentar suas toneladas.

Foi assim que me senti ao erguer a cabeça para encarar o prédio em que Romeu morava. Parada na calçada e com a mão no bolso em que a carta parecia vibrar, segurando o pedaço de papel com força, ignorando os amassados.

Meu rosto assumiu uma careta contrariada. Eu tinha uma parcela de culpa naquela situação. Quando Romeu Javadd deixou seu lugar de personagem em um livro para assumir um lugar em minha vida, deixei a situação acontecer. Cruzei os braços, me convencendo de que havia tentado muito, e assisti a história crescer.

E agora, eu precisava arcar com as consequências dessa decisão.

O prédio de Romeu não era um muquifo como o de Merle. Eu não precisava subir centenas de degraus sob um calor escaldante, podia apenas esperar o elevador, e tornar aquilo tudo mais rápido. Não sabia se mais fácil ou mais difícil.

Bati na porta de Romeu e esperei. Aqueles poucos segundos se arrastaram feito anos e temi que ele jamais abriria a porta.

Romeu surgiu como sempre, aquele rosto familiar com a barba por fazer, vestindo um novo pijama de um novo filme de super-heróis. Ele abriu um sorriso sincero, olhos pesados de sono, e se inclinou para me beijar na testa. Não devia ter dormido ainda, assim como eu.

— Você não vai entrar? — Romeu perguntou.

Fiz que não com a cabeça.

O garoto pareceu curioso. Ele uniu as sobrancelhas, a testa franzida em confusão.

Levei a mão ao bolso e tirei a carta. O papel estava um pouco amassado e murcho, como se estivesse meio magoado. Com o braço firme, estendi a mão aberta para Romeu, fazendo um gesto com a cabeça para que ele pegasse a carta.

— Eu... Eu preciso ir. — minha voz falhou.

Para minha surpresa, Romeu abriu um sorriso. Não era inteiramente feliz, e sim compreensível, uma luz de gentileza acesa no canto superior dos lábios. Ele acenou com a cabeça.

— Você veio se despedir. — Romeu concluiu.

Não neguei nem concordei. Permaneci encarando Romeu, em silêncio profundo, sem nenhuma coragem de assumir que estava me despedindo em voz alta. Também não me sentia valente o suficiente para dizer adeus e apenas virar as costas e descer de volta para uma vida onde Romeu não existia mais. Como poderia pular todo esse caminho?

Ergui as sobrancelhas, ensaiando algumas palavras, mas voltando à estaca zero com uma careta e lábios franzidos. Sabia que assim que saísse dali, nunca mais o veria.

— Não sei o que dizer agora. — admiti.

— Isso é inusitado, criadora. — Romeu comentou, deixando uma gargalhada escapar.

Rolei os olhos para o alto.

— Dizer adeus é estranho. — Prossegui. Romeu concordou, coçando a sobrancelha distraidamente. — Para ser honesta, não sei como me despedir de você.

— Pode dizer até breve. — Ele sugeriu.

— Romeu...

Romeu não estava mais sorrindo, mas também não tinha um semblante sério. Seus olhos escuros estavam brilhando, voltados para meu rosto, estudando minha expressão como eu estudava a sua. Precisava admitir que doía um pouco ver Romeu entendendo tudo e concordando que era o certo a se fazer. Parte de mim queria que ele se rebelasse para que eu tivesse uma desculpa minimamente decente para rasgar a carta.

Até breve, Romeu Onde histórias criam vida. Descubra agora