O céu estava nublado sobre o campo de lacrosse do colégio Sant Marie, como um amargo aviso que concordava com a pressão imposta aos garotos pelo treinador –e por quase toda a escola–. A temporada estava prestes a ter início e todo aluno era envolvido, ou direta, ou indiretamente.Não haviam muitas pessoas assistindo hoje, arriscaria eu que pela eminente chance de chuva rondando a cidade. Os garotos estavam divididos em grupos: alguns corriam pelo campo, outros treinavam os passes a alguns outros até mesmo apontavam os tacos entre si em um singelo sinal de ameaça. O clima não estava melhorando, muito pelo contrário.
Gostaria de acompanhar o treino de Francine, mas a treinadora do time de vôlei andava com os nervos à flor da pele e proibira qualquer ser vivo que não soubesse sacar, fazer uma bela manchete ou detonar adversários com pontos avassaladores.
Eu não sabia fazer nada disso. Definitivamente, estava fora da lista da treinadora e não poderia ficar nem para servir água as garotas.
Em alguns momentos, como esse, me amaldiçoava por não ter inscrito meu nome em sequer um dos esportes extracurriculares oferecidos pelo colégio. Quem sabe se não teria uma oportunidade de bolsa em uma boa faculdade?
Por enquanto, contava apenas com meu currículo –que não era grande coisa, mas teria de servir– e com minha escrita. Esperava que alguma faculdade notasse meu potencial. Isso, eu sabia, não podia ser ignorado.
– Bom dia, flor do dia.
Arregalei os olhos, pulando com o susto. O suor frio percorreu meu corpo quando meus tênis surrados escorregaram no degrau úmido da arquibancada, quase me levando para uma queda catastrófica e inesquecível.
Diana estava sentada ao meu lado, elegante em roupas esportivas, passando um ar de mulher poderosa e bem-sucedida verificando como a filha estava antes de assistir um jogo de basquete. Segurava um saco de pipoca e observava os garotos no campo com um semblante divertido, beirando entre desdenhoso e satisfeito.
– Não sabia que todos eram tão bonitos assim. – seu nariz se contorceu em uma careta. – Bem, quase todos.
– Saberia se tivesse entrado comigo, e não me empurrado. – retruquei.
– Eu tinha essa opção? – Diana arregalou os olhos em minha direção, fingindo espanto.
Lhe lancei um olhar cético que não passou nem perto de abalar o bom humor de Diana.
– Todos estão vendo a pipoca flutuar no ar? – inclinei a cabeça, confusa.
– Posso aparecer só para você, acha mesmo que não sei fazer uma pipoca ficar invisível? – Diana perguntou, revirando os olhos logo em seguida.
Rolei os olhos, impaciente. Queria poder controlar Diana como um bonequinho, e fazê-la sumir. Mas se não tenho ideia de como ela aparece, nem sonhava em como surtir o efeito contrário.
Foquei os olhos no campo e contive o impulso de prender a respiração.
Romeu estava franzindo o nariz para alguma tagarelice de Flynn, que gesticulava sem parar. Era capaz de enxergar os miolos de Romeu em um carrossel dentro de seu cérebro, cantarolando sem parar em fila indiana e ignorando absolutamente tudo que o outro falava.
O apito do treinador ecoou por todo o campo e Romeu arregalou os olhos, tocando o braço de Flynn e exibindo um sorriso com alguma desculpa comprada. Bateu brevemente no ombro do capitão do time e disparou para o vestiário como um garoto do ensino fundamental ansioso para chegar em casa e assistir desenhos antes de almoçar.
Abri um sorriso que rompeu as barreiras da contradição. Algumas coisas, como ver alguém tratando Flynn como o imbecil que ele é, são capazes de alegrar meu dia com extrema facilidade.
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Até breve, Romeu
RomanceJulieta De Angelis é uma jovem escritora italiana que teve um ano difícil. Após vencer a adaptação à um novo país, atolou-se com o trabalho e reprovou no ano da formatura. Seu livro Até breve, Romeu rodou o mundo das plataformas online com tamanho...