Destinos que se cruzam
Com o passar dos dias, Pecos foi melhorando. Como não se recordava do nome,
apelidaram-no de Morat. Alimentava-se melhor estava em franca
convalescença. Contudo, continuava angustiado. Sentia dentro de si aquela
vontade cada vez mais viva de ir a alguma parte, mas onde? Torturava-se
constantemente, procurando voltar ao passado sem conseguir. A bondosa Tarsa
compreendia o drama íntimo daquele homem e tudo fazia para auxiliá-lo a
adaptar-se à sua situação atual. Ele era-lhe infinitamente agradecido pela
generosa acolhida. Contudo, esperava Samir ansiosamente, pois sentia grande
calma e bem-estar em sua presença.
É que Tarsa agasalhara e protegera seu corpo, mas Samir, além de curar o
corpo, iluminara-lhe o espírito. Naqueles momentos de incerteza, ele
representava apoio, segurança. Confiava-lhe seus íntimos receios como a um pai
extremoso. Esperava com alegria sua palavra serena e sábia.
Um dia, após sua chegada, Samir deliberou fazer com que Pecos se sentasse no
leito e, apesar de sua fraqueza extrema, conseguiu. Estava salvo!
À medida, porém, que ele se restabelecia, outros problemas surgiram com
referência a seu meio de vida, seu futuro e mesmo seu destino. Ele sabia que
Tarsa era pobre, lutava com dificuldade para mantê-lo.
Sabia ser ele de origem egípcia, pois que suas maneiras e linguagem eram
peculiares àquele povo. Deveria certamente ter amigos, família, talvez
esperando pelo seu regresso. Mas como descobrir?
O tempo foi passando. Um ano depois de ser recolhido por Tarsa, Pecos, agora
com o nome de Morat, ainda morava com ela.
Restabelecido completamente, mudara de aspecto, emagrecera, envelhecera.
Perdera a postura altiva, havia um brilho de mágoa e insegurança em seu olhar.
No rosto, pequenas cicatrizes revelavam as lutas pelas quais passara. Desde que
se levantara, cuidara de trabalhar, a fim de não tornar-se pesado à pobreza de
Tarsa. Poucos reconheceriam em Morat a figura altaneira e orgulhosa do
guerreiro Pecos.
Ele não sabia fazer coisa alguma, não se recordava da sua profissão. Viase que
não fora lavrador, pois que desconhecia completamente esse gênero de trabalho.A princípio, desanimara e pensara deixar a vila em busca de uma pista sobre o
passado. Samir, com bondosa paciência, lhe mostrara a insensatez de tal
aventura, aconselhando-o a permanecer em companhia de Tarsa até que
estivesse completamente restabelecido.
Samir, após esta palestra com Morat, instruíra Tarsa no sentido de proporcionar
algo que fazer ao enfermo, pois que a ociosidade, sempre perniciosa, era naquele
caso verdadeiramente desastrosa.
Cabia a Tarsa o dever de ensinar-lhe discretamente pequenos serviços na
lavoura. Para não melindrá-lo, ela deveria deixar transparecer a necessidade do
seu auxílio.
Isto despertaria nele o interesse pelo trabalho, libertando-o do seu angustioso
estado íntimo. Era evidente que ele sentia-se embaraçado de viver ocioso,
estando em boas condições físicas, sabendo a luta em que Tarsa sempre se
empenhava para arranjar-lhe o sustento.
Este plano deu bons resultados, e ele acabou habituando-se àquela vida, não mais
pensando em ir-se embora. Para Tarsa, que perdera seu filho único, era uma
verdadeira alegria a companhia de Morat.
Agora ela possuía novamente alguém para cuidar. Chegava mesmo a chamá-lo
constantemente de “meu filho”, esquecendo-se de que não lhe conhecia sequer a
origem.
Os habitantes da aldeia aos poucos habituaram-se com a presença daquele
desconhecido e, passado certo tempo, ninguém mais encontrava prazer em
comentar sua estranha história.
Muitos até puseram de lado suas superstições e desconfiança, passando a tratá-lo
cordialmente. Ele, porém, apesar de cortês, era arredio e pouco comunicativo.
As únicas pessoas que de fato lhe despertaram estima e para as quais não tinha
segredos eram Tarsa e Samir. Havia algo na pessoa do velho sábio que o
empolgava. Sempre o recebia com infinito prazer. Era uma bela manhã, Morat
preparava-se com alegria. Ele e Tarsa iriam à
casa de Samir. Fazia já alguns dias que não o viam e, indagando, souberam que
ele encontrava-se ligeiramente enfermo.
Alegre, chamou por Tarsa, que já pronta, terminava a arrumação de um cesto de
magníficas frutas. Sorrindo, ela disse:
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O Amor Venceu
SpiritualLivro de 1958 Esta obra conta uma história que se passa na cidade de Tebas, no Egito antigo. Narra a dor do amor impossível entre dois casais, que buscam resgatar a sua verdadeira existência. Fundamentado nas leis da reencarnação, procura explicar o...