CAPÍTULO XIII

623 32 2
                                    

A trama da vida

Enquanto a vida, mensageira direta do bem e do mal, se encarregara de dar a


cada um segundo as suas obras, unindo o destino de Pecos a Nalim,


entrechocando-lhes os sentimentos na intenção de sensibilizá-los, voltemos a


Tebas, a magnífica cidade ainda no apogeu de sua glória, retrocedendo alguns


dias o relógio do tempo, a fim de conhecermos pormenores interessantes,


relacionados com os nossos personagens.


Jasar é agora marido da orgulhosa Otias. A princípio, aguardara ansiosamente


notícias do irmão, como única esperança de libertar-se do indesejado


compromisso. Como nada soubera, fora forçado a cumprir sua promessa.


Ele estimava-a. Bondoso por índole, procurava ser um esposo amigo e carinhoso,


mas Otias ambicionava muito mais. Vaidosa, mimada como era, queria vê-lo


apaixonado e submisso, obediente a todos os seus caprichos. Ele, com sua


nobreza de sentimentos, fazia o possível para conviver bem, porém ela nunca


estava satisfeita. Os dois não eram felizes. Otias adorava a vida mundana e vivia


constantemente rodeada de admiradores. Jasar, homem de pensamento e


elevação espiritual, não se interessava por esses acontecimentos, no que era


censurado pela esposa. Ela tinha ciúmes. Parecia-lhe que aquele amor pelo


repouso, pela solidão, pelas longas excursões que ele realizava, nada mais eram


do que pretextos para afastar-se do seu convívio.


Havia algo de superior nele, qualquer coisa de inatingível que ela não podia


alcançar e que a irritava. Então, nessas ocasiões, ela derramava sobre ele toda a


torrente de impropérios para forçá-lo a uma atitude mais emotiva. Mas ele


jamais se alterava, procurando chamá-la à razão com calma e paciência,


tentando reconduzi-la ao bom senso. Nos últimos tempos, Otias tratava o marido


com ironia e desdém, procurando dissimular o despeito por não conseguir


dominá-lo.


Na verdade, nada é mais desagradável do que a convivência de pessoas que não


têm afinidade. Forçadas a viver juntas, suas almas estão separadas. Seus anseios


são diferentes. Não há prazer, só desconforto e insatisfação. Não há


harmonia nem paz.


Tudo concorria para a grandeza daquele lar: a posição de fortuna, os dois jovens


e sadios e a existência do pequeno Matur, filho do casal. Aparentemente tinham tudo, mas não se compreendiam.


Otias não conhecia o marido. Enciumava-se facilmente, promovendo pequenos


escândalos. Jasar sofria. Apesar de todo o seu esforço para dominar-se, sentia


um amor cada vez maior por Solimar.

O Amor VenceuOnde histórias criam vida. Descubra agora