10: Melissa

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   Ouço vozes baixas, quase inaudíveis.

   Abro os olhos devagar e minha visão está turva. Minha memoria falhava e imagens embaralhavam-se em minha mente. Tudo parecia explodir dentro de mim. Tudo dói, a cabeça, a coluna, a costela, o braço e sinto minha boca arder quando passo a língua pelos meus lábios. Dói, tudo dói. Minha garganta está seca. Junto todas as minhas forças que tenho no presente momento e digo:

- Oi.

Tento me sentar, mas não consigo. A dor tomou meu corpo.

- Gatinha, você está bem? – Zayn segura minha mão.

Seus olhos estão vermelhos e olheiras estão embaixo dos olhos. Seus cabelos estão bagunçados e ele está com a barba por fazer. Sua roupa parece suja e seus dedos estão com feridas ainda cicatrizando. Sua boca rosada tem um fino corte. Zayn é a verdadeira imagem do sofrimento e isso corta meu coração.

- Sim. – respondo baixinho

- Eu fiquei muito abalado quando você viu aquela cena... Grotesca. E então corri atrás de você. – ele fala – Daí, quando vi aquele infeliz te chutando como se você fosse um monte de merda eu parti para cima.

- Quanto tempo fiquei apagada? – pergunto

- quatro dias – ele olha o relógio no pulso – e meio. Levando em conta que já são três e quarenta da tarde.

- Obrigado por me salvar. – digo – Mesmo não me conhecendo direito.

- Sinto que já te conheço há muito tempo.

- Que bom. – mas eu não.

- Está com fome, sede ou algo do tipo?

- Não. Só quero dormir um pouco.

- Mais? – ele encrespa a sobrancelha – Você está dormindo há tanto tempo.

- Eu disse dormir, não apagar. – dou de ombros – Há uma grande diferença entre os dois.

- Certo. – ele enfia as mãos nos bolsos laterais da calça jeans – Esperei quatro dias, o que será apenas algumas horas?

Dou um sorriso fraco para ele e fecho os olhos tentando, em vão, dormir.

Um policial de baixa estatura e um expeço bigode me interroga. É difícil responder a enxurradas de perguntas com a dor de cabeça infernal que sinto.

- Então a senhorita vai prestar queixa? – ele pergunta

- Obvio que sim. – respondo – Aquele maluco merece ser preso por agressão física e tentativa de estupro. – rosno cheia de raiva – Ele merece apodrecer na cadeia. Ou até coisa pior.

Ele anui com a cabeça e se retira do quarto hospitalar.

- Você fez certo em prestar queixa contra aquele homem. – Zayn fala – Você impediu que ele violentasse outra mulher.

- É. – digo, sendo o mais ríspida que consigo.

- Você está bem mesmo?

- Sim.

- Logo, logo você será liberada. Ouvi dizer que hoje a tardinha talvez...

- Legal.

- O que você acha de tomar um cafezinho comigo amanhã? – ele pergunta quase uma suplica, e em seus olhos vejo uma rápida sombra passar.

- Talvez...

Ele abre um sorriso que, eu confesso, é lindo deixando a mostra covinhas na bochecha.

- Meu dia melhorou agora.

- Que bom. – respondo

Cenas dele deitado nu com duas mulheres surgem em minha mente fazendo a dor de cabeça voltar com força total.

Louco por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora