25 : Melissa

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   Os dias seguintes passaram em flashes rápidos e borrões. A tristeza fez meu corpo entrar em torpor. O mais doloroso deles. Graças a Deus, Zayn cuidou de tudo. Reconhecer o corpo foi, sem sombras de dúvidas, a parte mais difícil e dolorosa. Contar a Cassie também não foi nada fácil. O enterro é hoje. Não estou preparada, mas duvido muito que estaria algum dia. Zayn tem sido um anjo da guarda. Ele que cuidou de tudo desde que descobri a morte da minha mãe. Recebi, um dia depois da liberação do corpo, um e-mail do hospital com o resultado da autopsia. Lá dizia que arranhões foram encontrados no corpo e um veneno raríssimo corria em suas veias. Ela chegou ao hospital com vida, mas em poucos minutos morreu. Chorei muito ao ler o e-mail e, sorte a minha, ter Zayn ao meu lado me ajudou bastante.

O enterro foi rápido e não havia muitas pessoas no cemitério. Meus parentes maternos estavam todos mortos e meus paternos eu nem conhecia. Então foi somente eu, Zayn, Clarissa, Harry, Dante, Ethan e seus pais.

- Sinto muito. – sussurrou Clarissa ao abraçar-me.

- Obrigada. – respondo enquanto seguro o choro.

- Meus pêsames. – diz Harry ao me dar um abraço rápido e desajeitado.

- Valeu.

- Seja forte, gatinha. – diz Zayn, baixinho, e segura minha mão passando a força que preciso no momento. – Vamos passar por tudo isso, Melissa. Juntos.

Nunca fui religiosa. Apenas acredito em Deus e olhe lá, mas fiz questão do Reverendo John fazer um culto fúnebre. Quando o caixão desceu meus joelhos trêmulos cederam e eu caio de joelhos. Chorei, chorei, chorei até não aguentar mais. Zayn ergueu-me do chão, com muita calma e ternura, e me acolheu em seus braços enquanto soluçava vergonhosamente em seu peito, molhando sua roupa negra com minhas lágrimas. Ele esteve o tempo todo ao meu lado nesse momento difícil e doloroso, como havia me prometido. Zayn beijou o topo da minha cabeça e abraçou-me quando começaram a jogar terra no buraco. Chorei mais um bocado. O dia continuou cinza como sempre, assim como o meu coração...

Dois dias depois os agentes sociais levaram Cassie para morar com uns tios em Londres que eu nem sabia da existência. Foi melhor assim, apesar de ter me deixado ainda mais triste, ela agora não comeria ovos mexidos com um copo de leite no jantar. Ainda me lembro de cada palavra que ela disse...

- Eu nunca mais vou te ver? – indagou minha abelhinha com os olhos cheios de medo.

- Claro que vai, Cassie. – digo apertando seus ombros, rezando para não chorar.

- Você não me ama mais?

- Eu te amo hoje e para sempre.

- Então por que você está me mandando embora?

- Para o seu bem, querida. – digo engolindo o nó que se formou em minha garganta.

Não chora, não chora, não chora.

Repito mentalmente. Tudo que Cassie não precisa agora é de uma irmã mais velha chorona e fraca.

- Iremos te ver sempre que pudermos ou quando você quiser... – fala Zayn de um jeito suave, vindo ao meu socorro.

- Vocês prometem?

- Sim. – respondo sem pestanejar.

- Eu te amo, Mel. – ela diz jogando os bracinhos pequenos e finos ao redor do meu pescoço.

Solto um suspiro e permito que uma lágrima solitária e silenciosa escorra em minha bochecha ao dizer, baixinho, em seu ouvido:

- Eu também te amo, abelhinha. E sempre vou te amar.

E então os homens de pretos a levaram para longe de mim...

Fiquei deitada por dias sem comer ou beber nada. Eu só queria chorar. Zayn esteve ao meu lado o tempo todo e isso foi à única coisa que manteve meus pés no chão. A minha válvula de escapa, o meu porto seguro, meu balsamo... O meu namorado.

Acordo e ele não está ao meu lado. Fico assustada. Mas, ao virar-me, vejo um bilhete com a caligrafia meio feia dele.

"Saí para comprar mantimentos, volto logo. Beijos, Zayn."

Fecho os olhos querendo dormir, mas algo faz um barulho no andar de baixo e, temerosa, digo:

- Zayn, é você?

Não obtenho resposta. Pergunto mais uma vez e o barulho para.

Engulo em seco e desço os degraus lentamente. Não há ninguém a vista. Vou até a sala, o banheiro e quando chego até a cozinha, sinto meu sangue gelar e o meu coração galopar em meu peito. O vaso com flores murchas está quebrado no chão, a pequena mesa está de virada para baixo. Em vermelho sangue, na parede clara da cozinha, está escrito em letras maiúsculas.

"SUA MÃE FOI A PRIMEIRA, SUA IRMÃ SERÁ A PROXIMA."

Meus olhos se enchem de lágrimas e sinto um nó se formar em minha garganta.

- Quem será que fez isso? - Penso alto.

Como se fosse uma deixa, o mesmo homem alto mas, dessa vez, sem o aspecto sujo surge em meu campo de visão.

- Você achou que eu não iria vir atrás de você, queridinha? – indaga ele com deboche.

Meu coração bate forte em meu peito, meu coro cabeludo coça, minha visão está turvada pelas lágrimas e meu sangue ressoa alto em meus tímpanos.

Puta que pariu!

Há um corte em cicatrização no seu supercílio e outro em sua boca. Ele está mais limpo do que a última vez que eu o vi. É ele, tenho certeza. O mesmo homem que tentou abusar de mim naquele beco. Ele saca uma arma e sorri ao mirar em minha direção.

Ele está de volta!

Louco por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora