14: Melissa

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    Não sou fã de automóveis, mas sei que uma Ducanti pode andar muito mais rápido do que a velocidade de lesma que Zayn veio até o restaurante. Toda vez que eu perguntava se ele estava no limite das estradas, ele mentia dizendo:

- Estou quase ultrapassando o limite. – e murmurava algo inteligível.

Ele me leva a um restaurante pequeno, porém, bastante sofisticado.

Mesas cobertas por toalhas de linho branco estão espalhadas pelo local e cadeiras de uma madeira escura faz companhia às mesas. Algumas velas enfeitam as mesas, dando um charme romântico ao lugar. Uma melodia doce e constante ecoa no volume certo, a pouca iluminação do ambiente faz tudo parecer um set de gravação de algum filme de romance bobo e clichê.

- É por aqui, senhores. – diz uma mulher alta, loira e com terninho – Mostrarei os seus lugares.

Nós a seguimos e sentamos em uma mesa bem no meio do restaurante.

- Já sabem o que vão pedir? – pergunta, gentilmente, o garçom.

- Um filé ao ponto e legumes cozidos... – Zayn encara-me – certo?

Uau, Zayn é um telepata nato!

Como ele sabia que eu amava legumes cozidos e filé?

- E o que vão querer para beber?

- Humm... O vinho mais caro que vocês tiverem. – e volta sua atenção para mim.

- Zayn, por favor, não é preciso gastar tanto comigo! – exclamo quando o garçom deixa a gente só.

Ele revira os olhos com desdém e deixa um sorriso lhe escapar.

- Em primeiro lugar, gatinha, eu tenho muito dinheiro. Muito mesmo. E em segundo, o dinheiro é meu e eu decido o que fazer com ele, e, se for do meu desejo, comprar o vinho mais caro do restaurante eu o faço.

- Mas nem sempre o mais caro é o mais saboroso. – alfineto.

Ele abre a boca para dizer algo, mas muda de ideia e permanece calado. Mil e uma emoções passam por seu rosto e eu fico o encarando, pensativa, tentando decifrar o que Zayn está sentindo. Ele não é um livro aberto, está longe disso, é um baú trancado e perdido no oceano de segredos.

- Qual é a sua cor favorita? – ele me pergunta.

- Verde. – respondo.

- E o que você faz nos tempos livres?

- Leio livros.

- Humm... Interessante... Qual é o seu livro favorito?

- Acho que Jane Eyre ou Orgulho & Preconceito. – respondo, mordiscando o lábio inferior. - Bom, acho que, na verdade, adoro O Morro dos Ventos Uivantes. A história de amor conturbada deles me fascina.

- Austen e Brontë? – ele diz visivelmente surpreso – Ambas romancistas. Diga-me você acredita em romance? Em amor?

Sinto meu rosto corar e meu coro cabeludo pinicar. Uau, ele sabe fazer as perguntas certas! Sento-me corretamente e respondo, mirando os seus olhos cor de mel:

- Ah, sei lá. – dou de ombros – Não custa nada sonhar, né?

- Sonhar com o que exatamente?

- Bom, que o amor um dia chega para todos e que eu também irei o encontrar, acho.

- Interessante esse seu ponto de vista.

- Você já se apaixonou por alguém? – ele indaga, tenso.

Sim! Meu consciente grita alto. Você, você, você!

Apenas afirmo com a cabeça.

- E que fim teve?

- O quê?

- Esse seu romance, que fim levou?

- Eu o idolatrava, sabe? Faria de tudo para vê-lo feliz. Mas descobri que ele estava a mil anos luz de ser o que sonhei que seria.

- Faz muito tempo? Digo, faz muito tempo que você se apaixonou?

- Foi há três anos. – eu o encaro e sinto algo engraçado em meu estomago, o engraçado era que eu não me lembrava de ter comido borboletas no café da manhã – E o pior – continuo a falar -, é que eu continuo apaixonada por ele.

Zayn faz uma expressão de tristeza com derrota.

- Que sortudo esse cara. – ele murmura baixinho e finjo não ouvir.

- Bem, se te conforma – digo com humor -, é que ele ao menos sabe que o amo.

- Ah é?

- É.

- Hum... Interessante.

Nossa comida chega e nós comemos, olhando um para o outro de vez em quando, em silêncio.

Louco por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora