•Capítulo 1•

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Eu não quero nenhum corpo
Eu não quero ninguém, meu bem
Exceto você
Há algo sobre seu corpo
Que me deixa pensando em ninguém
Exceto você
-

Your body (Cat Dealers)


Naquela manhã de sexta, acordei decidida a ir correr, começar a fazer exercícios físicos e assim tentar melhorar minha saúde.

Sentada na cama, terminei de calçar meus tênis, levantei, vi meu reflexo no espelho e percebi que realmente eu estava precisando emagrecer, prendi meus cabelos cacheados em um rabo de cavalo, saí do quarto com meu celular e headphone na mão.

Me despedi da minha amiga, que estava sentada na sala mexendo no celular que até ficou surpresa por estar com vestimentas esportivas pronta para me exercitar, me desejou um boa sorte quando eu passava pela porta de entrada do nosso apartamento.

Desci as escadas no pique, coloquei Cat Dealers - Your Body para tocar e de primeiro comecei a caminhar com passos rápidos, pela rua perto da onde morava, a música transmitida pelos meus fones me deixou mais empolgada ainda, então aumentei a velocidade, dando assim início a corrida.

Devia ser umas dez e pouco da manhã, o sol de San Diego não estava forte, na estação de outono, não tinha muitas pessoas na rua, nem na orla da praia, onde achei melhor ir.

Olhei para o mar, para os passarinhos que estavam pousados na areia e depois voavam, ficando distraída e sem perceber sinto uma leve pancada, no que parecia ser alguém, indo direto ao chão.

Caída, encarei o moço na minha frente, com a mão estendida para me ajudar a se levantar:

—É...desculpa—falei sem graça, pegando na tua mão para ficar em pé.

—Não, relaxa...—o mesmo respondeu me olhando de cima a baixo.

Ele usava óculos escuros, jaqueta preta, calça e blusa da mesma cor, havia tatuagens pelo pescoço e uma ou duas pequenas em teu rosto, uma boca carnuda, um sorriso malicioso.

Me afastei por estar muito perto, o homem era bonito, mas eu não sei o porquê senti algo ruim sobre ele, não parecia ser confiável.

Dei um sorriso, me desculpei mais uma vez e voltei a correr, dava para sentir teu olhar queimando em mim, só acelerei, fingindo estar de boa e fui para o mais longe que consegui dali, corri até uma padaria próxima ao local, tirei os fones ao entrar.

Fui em um freezer, peguei uma garrafinha de água e duas barrinhas de cereais, paguei tudo no caixa com um atendente super simpático, saindo da loja vi que meu smartphone marcava ser umas onze e meia da manhã, estava na hora de voltar para casa.

Me sentei em um banco que havia do lado da padaria para descansar, minha amiga me mandou uma mensagem dizendo que iria sair e deixaria a chave com o porteiro, respondi a mesma e voltei a caminhar.

Alguma coisa naquele dia me dizia que algo ruim iria acontecer, fiquei meio desesperada, liguei para os meus pais para saber como estavam:

—Alô?—falei ao atenderem.

—Oi, filha.Tudo bem?—ouvi a voz calma do meu pai, me deixando mais tranquila.

—Sim e aí?Como estão as coisas?—respondi.

—Aqui está tudo bem, sua prima irá casar daqui quatro meses, seu irmão Marcos conseguiu um emprego num supermercado, seus outros irmãos tão tudo bem na escola e sua mãe está cada vez fazendo mais sucesso com seu salão e como está aí?O trabalho, a faculdade?—ele perguntou animado.

—Nossa, que coisa boa, diz para a Gabriela que infelizmente não consegui férias para ir e manda beijo para todos aí.Tá tudo bem aqui também, hoje estou de folga, consegui entregar os trabalhos a tempo...

—Que bom, heim, filha?Meu amor, vou ter que levar suas irmãs no balé agora, depois a gente se fala mais.Te amo muito, estou com saudades e cuidado.

—Tá bom, pai.Vai lá, também te amo, estou com saudades, manda um oi para elas, até mais—finalizei a ligação muito mais calma por saber que eles estavam todos bem.

Porém ainda sentia, tentei ignorar, entrando no meu prédio, peguei a chaves com o porteiro e subi de elevador.

Entrei em casa, fui direto para meu quarto que estranhamente estava com a janela aberta, fazendo um vento gelado entrar, fechei a mesma, tirando os meus tênis e toda a roupa para tomar um banho, me enrolei numa toalha, coloquei para tocar música no som da sala por bluetooth e entrei no chuveiro.

Pensei em como estava sendo minha vida ali, em outro país, longe da minha família, uma coisa que quando mais nova nunca imaginaria, no emprego que consegui pelo meu curso da universidade em que estudava, nas amizades que fiz e nas coisas novas que conheci aqui.

Esfregando o cabelo e deixando de lado esses pensamentos, cantarolava a música, esquecendo aquela sensação nada boa, focando apenas no que eu teria de fazer hoje, como ir ao centro.

Saí do banho, com uma toalha no cabelo e outra no corpo, vesti uma calça jeans preta com rasgos no joelho, um moletom cinza da Adidas, calcei meus vans old school preto, penteei o cabelo, deixando o mesmo solto, fiz uma maquiagem leve, peguei uma bolsa pequena com dinheiro, documentos, contas para pagar e meu celular e mais uma vez saí, deixei só a chaves com o porteiro novamente e caminhei em direção ao ponto de ônibus mais próximo.

Nesse caminho, tive que passar por uma rua sem movimento, onde havia alguns prédios abandonados, aonde sempre me dava um pouco de medo.

Apertei os passos, ouvindo um carro estacionando, nem olhei para trás, continuei meu caminho, uma porta de carro é aberta e pude perceber que tinha alguém andando atrás de mim, a sensação ruim voltou e tentei ser mais rápida.

—Não precisa correr, linda...—uma voz masculina rouca falou.

Sem pensar duas vezes corri e senti braços envolverem meu corpo com força por trás, tentei me soltar a todo custo, gritar, tudo em vão, o cara que me segurava parecia ser dez pela força.

Infelizmente não havia nenhuma alma viva naquela rua para me ajudar, facilitando ele me arrastar para seu carro, me jogando no banco de trás, onde havia mais dois homens que continuaram me segurando e arrancou com o automóvel.

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