Capítulo 3 - No se parece

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Para buscar a playlist no Spotify scaneie o QR CODE ou procure pelo nome: Te Quedaras - Vondy (por: cpocampos)

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"No se parece en nada. Ni a tu olor ni a tus besos. Ni al amor que me dabas. Y este frio que siento, no se parece en nada...".

Dulce Maria – No se parece


Odeio avião. Odeio quando ele decola, porque sei que depois que estiver lá em cima não posso fazer mais nada para me salvar, odeio o barulho irritante que fica na minha cabeça enquanto ele está voando, e odeio ainda mais estar em um avião sem ter ninguém para eu segurar na mão. Bom, tem o pessoal da produção, mas eu não ia apertar a mão do Luís demonstrando meu nervosismo a cada vez que sinto esse treco se balançar, seria estranho e ele pode pensar que sou mais doida do que aparento.

Quando eu estava no RBD, sempre me agarrava ao braço de alguém, fosse o da Anahí que reclamava toda as vezes dizendo que eu a apertava tanto que poderia quebra-la a qualquer momento, fosse a do Christian e Maite que faziam questão de me falar palavras suaves para me acalmar, mesmo quando eu os segurava tanto que eles podiam sequer se mover, fosse a do Poncho que me chamava de anã boba todas as vezes e tentava me distrair com algum tipo de jogo, mas que nunca adiantava.

Porém de todos, o único que conseguia me acalmar era Christopher, por mais que fizesse de tudo para me assustar, seja me balançando e dizendo que havia sido uma turbulência que fez seus braços tremerem daquela maneira, ou então me contando seus planos de como iria fazer para sobreviver em uma ilha deserta caso o avião chegasse a cair. Nunca adiantava eu pedir para ele parar de falar sobre isso, ele jamais me obedeceu, e por incrível que pareça, as suas bizarrices me distraiam e eu acabava esquecendo onde estava. No final de todas as viagens, logo que o avião pousava, ele sempre me olhava sorrindo e dizia: "Não vai ser dessa vez que eu vou te mostrar que sou melhor na selva do que o Tarzan".

Remexi-me na poltrona procurando uma posição que fosse mais confortável, aumentei o volume do ipod e tentei pela milésima vez dormir, a viagem até o México seria longa, e eu precisava de algo para me distrair, infelizmente contar carneirinhos para que o sono me alcançasse não estava adiantando. Tocava invierno do Reik, e eu amava essa música, comecei a cantar baixinho e a pensar como seria o reencontro com todos da banda, estava nervosa, por mais que não quisesse aceitar isso, eu me sentia tão ansiosa ao ponto de querer vomitar. Não sabia como reagir ao encontra-lo, nosso "término" havia deixado mágoas, tanto por parte minha quanto dele, até hoje suas palavras de quando me deixou ainda tinham impacto em uma parte secreta do meu coração "Dulce, quando você souber o que quer, talvez seja tarde demais".

Eu o queria, e pensei que ele soubesse disso, mas quando ele me virou as costas e saiu sem dizer nenhuma palavra, no fundo eu senti que havia perdido. Eu não fui atrás, ele também não veio, o RBD já havia acabado, nossos encontros com o tempo passaram a ser escassos, até que chegou o momento em que começamos a nos tratar somente como antigos companheiros de banda.

Envolvi-me com outras pessoas, ele também, se nos víssemos em algum lugar, sorriamos um para o outro, mas no fundo cada coração estava despedaçado. Após um tempo conheci Paco, nosso relacionamento nunca foi um dos melhores, sempre achei que faltava algo, só não queria admitir que era amor da minha parte.

Não procurava nada sobre sua vida, mas as notícias sobre ele sempre chegavam até mim, e quando eu via que ele estava com uma conquista nova, doía, porque eu sabia que assim como eu, ele procurava algo que só existia quando estávamos juntos.

Ouvi a voz fanha da aeromoça falando que íamos pousar, sentei direito e apertei o cinto, agarrei-me aos braços da poltrona e senti o impacto das rodas do avião com o chão. Agradeci a Deus por chegar bem. Logo após pegar as malas que tinha acesso, fui em direção à saída. Havia alguns fotógrafos na entrada, dei um "tchauzinho" para as câmeras e corri até o meu carro. Eu precisava de um banho e de uma boa noite de sono.

Ao chegar em casa e jogar as malas em qualquer lugar – depois arrumaria essa bagunça – me joguei na cama e vi todas as chamadas perdidas em meu celular. Três delas eram da minha mãe e duas do Paco. Avisei a ela primeiro que tinha chegado bem, logo em seguida liguei para ele.

- Paco

- Amor, já chegou? Já está em casa?

- Sim, vou tomar um banho agora. Como foi seu dia? – tirei os tênis dos meus pés, em seguida desabotoando a calça e fazendo malabarismo para conseguir não derrubar o celular. Ouvi sobre tudo o que ele havia feito, enrolei-me na toalha e fui para o banheiro.

- Quer que eu vá ai? – sentei-me no vaso sanitário e comecei a arrancar o esmalte das minhas unhas com os dentes.

- Amor eu 'to cansada, podemos almoçar juntos amanhã, o que acha?

- Tudo bem então. Vai descansar – houve uma pausa por alguns segundos até ele sussurrar - Te amo.

- Eu também – dei um meio sorriso para o nada quando escutei sua voz em um suspiro.

- Sinto saudades.

- Eu também sinto – mordi meu lábio inferior enquanto escutava sua despedida e o som da chamada sendo desligada.

Coloquei o celular no pequeno balcão que ficava ao lado da pia e tomei um banho demorado, só saindo porque eu já estava quase dormindo em pé. Troquei de roupa e já passava algum dos meus cremes corporais quando escutei um estrondo, dei um pulo de susto e joguei-me na cama me cobrindo da cabeça aos pés.

O estrondo se fez maior e eu me encolhi mais. Não que eu tivesse medo de trovão, é claro que não, é só que, bom, o barulho me incomoda. Claro que é isso. Vi um clarão pela janela e escutei a chuva forte caindo.

Meu celular apitou sendo seguido de mais um som ensurdecedor do fenômeno da natureza, corri pé ante pé até o banheiro, peguei o celular, e voltei na mesma carreira para a cama me cobrindo novamente e deitando em posição fetal. Vi que havia recebido uma mensagem, e quando a abri, nem o novo estrondo do trovão fez meu coração bater com tanta frequência como o conteúdo que havia nela e o remetente da mesma.

"Dulce, você sabe que trovões não pegam ninguém. Não precisa ter medo, são só as nuvens brigando, não tem nada a ver com você".

– Christopher

Mesmo tendo o número um do outro jamais havíamos feito nenhum contato.

Uma única lágrima caiu e um sorriso bobo surgiu em meu rosto. Em algum lugar dessa cidade ele escutava o mesmo barulho que eu, em algum lugar ele também lembrava-se de mim.

Te QuedarásOnde histórias criam vida. Descubra agora