Four

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-Precisamos se uma lâmpada.- disse Pedro.

-Pra que? - perguntou Susana. -Quer mesmo descer ai?

-Não tem outro jeito. Vamos, Susana! Coragem. Não vamos bancar as crianças agora que voltamos pra Nárnia. Aqui, você é Rainha.- disse Pedro e Susana se calou com um suspiro.

             Pedro rasgou um pedaço da camiseta e enrolou sob uma vara de madeira. Tentaram fazer archotes de varas compridas, mas não deu certo. Se voltassem para cima, a chama apagava. Se voltassem para baixo, queimavam os dedos.

-Bem, isso deve ajudar.- diz Edmundo tirando a lanterna que ganhara de aniversário, a menos de uma semana atrás, da bolsa que carregava.

-Podia ter avisado um pouquinho antes!- disse Pedro e Edmundo sorriu.

            Edmundo foi andando na frente, e os outros desceram as escadas logo atrás dele. Ariel estava certa, afinal, era de fato a Sala de Tesouros. Havia todos os tipos de preciosidades: armaduras, colares, pulsera, aneis, vasos de ouro, correntes de ouro e muitas pedras raras e brilhantes amontoadas num canto, e varias outras relíquias.

            Mas o que realmente fez o coração deles bater mais forte, foi ao verem suas estatuas, e embaixo delas, os baús. Suas coisas.

-Não posso acreditar.- disse Pedro. -Ainda está tudo aqui.

              Foram até seus baús e mexeram em suas coisas. Ariel viu o vestido que havia usado na coroação, e seus olhos encheram de lágrimas de alegria e saudades. Ainda estava ali! Ela o abraçou contra o corpo antes de o colocar de lado e continuar a mexer nas coisas.

-Eramos tão altos!- diz Lúcia com um vestido gigante em frente ao corpo.

-Bem, você era mais velha.- disse Susana com um sorriso.

-Ao contrário de anos depois... quando você está mais nova.- diz Edmundo e Lúcia ri.

-Ah! Minha espada! Meu arco!- disse Ariel, feliz, pegando os presentes que havia ganhado do papai noel. O punhal tambem estava ali, e Ariel o segurou entre seus dedos, lembrando da batalha no Beruna, o dia em que a Feiticeira morreu.

-Minha trompa. - disse Susana, tristemente. -Não está aqui. Estava comigo no dia que voltamos. Deve ter se perdido...

-Justamente o que mais poderia nos ajudar agora.- disse Edmundo com um suspiro.

-Não tem problema. As coisas não ficam perdidas para sempre.- diz Ariel com um sorriso.

          Pedro caminhou até seu baú e o abriu. Suas coisas estavam lá. Ele pega a espada e a tira do cinto. Não estava enferrujada, na verdade, parecia brilhar mais do que nunca.

-Aos dentes de Aslam, o inverno morrera.- disse Pedro.

-Na sua juba, a flor há de voltar.- diz. Lúcia o final do velho poema contado por Sr Castor no dia em que foram a Nárnia a primeira vez. -Sr Tumnus e os castores... Todos que conheciamos.... Se foram.

          Ariel já sabia disso, mas seu coração ainda assim doía. Conhecia a maioria daqueles seres desde que tinha 7 anos de idade, e agora, eles todos se foram para sempre, como num piscar de olhos. Nunca mais tomaria chá com Sr Tumnus, nunca mais pescaria com o Sr Castor, nunca mais comerias as deliciosas trutas da Sra Castor, não competiria mais com Seth e Gale, não passaria mais as tardes lutando com Oreius e Kalia. Seus amigos... Haviam todos morrido.

-Não consigo pensar nisso agora.- diz Ariel. -Eu vou trocar de roupa.- disse pegando suas armas e um vestido confortável e saindo para um lugar mais reservado.

           Depois que estava trocada, saiu da Sala de Tesouros e esperou os outros quatro ali, sentada sob a fogueira, em silêncio. Aquilo tudo doía demais nela. A Nárnia que conhecia já não existia mais, e queria desesperadamente saber o que estava acontecendo. O que havia mudado. E principalmente: por que estavam ali outra vez. Pois ela sabia que tinha um motivo. Estavam ali para ajudar algo ou alguém, como havia sido das últimas vezes em que ela esteve ali. Não estavam ali simplesmente para passar dias curtindo Nárnia. Tinham uma missão, e ela desejava mais do que tudo saber qual era ela.

              Não demorou muito para os outros quatro aparecerem, ja com outras roupas, e se sentarem ao redor da fogueira.

-Acho que não tem muito o que fazer agora.- disse Pedro. -Deveriamos descansar um pouco. O dia foi confuso e exaustante.

              Ninguém comentou mais nada. Se deitaram sobre o chão duro para tentar dormir. Pedro, Susana e Lúcia dormiam encolhidos um no outro, numa tentativa de se aquecerem. Já Ariel, mal conseguia pregar os olhos.

-Ariel, está acordada? - sussurra Edmundo e ela se vira, ficando de frente pra ele.

-Sim.- responde ela olhando pro amigo.

-Está bem? Pareceu chateada.- ele disse. Ela fecha os olhos com força e suspira.

-É que sinto como se não conhecesse mais Nárnia. Na verdade, não conheço. E os amigos que fiz aqui, que convivi desde que tinha sete anos... Eles se foram, Ed. Todos eles.- ela diz com lagrimas em seus olhos.

-Ei, vai ficar tudo bem. Nós vamos descobrir o que aconteceu quando voltamos.- diz ele esticando o braço para tocar a mão dela. Quando ele toca, arregala os olhos. -Ariel, você está tremendo. E está gelada! Está com frio?

-Um pouco.- ela diz dando de ombros, mas a verdade é que estava congelando ali, na noite a ceu aberto, com o fogo quase se apagando.

            Edmundo segurou as mãos de Ariel e se aproximou dela, a puxando e abraçando, tentando a esquentar. Ariel deita sua cabeça no peito dele, enquanto ele a puxa pela cintura, a abraçando mais forte. Ela já havia parado de tremer, mas mesmo assim, ele não a soltou. O coração dela estava acelerado, e borboletas pareciam dançar em seu estômago. Se sentia tão bem ali, nos braços de Edmundo. Aliás, se sentia bem sempre que estava perto dele.

-Tente dormir um pouco. Logo vai amanhecer.- murmurou Edmundo a apertando mais em seus braços. Ela concordou com a cabeça, e não demorou muito para que seus olhos fossem se fechando, até ela enfim cair no sono.

A Princesa Perdida • As Crônicas De NárniaOnde histórias criam vida. Descubra agora