Prólogo.

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Eu me lembro bem do acidente, bem até demais afinal meus pesadelos não me deixam esquece-lo. Eu tenho o mesmo sonho toda noite que me faz reviver o acidente e sempre um vermelho vivo faz questão de ser a cor predominante nele, e com certeza o mesmo simboliza o sangue deles, dos meus pais. Daqueles que eu não pude salvar. Eu sei que não foi a minha culpa, mas também sei que a culpa não foi dos meus pais, só tem um culpado que é daquele maldito caminhoneiro.
Estávamos saindo da festa de casamento da minha tia por parte de mãe, não tínhamos bebido muito porque voltaríamos de carro e um de nós iria dirigir, sem saber quem seria o escolhido optamos por não beber muito. Como sempre, coloquei os meus fones de ouvidos, e procurei por alguma música que definisse o meu estado de espírito naquele momento que seria; nostalgia. Por que? Bom, primeiro acabei de ver duas pessoas completamente apaixonadas se casando e segundo fiquei em uma mesa com a minha prima e seu namorado, e eles sabem ser bem carinhosos. A nostalgia em si é porque eu sinto falta do meu ex. namorado ainda, tivemos que terminar porque ele iria fazer faculdade em outro estado e convenhamos que o famoso amor a distante nem sempre funciona, resolvemos não arriscar. Terminamos no final do ano passado, não tive tempo de simplesmente substituí-lo ou superar o termino que tivemos, então nostalgia realmente me definia nesse exato momento.

Para comparecermos a esse casamento tivemos que atravessa a cidade toda, fomos de ponta a ponta. Já era por volta das quatro horas da manhã quando entramos em uma avenida principal, e finalmente achei uma música boa; Astronaut do Simple Plan. Essa música define me define bastante, ainda mais nesse momento. Rapidamente entrei na vibe da música enquanto observava as árvores passando rapidamente acompanhadas pelas gotículas que se encontravam no vidro, por causa da garoa, e que deslizavam pelo vidro. Acompanhei o movimento da gota que estava lá encima vindo para baixo. Como ela tem tanta certeza para a onde vai? Me perguntei e pensei sobre isso até minha tão bem selecionada playlist ser interrompida por buzinas do meu pai e de um caminhão. Me sentei mais a frente para olhar para o meu pai.

- O que está acontecendo? - perguntei enquanto diminuía o volume em meu celular.

Olhei para frente e as luzes fortes do caminhão cegavam qualquer um, desviei o olhar para a outra pista e tinha um ônibus passando pela gente no sentido oposto. O carro começou a patinar porque meu pai pisava totalmente no freio e o asfalto estava completamente molhado. O caminhão estava na pista errada, ia ultrapassar o ônibus, mas não contava com o nosso carro no caminho. Tentei me segurar no banco enquanto o carro patinava, mas não demorou muito para o meu corpo acabar com o espaço entre mim e o banco da frente e senti uma dor imensa na minha perna esquerda, que estava esticada embaixo do banco da frente e em meu rosto e meus braços senti alguns arranhões. Depois disso só me lembro de escutar alguns múrmuros e um trecho da música Unitled do Simple Plan.

"Everybody's screaming. I try to make a sound but no one hears me"

"Todos estão gritando. Tento fazer um barulho mas ninguém me ouve"

Arranquei os fones de ouvido. O que aconteceu? Foi a primeira coisa que pensei. Mas na verdade eu sabia o que tinha acontecido, porém estava tudo confuso e recente demais em minha cabeça, e a resposta dessa minha confusão estava diante de mim, descobri isso quando consegui abrir meus olhos.

Minha mãe se encontrava encostada em seu banco, seu rosto estava virado completamente para mim assim me dando a visão do mesmo, seus olhos se encontravam fechados. Tirei o meu cinto, senti uma dor em meu ombro esquerdo que me fez estremecer um pouco, mas ignorei e tentei me levantar para ir até minha mãe logo cai no banco com a dor que senti em minha perna esquerda, arfei. Foi então que descobri que minha perna estava quebrada, meu osso estava exposto.

- Ah, meu deus! - gritei ao ver o sangue escorrendo pela minha perna por um pequeno buraco com uma ponta do osso tíbia para fora, tentei controlar minha respiração. Eu nunca me dei bem com sangue. - Pai! - tentei escorregar um pouco pro lado para ficar entre os bancos da frente, coloquei a mão em seu ombro e sacudi o mesmo que não fez nada. - Mãe!? - direcionei meu olhar para ela e levei meus dedos no topo da sua garganta na lateral direita, pressionei os dedos em procura de alguma pulsação e fiz o mesmo com a outra mão em meu pai. Nenhuma pulsação de ambos. - Mãe.. Pai. - minha voz falhava por causa do nó que se formava em minha garganta. - Socorro! Alguém nos ajude. Meus pais precisam de ajuda! - gritei e bati em meu vidro que estava fechado.

Nesse momento desesperador que pensei na hipótese de ninguém vir nos ajudar, notei que o carro não estava tombado, estava normal. Olhei para a parte da frente do carro, o caminhão havia engolido a mesma.

- Por favor! Alguém?! - gritei mais uma vez

Agora eu conseguia ver as pessoas se mexendo pelo vidro, elas conversavam entre si e com certeza era sobre nós e outras andavam de um lado para outro, estavam ajudando a pessoa que estava no caminhão.

- Ei! - me assustei com as batidas no vidro o que me fez ficar um pouco desorientada. - Você consegue abrir a porta? - o bombeiro, cheguei a essa conclusão por causa da roupa vermelha, perguntou.

Procurei me lembrar de como eu abria a porta, coloquei a mão na maçaneta assim que lembrei. Fiz força para abrir e meus dedos apenas escorregaram para fora do fecho. Uma tontura me atingiu de uma forma que realmente me desorientou e para melhorar, minha visão ficou completamente embasada.

- Menina, fique comigo! - o bombeiro gritou tentando forçar a maçaneta do outro lado e eu fui tentar a do meu lado, mas, de repente, tudo escureceu.

Os olhos azuis. (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora