Acordei quando o sol estava nascendo e começando a invadir o quarto do hospital, sai do mesmo em busca da lanchonete. Não comia desde o almoço de ontem, pedi um café e pão de queijo e acabei por me sentando no balcão mesmo. Finalizei o meu café da manhã improvisado com uma nota de cinco dólares embaixo da minha xícara e segui de volta para o quarto a fim de ver se meu vô tinha acordado e lá estava ele, semi-sentado naquela cama que adapta do jeito que você quiser.
- Bom dia! - disse ao entrar no quarto, tentando parecer animada.
- Bom dia.. - ele disse enquanto passava seu olhar por todo o quarto. Ele não sabia por que estava ali.
- Você teve uma crise ontem na empresa.. Lily e Heather trouxeram você aqui. - disse caminhando até me sentar ao seu lado na cama. - Vô, você precisa se cuidar, e não é de hoje. - peguei em sua mão, suspirei. - Heather, me ofereceu um cargo em sua empresa. Vou passar por lá mais tarde depois que dar mais uma volta na cidade a procura de emprego.
- Milacre, Heather é uma boa pessoa. Sua mãe ajudou muito ela quando ela precisava se erguer, mas saiba que você não precisa aceitar o cargo que ela te oferecer. Qualquer lugar aceitaria uma menina excelente como você.
- Obrigada pelo incentivo e o elogio, mas se eu não tiver outra opção, eu irei aceitar sim. Eu preciso disso, vovô. Se eu quiser a minha faculdade, a casa e o seu tratamento..
- Eu não preciso de tratamento, Heloísa! - ele me interrompeu com o tom de voz mais alto, me assustando. - Cadê o seu pai? Ele deveria te por de castigo por dizer essas coisas, garota.
E aconteceu de novo. Fui a porta do quarto e gritei por uma enfermeira, que gritou por um médico que fez questão de me tirar do local. Atordoada é uma coisa que me define sentada na sala de espera. Ele não se lembrava do acidente e contava com o meu pai me punindo, era um efeito colateral. Depois de 20 minutos o mesmo médico de ontem saiu do quarto e caminhou até mim, eu fiz o mesmo até nos encontrarmos.
- Ele está ficando pior, não é? - soltei a pergunta antes mesmo de deixá-lo soltar alguns argumentos médicos.
- Sim, ele está. Ele precisa começar o tratamento nessa semana ou no máximo semana que vem. - ele disse terminando de anotar algo.
- Eu vou conseguir o dinheiro para o tratamento. Me de alguns dias, por favor. Eu sei que o convênio ajudaria a pagar, mas logo o convênio não vai prolongar o nosso prazo de pagamento. - eu soei desesperada, o que eu realmente estava. Na verdade, eu não estava preparada para perder outra pessoa.
- Tudo bem, Senhorita Verona. Até sexta-feira. - ele disse e acenou se despedindo.
Suspirei. O que eu vou fazer? Essa pergunta estava constante em minha mente enquanto vaga pelas ruas de Chicago. Eu não tinha pra onde ir e não tinha a onde procurar então acabei em casa, sentada no sofá com os cotovelos apoiados nos joelhos pensando em impossíveis possibilidades. Fui ao banheiro e tomei banho a fim de tirar o cheiro de hospital que estava impregnando em mim quando acabei fui ao meu quarto e coloquei uma saia jeans e uma blusa com um agasalho leve por cima, coloquei uma sapatilha e me joguei na cama deixando cair tudo que estava encima da mesma. Bufei me erguendo para pegar as coisas até que avistei um cartão de cor escura com algumas coisas branca que de longe dava para suspeitar que fossem as coisas escritas. Peguei o mesmo e girei-o na minha mão, nas costas estava escrito "Heather." Lembrei-me do que se tratava, na parte da frente estava nome do local que eu não sabia pronunciar perfeitamente o francês. Nuit des Chimères que significa Noite dos Sonhos. Nome estranho.
Eu não tinha o que fazer a não ser tentar esse cargo que a Heather ofereceu. Afinal o que eu tinha a perder? Exatamente. Nada. Peguei minha bolsa e sai da casa em direção ao tal lugar. Depois de 10 minutos cheguei ao local. Não era algo de luxo, mas também não era nada simples demais. Uma construção antiga de três andares, a pintura descascada em alguns lugares fazia com que o lugar pertencesse mais à cidade, em modo geral a cor preta predominava nas paredes que entrava em contraste com as cortinas vermelhas que eram visíveis nas janelas acompanhadas com o tapete vermelho na entrada. Fui percorrendo o tapete vermelho até o mesmo acabar, dando de cara com azulejos preto e branco, intercalados, assim dando origem a um saguão bem amplo, estilo xadrez, com um bar escuro iluminado com algumas luzes encima e embaixo, no final do saguão e bem espalhadas estavam as mesas. Em seu lado direito tinha uma escadaria de madeira e embaixo da mesma havia algumas cortinas vermelhas, contando havia quatro com uma parede preta dividindo-os que eu supus que fossem cômodos. Já no lado esquerdo havia uma porta de vidro seguida de três janelas, o cômodo estava iluminado e o falatório que era bem audível vinha daquela direção. Aproximei-me e vi as mesas e um self-service.. Era um restaurante? Encostei a mão na porta e a empurrei devagar afim de não fazer barulho.
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Os olhos azuis. (Completo)
RomanceCom a perda dos pais em um acidente de carro, Heloísa precisa de um emprego para se manter, pagar o tratamento de Alzheimer do vô e, quem sabe, pagar sua futura faculdade. Se sente inútil sem emprego até Heather, uma amiga da sua mãe, lhe oferecer u...