"Não se estresse, Heloísa."

15.8K 995 32
                                    

- Você terá sua alta hoje, Heloísa. - o médico disse depois de anotar algumas coisas na prancheta. - Porém terá que vir me visitar algumas vezes para ver se tem alguma anormalidade em seu estado, tanto na perna como na cabeça. O enfermeiro Ismael vai te acompanhar a sala de gesso e depois vamos ver se precisa de algumas sessões de fisioterapia. - o médico fez um sinal positivo com a cabeça e o suposto Ismael conduziu a minha cadeira de rodas para fora do meu quarto.

- Vai doer? - perguntei olhando para as pessoas do corredor.

- O que? Para tirar o gesso? - ele perguntou, dava para perceber que estava sorrindo só pela entonação de sua voz. - Usamos uma serra. - arregalei os olhos e tentei me virar para olhar para ele, ele estava rindo. - Para cortar o gesso, nada de mais. Você não vai sentir nada. - ele disse rindo entrando em uma sala com algumas macas e vários armários. - Lorenzo. - ele chamou alguém com um sotaque latino. - Tem que tirar o gesso dela e ver se ela consegue andar. Ficou um mês e meio com gesso. - um rapaz com rosto completamente com traços latinos saiu da porta que tinha dentro daquela sala.

- Tu és a menina do acidente? - ele perguntou para mim, mas eu estava abismada com a perfeição do sotaque dele. Eu tenho uma queda por sotaques.

- Sim. - Ismael respondeu me ajudando a subir em uma maca. - Nem disfarçar você sabe? - ele disse baixo apenas para eu escutar.

- Han? Não, não.. Não é isso! - eu disse um pouco alto, coloquei a mão na boca e olhei para ver se o tal de Lorenzo tinha escutado. - O sotaque dele é lindo. Sou suspeita para fala sobre isso, gosto muito de sotaques. - completei esticando a perna esquerda na cama.

- Aham, sei. - Isamel disse rindo e eu o repreendi fazendo uma careta. O latino chegou com uma serrinha e eu apertei a maca. - Relaxa.

Depois do medo enorme de serrarem a minha perna voltei para o meu quarto e me troquei. Minhas roupas. Suspirei sentindo o cheiro de amaciante das mesmas. Fiquei meia hora na sala de gesso tentando andar, mas consegui mesmo sentindo um pouco de dor, Lorenzo me aconselha a não me esforçar demais para não acabar com a minha perna novamente e com o tempo ela iria voltando ao normal. Mad veio me buscar e me levou para casa. Casa! Que saudade da minha casa, da minha cama, do meu quarto, da minha comida.. Até que enfim em casa.

♀♀♀

A empresa fica perto do Parque Oak, claro que dentro dos limites de Chicago, e minha casa ficava mais perto do Litoral então o caminho era um pouco longo e com uma pitada do transito de Chicago. Cheguei à empresa por volta das três da tarde, e tudo estava funcionando como antes. Confesso que estranhei afinal as últimas noticias que me deram foi que estava tudo um caos. Adentrei ao prédio espelhado e a recepcionista logo me deu passagem, passei pela catraca ao lado direito do balcão imenso de mármore escuro e aguardei o elevador com algumas pessoas que estavam lá de terno e uma maleta em mãos, eram dois homens e uma mulher. Os cabelos dela eram perfeitamente alinhados e lindos por sinal, dona de um loiro brilhoso e por causa do lugar que estava não pude ver o rosto dos dois homens. Entramos no elevador e fiquei na porta, apertei o último andar. No elevador parece que temos a obrigação de puxar assunto para não ficar aquele clima constrangedor, cruzei os braços e suspirei. Fique quieta Heloísa. Pensei comigo mordiscando os lábios e fechando os olhos. Não gosto de ficar quieta, gosto de falar, mas não iria me deixar levar por alguns minutos no elevador. Levantei os olhos para ver em andar estávamos, faltava apenas três andares, olhei para as portas espelhadas e vejo um par de olhos me olhando, encarei de volta notando seus olhos azuis profundos. Desviei o olhar e meu corpo estremeceu involuntariamente, eu me arrepiei e respirei bem fundo, olhei para cima novamente e o elevador apitou avisando que havíamos chego fiz questão de ser a primeira a sair. Logo a secretária me deu passagem e fui até a sala do meu avô, entrei e fechei a porta me encostando na mesma, respirei fundo novamente.

Os olhos azuis. (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora