Distinta Faísca

CAPÍTULO 05

O som suave de uma nova melodia começou a ecoar pela sala, e, de mãos dadas, Noah e Amelia caminharam até a pista de dança. Um silêncio repentino parecia tomar conta do salão, quebrado apenas pelo sussurro dos convidados, que observavam com olhos curiosos o que o Duque de Wiltshire estava fazendo ao lado de uma jovem cujos atributos não se alinhavam exatamente aos padrões da alta sociedade. O desconforto estava estampado no rosto de Amelia, que, com os olhos fixos nos próprios pés, começou a dançar com Noah, sempre movendo-se com uma postura de quem tentava se esconder de uma plateia invisível.

– Amelia, olhe para mim, por favor! – pediu Noah, sua voz suave, mas insistente, como se quisesse capturar sua atenção de uma maneira mais íntima. – Não se esconda em seus pés. Você ficaria ainda mais encantadora se olhasse para o mundo de cabeça erguida. Não tem motivo algum para se envergonhar.

Amelia, surpresa pela solicitação, levantou o olhar para encará-lo. Seu sorriso, sempre tímido e autoavaliativo, se dissipou em um breve momento de reflexão.

– Você só pode estar zombando de mim, ou talvez seja cego o suficiente para não perceber o quão ridícula sou. – A frase escapou de seus lábios com uma carga de amargor, mas, ainda assim, sua postura se suavizou, e ela finalmente ergueu a cabeça, encarando Noah com uma expressão desafiadora.

Noah sorriu de forma sincera, seus olhos com a tonalidade das nozes amadurecidas refletindo uma leve compreensão. Ele a observava com a curiosidade de quem vislumbra um mistério, um enigma que ansiava por ser desvendado.

– Sabe, Amelia, durante todos os anos que vivi, aprendi algo importante: o segredo da felicidade está em não se importar com o que os outros pensam de você. Em vez disso, devemos nos orgulhar do que somos, com nossas falhas e qualidades. – Noah disse com sinceridade, um brilho de empatia nos olhos. Falava a verdade ao lhe dizer aquilo, não achava que ela deveria ter vergonha do que era e muito menos deveria tentar ser aquilo ao qual as pessoas queriam que fosse, afinal e daí que ela estava acima do peso isso não impedia ela de ser bonita e ela era bonita do jeito dela

Amelia, embora tocada pela sinceridade dele, manteve sua posição, como se a insegurança de toda uma vida fosse difícil de se dissipar.

– Muito obrigada, mas ainda acredito que você deve estar enganado, ou que tem algum tipo de problema de visão. – A resposta dela veio acompanhada de um leve sorriso irônico, que suavizava a aspereza de suas palavras.

Noah riu, um som agradável que parecia escapar de sua boca sem esforço, como se ele realmente tivesse se divertido com a irreverência dela. Mas, logo, o sorriso desapareceu, substituído por um ar mais sério.

– Eu tenho muitos problemas, na verdade. Um deles é o quanto está se tornando insuportável a atenção que estamos recebendo. Olhe para nós, Amelia. Todos nos observam como se fôssemos o centro de um espetáculo. Que merda!!! – Sua voz se tornava mais descontraída, e ele fez uma leve careta. – Me perdoe pelo palavreado, mas é a verdade. Não gosto nada disso.

Amelia olhou ao redor, e suas palavras se alinharam com a realidade. Embora ela não fosse uma das damas mais procuradas para dançar, o fato de Noah a escolher como parceira parecia ter atraído olhares curiosos, quase como se estivessem vendo uma história ser escrita diante deles.

– Eu também não gosto de toda essa atenção. E mais, ninguém aqui parece entender que, para mim, isso é uma tortura. Acho que os outros estão estranhando o fato de você estar dançando comigo, como se fosse uma exceção, algo que não se espera. – Ela suspirou, quase se encolhendo com o peso do olhar alheio. – Eu nunca sou chamada para dançar. Ninguém fala comigo.

Noah a olhou por um instante, refletindo, e então lançou uma proposta audaz.

– E se fugirmos de tudo isso? O que acha de darmos uma volta pela casa? – Seus olhos brilharam com uma ideia. – Claro, depois que a dança terminar.