CAPÍTULO 09

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Finalmente, após cinco horas daquilo que parecia ser uma viagem interminável, Amelia e Noah chegaram a Wilton House. A carruagem sacolejou uma última vez antes de parar, e Amelia, embora estivesse acordada há mais de meia hora, manteve os olhos fechados, fingindo um sono profundo. A verdade era que desejava prolongar aquele momento íntimo, envolta nos braços protetores de seu marido. O calor que ele emanava lhe trazia uma sensação de conforto inesperada, algo que, mesmo sem admitir em voz alta, ela apreciava mais do que deveria.

Quando a carruagem finalmente parou diante da grandiosa entrada da propriedade, Amelia forçou-se a abrir os olhos e ergueu a cabeça, observando o exterior de seu novo lar. As imponentes colunas de pedra sustentavam uma fachada elegante e austera, iluminada pela luz amarelada das tochas dispostas ao longo da entrada. No topo da escadaria principal, um grupo de criados os aguardava, suas expressões respeitosas, porém discretamente curiosas. Era evidente que haviam sido convocados às pressas para recebê-los, e Amelia sentiu um leve incômodo ao perceber que, mesmo sendo tão tarde, estavam todos ali apenas para saudar os novos senhores da casa.

Ao descer da carruagem, Noah ajudou-a com um gesto firme e cortês, segurando sua mão com delicadeza. Ela notou que os olhos dele, sempre tão seguros e intensos, suavizaram-se por um instante ao encontrar os seus, como se quisesse assegurar-lhe que tudo ficaria bem. A reverência dos criados foi rápida e eficiente, e um mordomo de aparência severa iniciou as apresentações de maneira breve, sem se deter em formalidades desnecessárias. Amelia compreendia o motivo—era uma exigência do protocolo, mas claramente custava aos empregados o conforto de suas camas naquela hora avançada.

Uma jovem arrumadeira de traços gentis e postura diligente aproximou-se e conduziu Amelia até seus aposentos. A mansão era silenciosa, e os passos ecoavam pelos corredores vastos e elegantemente decorados. Ao chegar ao quarto que agora lhe pertencia, a moça prontamente ofereceu ajuda para desfazer-se do pesado vestido de viagem, retirando cada camada de tecido com uma eficiência notável. Amelia sentiu-se grata, mas, ao olhar para a cama, sua atenção foi capturada por algo inesperado.

Sobre a mala, onde deveriam estar suas habituais roupas de dormir, encontravam-se peças que definitivamente não pertenciam a ela. Vestidos de musselina incrivelmente transparentes repousavam dobrados com perfeição, revelando-se escandalosos até mesmo para os padrões mais liberais. O tecido completamente transparente, expunha completamente o corpo, incluindo seus seios, e a única outra peça presente era uma ceroula finíssima, ainda mais reveladora do que deveria ser. Amelia sentiu o rosto aquecer. Quem, em nome de Deus, havia mexido em suas coisas? E, mais importante, quem teria a audácia de substituí-las por algo tão... indecente?

Noah, por sua vez, sabia muito bem o que se esperava dele naquela noite. Ele deveria consumar o casamento—uma expectativa social inegociável, uma exigência do mundo ao qual pertenciam. No entanto, para sua infelicidade, e por mais que desejasse Amelia, seu cavalheirismo o impedia de agir de forma precipitada. Ele jamais se perdoaria por obrigá-la a algo que pudesse fazê-la sofrer, não depois do que já sabia sobre o passado dela.

Suspirando, ele caminhou até a porta que conectava seus aposentos aos de Amelia. Sabia que seria difícil dormir sozinho. As noites lhe traziam lembranças que preferia manter enterradas, e a presença dela, de alguma forma inexplicável, o acalmava. Então, decidiu pedir aquilo que poderia soar estranho, mas que era genuinamente necessário para ele.

Aumentando levemente o tom de voz, chamou por ela:

— Amelia?

Ela sobressaltou-se ao ouvir sua voz do outro lado da porta.

— O que você quer, palerma? — respondeu, sem pensar.

Noah riu baixinho.

— É ótimo ter uma esposa tão carinhosa — provocou.

— Fale logo.

Ele bufou do outro lado da porta, sem paciência para mais provocações.

— Está bem. Desde pequeno, não lido bem com a noite. Tenho medo de encontrar novamente os meus traumas, então sempre dei um jeito de nunca dormir sozinho... Sua presença me acalma, Amelia. Sei que pode parecer estranho esse pedido, mas... poderia, por favor, dormir comigo? Juro que não lhe farei mal algum.

Amelia hesitou. Embora achasse estranho, sabia que, como seu marido, Noah tinha o direito de compartilhar a cama com ela. Seu pai havia conversado com ela sobre esse tipo de expectativa, e, ainda assim, a situação lhe pareceu desconfortável. Não queria que ele a visse vestida daquele jeito, naquele traje ultrajante que, definitivamente, não lhe pertencia.

A voz de Noah soou novamente, mais firme desta vez:

— Venha até meu quarto agora, Amelia. Isso é uma ordem.

Havia algo na voz dele que a fez estremecer. Medo? Raiva? Um misto dos dois? Sem alternativa, Amelia caminhou lentamente até a porta que os separava. Girou a maçaneta com hesitação e empurrou a madeira maciça, abrindo espaço suficiente para passar. Assim que seus olhos pousaram em Noah, o ar pareceu desaparecer de seus pulmões.

Ele estava diante dela vestindo apenas uma calça de dormir, deixando à mostra um peitoral definido, os músculos esculpidos de seus braços e o abdômen marcado por gomos firmes. Amelia piscou algumas vezes, incapaz de evitar que seus olhos percorressem cada detalhe daquela visão inesperadamente tentadora. Noah não pareceu notar seu embaraço. Antes que pudesse reagir, ele a envolveu nos braços com firmeza, encostando os lábios no topo de sua cabeça em um gesto de ternura.

— Esse seu cabelo cor de cenoura exala um cheiro que me acalma, sabia? — murmurou, puxando-a suavemente para perto. — Vem, deita aqui comigo. Estou morrendo de sono.

Antes que Amelia pudesse protestar, ele a guiou até a cama. Sentiu os dedos quentes dele deslizarem suavemente por sua cintura antes de envolvê-la em um abraço seguro, pressionando-a contra seu corpo. O calor que emanava de Noah contrastava com a frieza do ambiente, e, por um instante, ela deixou-se levar pela sensação de proteção.

A voz dele soou próxima ao seu ouvido, baixa e sincera:

— Você é maravilhosa. Me perdoe.

Amelia ergueu o olhar, confusa.

— Perdoá-lo? Por quê? Você não fez nada que pudesse me magoar. Pelo contrário, só diz coisas que sei não serem verdadeiras sobre minha beleza.

Ele ergueu uma das mãos e deslizou os dedos pelo rosto dela, traçando lentamente o contorno de sua bochecha antes de fechar os olhos e depositar um beijo suave na palma da mão que Amelia havia levado até seu rosto.

— Algum dia te contarei... Mas obrigada por tudo o que está fazendo. Agora vem cá.

Noah voltou a puxá-la para perto, envolvendo-a em um abraço firme e descansando o rosto contra seus cabelos. Amelia sentiu o coração bater descompassado, mas não recuou. Ambos estavam exaustos da viagem, e, assim, adormeceram entrelaçados um ao outro, como se, por algumas horas, o mundo lá fora deixasse de existir.

Distinta FaíscaOnde histórias criam vida. Descubra agora