Muitas pessoas acham que a única coisa que nos faz solitário no mundo é não ter outra pessoa conosco, esse para muitos é o conceito de solidão, mas a verdade é que uma pessoa pode se sentir solitário estando rodeada de pessoas, porque mesmo com todos lhe dando atenção e sendo gentis com você, eles não são quem você realmente precisa ao lado. Eles não são a sua alma gêmea.
Mas ate o conceito de alma gêmea é bastante vago entre os seres humanos, para eles é alguém que não conseguimos viver sem, alguém que pode fazer da nossa vida um paraíso ou um verdadeiro inferno, tudo para eles é preto no branco, para os lobos o conceito de alma gêmea vai muito além, é sobre encontrar o seu companheiro eterno para todos as horas, aquele que ficará ao seu lado independente do que aconteça, nada é perfeito, haverá brigas e discussões, mas a alma gêmea para os lobos é aquela que está ali para ajudar e nos amar, simples assim.
Bom, é simples para lobos comuns porque para me encontrar a alma gêmea está sendo uma verdadeira merda.
Quando eu nasci minha mãe disse que foi o dia mais feliz da vida dela, assim como também foi o dia mais triste, minha família materna carrega uma maldição de sangue que mais parece uma bomba relógio preste a explodir, mais ou menos diz que nasceria uma menina protegida pela deusa que iria carregar o fardo de passar mil anos procurando pelo seu companheiro de alma, não sabemos o que deu origem a essa maldição, mas sabemos que a garota da maldição sou eu.
— Bom dia, Safira.
A voz da minha melhor amiga, Jade, me tirou dos meus pensamentos e de lembranças que naquele momento não seria realmente bom; sorrio calmamente pegando o minha xicara de café olhando para ela procurando não demonstrar o que realmente se passava na minha cabeça.
— Bom dia, como você esta essa manhã? – Pergunto mantendo o sorriso no rosto fazendo ela me olhar com a sobrancelha erguida.
— Eu estou bem, qual o seu problema? – Delicada como sempre. – Você está parecendo uma louca sorrindo desse jeito.
— Só estou de bom humor. – Dou de ombros mesmo sabendo que ela não iria cair nessa minha conversa fiada. – Você sabe que não adianta eu ficar me lamentando pelos cantos, já faz séculos.
— 900 anos?
— Na verdade, hoje faz 999 anos que eu fugir de casa por causa da maldição. – E a contagem só continua, penso dando um gole no meu café. – O que vamos fazer hoje?
— Eu vou organizar o baile para a recepção do supremo alfa. – Os pelos do meu braço ficam arrepiados com aquela menção. – Você poderia me ajudar a organizar tudo.
— Bom, eu passei novecentos anos da minha vida evitando encontros com as autoridades lupinas. – Termino de tomar meu café colocando a xicara na pia. – Organizar um evento para o supremo alfa não está nos meus planos.
Eu sabia que quando me encontrasse com algum lobo com grande autoridade, os meus pais saberiam onde me encontrar, então evitar esse tipo de evento estava no topo da minha lista de prioridades e fugir era tudo que eu estava fazendo durante todos esses anos vagando pelo mundo solitariamente.
Quando descobrir sobre a maldição que corria pelo meu sangue tinha apenas 15 anos, não era a idade certa para saber aquele assunto e também não havia descoberto da melhor maneira que estava condenada, mas foi melhor assim ou eu teria passado o resto da minha vida no escuro e isso seria bem pior.
O anoitecer deixava os corredores do castelo com uma penumbra que o deixava misterioso e cativante, pelo menos para mim; ergo um pouco as minhas saias enquanto caminhava pelos corredores tão conhecidos por mim, eu fazia esse trajeto todo dia para o escritório real, estranho chamar de escritório o que na verdade era uma biblioteca.
Ao parar na porta percebo que estava aberta e escuto vozes lá de dentro, pensei que meu pai estaria sozinho lá dentro, mas escuto a voz de mais duas mulheres, uma delas era a minha mãe; aproximo-me calmamente tomando cuidado para não respirar alto demais para não chamar atenção, eu não era de ouvir conversas sobre assuntos reais, mas aquele não era o melhor horário para reuniões do gabinete real.
— Não podemos esconder isso por mais tempo, Byron, a garota merece saber a verdade. – Fala a mulher desconhecida com calma. – Esconder isso só trará mais sofrimento no futuro.
— Ela ainda é nova demais, Safira não está pronta. – Aquela era a voz da minha mãe e o seu tom de voz era tenso. – É coisa demais para absorver com apenas 15 anos.
— Se é demais ou não, só quem poderá nos dizer se é capaz de algo é a própria Safira. – Aquela mulher fala novamente me deixando com o coração acelerado. – Ela deve decidir o que é ser amaldiçoada significa para ela.
— Essa palavra é proibida nesse castelo! – Dou um pulo para trás com o grito de meu pai. – Não falamos da princesa dessa forma.
— Mas isso é o que ela é, Byron! Sua filha é amaldiçoada! – Arregalo os olhos dando passos para trás. – Amaldiçoada! Não se pode mudar o que já está escrito, Safira carrega a maldição em seu sangue, ela é a garota da profecia.
Safira carrega a maldição em seu sangue.
Essa frase foi o que mudou a minha vida para sempre, foi naquele momento que tomei a decisão de ir embora, tinha deixado tudo para trás tentando entender o que realmente aquela maldição significa para mim, o que significava ser amaldiçoada.
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Não sabia como seria a minha vida quando fui embora com algumas joias, sei que meus pais passaram anos atrás de mim, mas eles não entendiam que tinha feito aquilo para o próprio bem deles e pelo bem do reino, ser amaldiçoada é horrível para uma menina de 15 anos e mesmo agora com mais de mil anos ainda continua sendo uma coisa horrível,
Quando sair do castelo passei alguns anos escondida nos cantos mais escuros das florestas rezando para que a deusa me guiasse, só quando as equipes de busca perderam o meu rastro foi que me sentir segura para sair de entre as arvores, depois de tudo que precisei foi ocultar meu sobrenome com a desculpa de que era uma ômega, ninguém nunca quis saber sobre minha família e é assim que tem sido a vários anos.
— Safira, bom dia.
— Bom dia, Matthew. – Respondo ao comprimento que me tirou dos meus pensamentos.
Matthew foi a segunda pessoa que confiei o segredo que era meu sobrenome, fiquei temerosa em confiar nele no início, mas ele se mostrou um bom amigo me ajudando a fugir dos alfas o máximo que conseguia, Jade dizia que ele fazia isso por que me achava atraente e tinha a esperança de ser meu companheiro de alma, se durante seis anos minha loba não se manifestou o declarando meu companheiro então não adiantava esperar.
— Nossa que bom humor é esse? - bom humor é esse? – Reviro os olhos que coisa, será que não posso ficar de bom humor? – Agora sim, essa é a Safira que conheço.
— Você e a jade são dois chatos. – Começo a me afastar dele causando outra risada da parte dele. – O que está fazendo aqui invés de estar no trabalho?
— Jade disse que você não quer ajudar na festa.
— Você sabe muito bem que se o supremo souber quem sou, meu pai saberá onde me encontrar. – Matt cruzou os braços ficando ao meu lado. – Não posso arriscar.
— Sabe que organizar não lhe obriga a conhecer ele, sabe né? – Olho para ele com raiva o fazendo erguer as mãos em defesa. – Calma lobinha, foi apenas uma pergunta.
— Teve pessoas que morreram por causa de uma pergunta. – Ele solta uma risada negando com a cabeça. – Não adianta tentar me convencer, já tomei a minha decisão.
— Tudo bem, não vou lhe perturbar. – Sorrio minimamente. – Vem, vamos trabalhar lobinha.
Aceito o braço dele e juntos fomos trabalhar, eles sabiam que quando eu decidia algo era definitivo, ser amaldiçoada sozinha era uma coisa, agora jogar esse fardo em meus pais eu não faria, por isso vivo sozinha, era melhor dessa forma.
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Mil Anos Para Amar - Mil Anos ( Finalizada)
Lobisomem"Uma loba branca amaldiçoada encontrará seu companheiro pela tatuagem de dragão que ele carrega em seu braço, mas enquanto isso não acontecer os dois sofrerão o vazio de estarem longe um do outro; sua dor será a dor dele, sua alegria será a alegria...