Capítulo 27

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Eu me levantei às quatro horas da madrugada para fazer as tarefas ridículas que era "obrigada" antes do Gary se levantar, assim talvez eu fique livre o dia para descansar e ganhe um ponto com ele. 
Eu não tinha esquecido do episódio de ontem e das minhas suspeitas mas eu tinha que deixar isso de lado até descobrir. 

Por sorte eu percebi que o Gary dormiu novamente no sofá com garrafa de bebidas ao chão e que ele deixou o quarto dele aberto, eu posso arriscar e entrar pra tentar achar as chaves e meu celular mas primeiro terei que ter certeza que ele está em um sono profundo. 
Então me aproximei dele e chamei. Nenhuma resposta. 
Também cheguei a cutucar ele, nada. 
Entrei no quarto rapidamente, não vi o celular nem a chave visível.
Meio que olhei em tudo. Gavetas, caixas, vasos, guarda roupa, estante. Não encontrei nada.
Logo ouvi um barulho na sala, decidi por não sair do quarto e fingir estar limpando a poeira. 
- O que você está fazendo no meu quarto sem permissão? - ele estava zangado. 
- Desculpe! Você estava dormindo tão bem que não quis te acordar. - virei e continuei limpando. 
- Você ainda não respondeu minha pergunta. - ele abaixou o tom de voz
- Não está óbvio? Estou limpando, algum problema? - me virei pra ele. 
- Sim, você entrou sem permissão! - se aproximou. 
- Desculpe, não era minha intenção te aborrecer. - dei uma pausa breve me aproximando dele. - Já estou saindo. 
Ele me parou, puxando meu braço. 
- Tudo bem' pode continuar mas não quero que faça mais isso. - falou e foi se sentar na poltrona para me observar limpar. 
Aproveitei pra varrer o quarto apesar de não estar nada sujo.
Tirei poeira de tudo quanto é canto e foi ai que eu olhei para o quadro que ele tinha comprado naquele dia, estranhei ele estar torto na parede porque o Gary tinha TOC de limpeza e queria tudo organizado por isso tantas exigências.
Fiquei me perguntando se eu deveria indireita-lo e foi o que eu fiz, bem rápido e quando me virei percebi os olhos dele grudado em mim. Sorri e falei: 
- Acho que está tudo em perfeita sintonia, acha que eu deveria arrumar mais alguma coisa? 
Ele balançou a cabeça que não e gesticulou para eu sair. 

Depois de lavar toda a roupa que não era muito visto que eu tinha lavado outro dia mesmo, varrer e passar pano em toda a casa, deixar a cozinha um brinco e organizar a sala que tava uma zona, também separei o lixo para ele levar para fora. 
Assim que me mostrei satisfeita, chamei ele para me fazer companhia enquanto preparada nosso café da manhã, 3u queria mostrar simpatia a ele. 
- Fiz tudo mais cedo pra tirar um tempo livre para passar com você, se você quiser. - eu também tinha terminado o projeto na noite passada. 
- Bom, eu não vou mais sair pra procurar emprego. Não gosto de te deixar sozinha aqui nessa casa enorme. - ele sorriu. 
- Eu também não gosto de ficar sozinha. - menti descaradamente. Só de pensar que agora nem um tempo sozinha vou ter me deixou agoniada e mais ainda por saber que eu possa ter perdido chances preciosas de abrir o quarto dele. 
Agora que eu já tinha revirado o quarto dele e estou muito desconfiada daquele quadro, faltava pouco para minha liberdade eu podia sentir. Se Deus quiser, a chave e o celular estão atrás do quadro mas agora vai ser difícil eu abrir com ele em casa o tempo todo. 
- Podíamos ver um filme hoje, se você quiser. - sorriu. 
- Claro, podemos sim! - concordei. 
- Vendo sua boa vontade de fazer todas as tarefas de casa eu me senti bastante satisfeito e creio que não será preciso fazer tudo isso todos os dias, afinal.
Era mesmo o que eu desconfiava antes de ser um teste que pelo visto me sai bem. 
- Você que sabe, eu não me importo de fazer as tarefas. - devolvi. 
- Então está resolvido, não vai ser preciso! Além do mais aquele médico idiota falou que você tem que ficar mais em repouso e eu não quero ser o culpado se algo acontecer. - ele falou de um jeito que me deu calafrios. 

Assim que terminamos de tomar o café, já eram nove horas da manhã e eu estava lavando a louça quando bateram na porta. 
Meu coração acelerou e eu olhei pro Gary. 
- Pode subir para seu quarto pra descansar um pouco, eu vou atender a porta. - ele falou. 
- Claro mas você poderia tirar de uma vez o lixo para fora por favor? - apontei para os sacos de lixo ali encostado do lado da porta. 
Ele assentiu e eu fui saindo da cozinha, não antes de ver ele checando se estava com seu canivete no bolso. Eu esperei ele sair e fechar a porta atrás de si. 
Me movimentei devagar para a porta de saída pra poder escutar. 
- O que você está fazendo aqui de novo? - a voz do Gary. 
- Eu só quero vê-la, por favor. Sei que ela não quer me ver e está zangada mas eu preciso saber isso dela. - era a voz do Scott. 
Meu coração começou a bater forte e senti que iria cair bem ali no chão. 
Eu estava certa e ele voltou pra falar comigo. 
Eu poderia gritar pela ajuda dele mas o Gary podia machucar ele. Eu poderia abrir a porta e sair e ser machucada também, eu não ia ligar antes agora é diferente.
Eu poderia ir até o quarto dele e torcer pra que esteja aberto, pegar meu celular e mandar uma mensagem para o Scott chamar a polícia. Eu poderia...
Estava tão perdida nos meus pensamentos que quase fui atingida pela porta se abrindo novamente. 
- O que diabos você está fazendo aqui? - ele estava furioso nem deixou eu falar e acertou um murro na minha cara. 
Tentei falar: 
- Eu só... só... apenas esqueci de te falar que terminei o projeto e pensava que você já tinha mandado-o embora. - falei tremendo e chorando. 
- Você sabe quem é, não é mesmo? - ele me segurou pelos braços quase que me balançando. 
- Sim, eu ouvi mas não ligo pra ele, ele não merece minha atenção. - me defendi e tentei soltar meus braços. 
Ele concordou, soltou meu braço e me mandou ir direto pro quarto. 
Eu estava desesperada, nem sentia a dor do murro que acertou meu olho esquerdo e com certeza deixaria mais uma marca, eu apenas pensava que deixei escapar mais uma chance que eu tive, estava tão mal que eu pularia da janela mesmo sabendo que eu iria me machucar feio e talvez nem conseguisse sobreviver a queda, eu teria que fazer melhor se eu quisesse sair antes da minha filha nascer e agora que eu estava ali, dentro do quarto dela, vendo tudo arrumadinho, me bateu um desespero. 
Estava tudo pronto para chegada dela só que eu não queria que ela nascesse numa situação dessas, com um homem monstro como ele. 
Eu tinha a obrigação de dar o melhor pra minha filha, ela precisava disso de mim. Ela precisava que eu fosse mais forte pra enfrentar isso e quando ela crescer, quando eu contar essa história pra ela, ela poderia sentir orgulho com o desfecho dessa merda que eu mesma me submeti a passar. Se eu não tivesse deixado o Gary entrar na minha vida e ter tido força pra enfrentar sozinha sem ajuda de ninguém, eu não estaria nessa. 
Nisso que estou passando posso tirar um proveito e ensinar minha filha com base no que eu aprendi e passei. Sim! "Passei" porque eu vou sair dessa, não vou deixar ele encostar um dedo na minha filha. Não mesmo! 
E foi ai que ela chutou e eu decidi o nome dela. 
No qual significa força. Ela vai ser uma menina forte, valente e corajosa pra enfrentar todos os obstáculos da vida, tenho certeza que vou ter muito orgulho dessa minha menininha. 

O ÓDIO E O AMOR andam juntosOnde histórias criam vida. Descubra agora