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O Opala vermelho ano 1975, cruza a cidade do Recife sentido o agreste do Estado.

Eles estão seguindo para a casa de Karina Werner, que fica na cidade de Garanhuns.

São quase três horas e meia de viagem da capital até à "Suíça Pernambucana" ou como é chamada também: "Cidade-Jardim".

Garanhuns tem mais de cento e trinta mil habitantes, e possui serviços diversificados na saúde, comércio e turismo.

No mês de Julho a cidade sedia o Festival de Inverno, que atrai milhares de pessoas.

Os dois agentes se dirigem para uma mansão que fica na parte mais alta da cidade, e consequentemente mais fria e mais rica.

Eles fazem a volta no relógio que fica na praça das flores no centro da cidade, e que está marcando próximo das três horas da tarde.

— Medeiros eu só aceitei essa empreitada com você, para não deixa-la sozinha.

— Laureano você mente muito mal. Fala a verdade... Seu saco já estava batendo no chão, de tão entediado com as mesmas ocorrências.

— Medeiros não deixa de ser uma verdade, mas prefiro o tédio a levar um tiro.

A agente gargalha sentada no banco do passageiro e olhando para fora da janela.

— Garanhuns é linda. — Diz ela vendo se tem mensagem no celular.

— E nem parece que estamos no agreste.

— Verdade. Você está com frio? — Medeiros esfrega as mãos.

— Um pouco. Você sabia que em três semanas começa o Festival de Inverno? Eu acho que vou dar um pulinho por aqui.

— Você é muito otimista pensar que em três semanas estaremos liberados desse caso.

— E você Medeiros, é muito pessimista em pensar assim também. — Laureano olha de banda, vendo que a agente observa perdida as plantações que vão passando. — O que está te afligindo?

— Na verdade não tem nada me afligindo. Apenas estou com a cabeça fervendo com tudo isso que vem acontecendo em tão pouco tempo.

— Então fale mulher! Desembucha. — Laureano pede preocupado.

— E pensar que um dia você não foi com minha cara.

— Não creio que seja isso que está na sua mente, porém é a mais pura verdade. Quando eu contemplei aquela figura de um metro e meio, voltando à corporação por que um "serial killer" estava querendo usa-la para ele poder matar as pessoas... Eu não pensei duas vezes em odiar sua existência. Fora que você não escutava ninguém.

Ela olha com carinho e respeito para o amigo.

— Medeiros não dê ouvidos para o que acabei de dizer, eu sou um babaca.

— Você está certo e só falou a verdade. No início agi assim mesmo. havia muito rancor em meu coração e um sentimento de culpa que me destruia. Quantas vezes não desejei morrer levando uma bala. — Medeiros suspira. — A culpa não deixou de existir, está apenas controlada.

— Estamos chegando. — Os dois veem a mansão despontar no topo da colina.

— A casa dela é linda, parece que foi feita toda de madeira.

— Vamos estacionar ali! Logo atrás do carro cinza, e seguimos caminhando até o portão.

Laureano faz conforme disse. Ele para atrás de um Versa cinza.

— A placa do carro é sugestiva. — Medeiros comenta sem tirar os olhos dela.

— Placa? Que placa estamos falando? — Laureano olha para os postes que seguem margeando a rua asfaltada, procurando identificar se existe alguma com "Proibido Estacionar".

— A placa do Versa: KLI 0707

— Você tem essa mania de jogar no bicho? — Laureano pergunta espremendo os olhos com surpresa.

— Sim. Eu vivo jogando no bicho. — A dupla desce do carro. Medeiros pega o celular, bate uma foto e manda para Rafael pelo whatsapp com a mensagem:

"Olha o que acabei de achar."

Laureano para na frente do portão e espera Medeiros vir ao seu encontro.

— Não gosto quando você está assim. Pensando demais. Vendo demais. Eu sinto que a qualquer momento vamos ter uma surpresa desagradável.

— É que detesto está errada... Mas me odeio quando estou certa.

O portão abre automaticamente. Em poucos segundos chega um homem elegante vestido num terno preto.

— Sra. Medeiros, seja muito bem vinda. Por favor me acompanhe. — O homem caucasiano que usa corte militar, fala somente com ela e ignora totalmente Laureano.

O trio caminha com o segurança parrudo, porém ele está um pouco mais a frente os guiando.

Enquanto sobem uma estrada de asfalto impecável, Medeiros conta três quebra-molas ou redutores de velocidades. A casa fica no alto.

— Laureano! — Medeiros aponta para os quebra-molas com sua face.

— Sim. Eles são altos e estão numa ladeira. O que você acha?

— Sra. Karina uma vez por mês, abre a mansão para que as crianças locais venham brincar aqui. Hoje é um dia atípico, mas temos um tráfego constante e ela detestaria que algo acontecesse com alguma das suas pequenas visitas.

— Entendo. Não pegaria bem para uma mulher filantrópica igual a ela, ter sua imagem manchada por uma fatalidade.

— Sra. Karina é uma mulher que cuida dos pobres. — O grandalhão fala sem olhar para eles.

— Claro que ajuda... Não tenho dúvidas disso. Eu quem usei o termo errado.

— Não Agente Medeiros, a senhora usou o termo correto... Porém com sarcasmo na voz.

— Cuidado meu rapaz. Nós não somos seus pariceiros. — Laureano fala com tom firme.

Eles chegam na frente da casa com dois andares. As duas portas da entrada estão abertas. Elas são feitas em vitrais coloridos e madeira.

Há uma piscina com borda infinita que se estende até o pontal, de onde se consegue ver a cidade de Garanhuns, quando debruçado sobre seu beiral.

— O senhor vai esperar aqui. - Avisa o homem imponente para Laureano. Medeiros observa mais dois "guarda-roupas" saírem pela porta da frente.

— Eu vou ficar bem.

— Não vou deixa-la entrar sozinha.

Medeiros observa uma sombra negra, furtivamente cruzar os Jardins.

— Eu vou ficar bem. — A agente toca no tórax do amigo. Laureano recua e balança a cabeça, dizendo "sim".

Medeiros entra na casa.

— Você se acha o superman não é mesmo? — A pergunta de Laureano coloca um sorriso da boca do gigante. — Eu só quero ver você sorrir, com seus dentes espalhados pelo chão, seu bosta.

— Você não me dá medo. - Fala o segurança olhando para Laureano como se ele não fosse nada.

É a vez de sair um sorriso matreiro da boca de Laureano:

— Acredite... Não é de mim que você vai ter medo.

A Língua de Deus - COMPLETO - 30/10/2019 - +18 Anos. SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora