MAIS TRÊS

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Denise e JJ estão em silêncio quando Medeiros sai do quarto e chega até a sala. A segunda filha do casal senta-se no sofá. Seu semblante está cansado.

Os ombros caídos para frente demonstra que precisa de algumas horas, aliás boas horas de sono.

Na televisão, as imagens mudas vão passando rapidamente, igual um imenso quebra-cabeça de imagens.

Medeiros senta-se de frente para os pais.

— Juliana está grávida. — A voz de Medeiros pesa com o tom de preocupação. — Ela não vai querer ter a criança.

Denise aperta a mão do marido. Gregório fica sem piscar os olhos.

— Ela também me pediu uma bala. — JJ franze o cenho. — Não sei até que ponto isso pode vir a acontecer, mas sugiro escutarmos esse pedido de socorro como uma real possibilidade. — A imagem de Karina suicidando-se diante dela, vem de surpresa em suas memórias recentes. Medeiros fecha os olhos lentamente, para abri-los com rapidez.

— Sim. Você está certa! — Comenta Denise preocupada.

A porta da sala abre-se, interrompendo a resposta... Suzy entra e sem falar nada, senta-se ao lado de Medeiros.

— Eu só pude chegar agora. — Justifica-se

— O importante é que chegou. — Fala Denise.

— Obrigado... que horrível tudo isso. Rafael ligou... eles estão tentando identificar as vítimas. É verdade o que a mídia vem falando? Sobre como encontraram Álvaro?

— Juliana está no quarto... quanto menos souber e descansar mais, vai ser melhor para ela. — Responde Medeiros. Gregório ajeita-se no sofá.

— Sobre os caranguejos... Como ele foi comido.

Medeiros cola nos olhos de Suzy. Gregório fecha os dele. A que recebeu o olhar fulminante, responde com a face que terminou o assunto.

Medeiros volta a olhar para seus países diz:

— Precisamos de um psicólogo para Juliana. O melhor que existir em Recife.

— Eu tenho um amigo...

— Sem ofender Suzy e já agradecendo, eu não quero ninguém conhecido... digo do nosso meio familiar. — A namorada de Rafael cala-se. E Gregório abre um leve sorriso pelo canto da boca.

— Eu também concordo com Rafaelle. — Comenta JJ. — Ela tem que sentir-se à vontade com a pessoa que vai está diante dela.

Medeiros olha para televisão, que num telejornal local, mostra as fotos de três homens e acha estranho. Karina, a deusa Kali, havia mencionado mais dois, e agora já são quatro homens.

— Vocês poderiam aumentar o volume? — O namorado balança a cabeça... como quem está dizendo: "Lá vem mais novidades."

Denise faz o que a filha está pedindo.

"Nessa última terça-feira houve a confirmação do desaparecimento de mais três homens, em lugares diferentes da cidade.
A polícia ainda não está tratando os casos como sequestro.
Porém é bom salientar que um desses homens é o senador Túlio, que segundo familiares já tem dois dias que não mantém contato. Os outros dois desaparecidos são: Padre Luiz Azevedo e o Pastor Noberto Aguiar. Caso alguém tem alguma informação..." — Medeiros abaixa o volume.

— O que você acha cunhada? — Pergunta Suzy para Medeiros que recebe uma mensagem pelo WhatsApp.

— É Almeida. — A agente olha para o namorado.

— Sem problemas amor, passamos em casa tomamos banho, te deixo lá e viajo.

— Você vai para onde? — Pergunta JJ.

— Oriente Médio. Thell está precisando de um apoio.

— Com você por aqui eu ficaria mais tranquila. — Denise comenta apreensiva.

— Thell? — JJ surpreende-se.

— Sim papai. O Thell.

— Quem é Thell? — Pergunta Suzy.

— Um grande amigo da família. Ele trabalha com demolição em grande escala. — Medeiros responde pelo pai. Talvez a voz de Suzy esteja mais irritante, ou talvez tudo que vem acontecendo com a agente está tirando-lhe a paciência, mas o fato é que, Medeiros não está absorvendo de boa as perguntas vindas da cunhada, que ficam interrompendo a conversa.

— Olha isso... então Gregório é do ramo de construção? — Pergunta Suzy.

— Na verdade... ele é quem faz o trabalho sujo. Mata as pessoas que não querem desocupar a área. Depois queima todos os corpos para não deixar rastro e leva as cabeças para confirmar o serviço. — Medeiros responde com o saco, se ela tivesse, chegando na cabeça. JJ e Denise arregalam os olhos.

Suzy espanta-se com Medeiros. Depois solta um leve sorriso.

— Gostei das metáforas amor. — Gregório interfere na conversa. Ele entendeu que a cota de Medeiros já chegou ao limite. — Eu sou engenheiro. E preciso avaliar o terreno. Dinamitar é um complexo jogo, onde estruturas caem e outras se mantém. Logo... Não posso errar.

— Obrigado pela explicação...

Medeiros abraça os pais, depois a cunhada. Vai até o quarto da irmã que está dormindo. Fecha a porta com cuidado. Sem fazer barulho.

O namorado está com a porta do apartamento aberta, esperando-a para ir embora. Gregório de fato está preocupado em deixá-la nesse momento. Talvez fosse melhor falar com Thell que ele não poderia ir agora.

O fato dele não ter conseguido identificar odores, deixou-o com o sentimento de que a assassina conhece seu dom ou maldição, ou pode ser uma pessoa que se especializou em matar, e aí torna-a uma exímia profissional... talvez possa assassinar até a distância. Embora o que ele viu, e se for assim seu modo de trabalhar, ela gosta de está presente quando faz o serviço.

— Se você está pensando em desistir da viagem por minha causa, esqueça. — Gregório olha de lado para Medeiros. E sorrir. Ele aciona o botão "Térreo" no elevador.

— Se você agora está lendo meus pensamento, me avise... porque as ideias que estão passando na minha cabeça iriam deixar você com vergonha ou excitada. — Medeiros olha espantada para o namorado, que recebe dele o sorriso mais cretino até então. Ela não estava esperando aquela resposta.

— Tirando sua cara cafajeste de agora... a sua cara anterior era de indecisão e aflição, me demonstrando tudo. Mas quando chegarmos em casa quero só ver, quais são essas suas ideias.

A Língua de Deus - COMPLETO - 30/10/2019 - +18 Anos. SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora