E SE...

53 17 38
                                    

Almeida está olhando através da janela, vendo a noite que chegou mais escura que o normal.

Ele começa a lembra-se de quando começou na academia de polícia e o período que ralava, trabalhando durante o dia e estudava Direito à noite.

Mas nenhuma dessas dificuldades, foi comparada à sua infância. Almeida, é filho único de Seu Jefferson e Dona Zeferina, nasceu numa comunidade pobre e perigosa, no centro do Bairro do Recife.

Seu Jefferson, era vigilante de uma Fábrica de leite no saquinho. Nunca esteve metido em confusão ou atividades desonestas. Na verdade nem mentia. A mãe era dona de casa, e as vezes saía para vender AVON.

Porém, o destino faz umas curvas que ninguém entende. Dois dias antes, o vigilante noturno pediu para trocar de horário com ele, porque havia marcado de levar a esposa para dançar forró.

Seu Jefferson nunca havia trocado de horário e a priori negou. Mas o amigo chamado Souza, sabendo da necessidade financeira que ele estava passando, ofereceu-lhe dinheiro para trocarem o horário.

A tentação foi muita. E eles trocaram de horários.

Por volta das duas horas da manhã, ao fazer uma das rondas de vigilância pela fábrica, que possuía o tamanho de três quarteirões, viu um movimento estranho no muro que ficava por trás da casa de máquinas.

Ele não fez nada. Seu Jefferson preferiu ficar observando o que estava acontecendo. A fábrica estava sendo roubada. Porém, ele conhecia um dos ladrões. O rapazote era filho do seu vizinho.

Ele suspirou, pensou no que deveria fazer, e decidiu não fazer nada. Seu Jefferson raciocinou que, como estava trabalhando somente aquela noite, e no outro dia voltaria para seu horário normal, seguiu com a ronda, porém seguindo para o lado oposto.

Mas, o que ele não contava era que, um homem de dentro de uma casa vizinha, e pelo lado de fora da fábrica, observava os ladrões.

Pela manhã o vizinho da fábrica foi na delegacia e contou tudo que viu. Dos seis bandidos, três caíram... foram presos.

Os que ficaram soltos, foram atrás do vigilante Souza que voltara para seu horário definitivo. Quando os bandidos pegaram-no, ele de imediato disse que estava folgando e quem estava trabalhando era o vigia da manhã. O Jefferson.

Quando o ocorrido fez trinta dias, um dos bandidos que esteve preso, chegou por trás do Seu Jefferson e estourou a cabeça dele com um tiro.

Almeida ficou órfão de pai aos doze anos, com o pai assassinado no portão de casa, com um tiro na cabeça, quando se abaixou para abrir o portão pequeno feito de ferro.

E para ajudar sua mãe, foi para os semáforos vender pipocas, balas ou água mineral.

— Boa noite. — Almeida vira-se surpreso com a saudação de Medeiros parada diante dele.

— Boa noite! — O delegado responde entusiasmado e abre um sorriso leve, caminha até a investigadora e abraça-a. — Você não tem ideia de como fico feliz em ver você bem. — Almeida a ajuda sentar.  — Vejo que comprou uma nova bengala. — Com uma velocidade controlada, ele caminha até sua poltrona.

— Na verdade foi um presente. — Responde Medeiros olhando para ela. — Essa bengala faz parte da família de Gregório.

— Eu gostei do detalhe do Lobo. É de ouro?

— Sabe que não sei. Mas, como é do bisavô dele, não duvido que seja.

— Eu jurava que você já havia chegado em casa.

A Língua de Deus - COMPLETO - 30/10/2019 - +18 Anos. SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora