VERMELHO

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Irmã — Liga Rafael para Medeiros —, você está aonde?

— Estou saindo do departamento agora. Como mamãe está?

Do mesmo jeito. Suzy e Juliana estão com ela enquanto te ligo. Gregório está com você?

— Não! Pensei que ele estava com vocês.

E eu pensei que ele estava com você. Tenho um recado para ele, mas quando ele chegar eu digo.

Eu vou desligar. Beijo irmão! — Rafael responde à irmã com um "te amo". Medeiros coloca sua Taurus ao lado da bengala, no banco da frente.

A investigadora estaciona na frente de num prédio comercial, no bairro do Espinheiro. Ela coloca a arma no coldre e sai andando com ajuda da bengala.

O celular aponta dez e meia da noite. Ela mostra o distintivo pela câmera ao porteiro, que abre o portão. A investigadora desce para o estacionamento.

Medeiros encosta-se na traseira de um carro e apoia-se na bengala. Passados uns vinte minutos, a porta do elevador abre-se:

— Boa noite. — Os olhos arregalados não conseguem esconder a surpresa. Medeiros ainda apoiada na bengala diz: — Senti sua falta.

— Medeiros, uma dúvida que carrego comigo, desde aquele dia... como você faz para segurar uma xícara de café? — A voz sarcástica demonstra uma felicidade extrema.

— Éris se você acha que vai tirar-me do sério está enganada. Eu só preciso saber uma coisa, antes de prendê-las... A Suzy, sua irmã gêmea, que está na minha casa, sabe de você?

— Medeiros, não era essa a pergunta que estava esperando ouvir de você! Mas, poderia dar-me a honra de dizer como chegou até aqui?

— Os olhos de Álvaro.

— UAU! Como você descobriu que a mensagem estava em Braille?

— A sua irmã sem querer, deu-me uma pista. Você já ouviu falar no antagonismo das frases? — Éris olha seriamente para Medeiros. — "Ele é vida. E suas ações sempre serão lembradas por todos nós como ele viveu: Reconstruindo mundos."

Medeiros dar alguns passos na direção de Éris e continua:

— " Agora tornei-me a morte, a destruidora de mundos."

— Aquela vaca sempre foi mais emotiva. Porém ainda é muito pouco, não concorda?

— Ela comentou sobre o acidente de seu pai, um professor renomado e que ficou cego. Porém, B1 disse: "Que todos lá em casa, aprenderam Braille."

Medeiros fica a três metros de Éris.

— Presunção é a mãe dos descuidos. É lógico que sem essas informações, dadas por B1– Medeiros continua provocando Éris, que fecha a cara ao ser comparada aos "Bananas de Pijamas" —, eu nunca teria chegado até B2. Embora hoje, fiquei pensando... você sempre me chamou de Medeiros e B1 sempre de cunhada.

— B1... B2. Você acha engraçado não é mesmo?

— E não é? Eu adoro esse desenho. E a musiquinha: "Bananas de Pijamas, descendo as escadas." — Medeiros cantou a música.

— Não seja cínica Medeiros, você sabe muito bem o porquê de está usando B1 e B2. — A voz de Éris muda ficando mais pesada. — Meu pai, o professor Roberto de Souza, que ensinava física na Universidade Católica, mudou muito depois da cegueira.

— A sua irmã já me disse isso.

— Mas ela não disse, que ele ficava embriagado, com um pedaço de madeira e nos chamando pelos nomes. Até que um dia, enquanto assistíamos a esse maldito desenho, ele chegou sorrateiramente e nos bateu com aquele pedaço de pau, enquanto cantava juntamente com o programa "Bananas de pijamas descendo as escadas."

A Língua de Deus - COMPLETO - 30/10/2019 - +18 Anos. SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora