A Língua de Deus - COMPLETO - 30/10/2019 - +18 Anos. SEM REVISÃO

VISITAS INESPERADAS

Medeiros revive tudo novamente nos pesadelos. Ela subindo as escadas cansada, caindo nos últimos degraus e se jogando em baixo da banheira, com aquela água podre e fedida caindo sobre ela... e o clarão. O clarão ensurdecedor chegando, vibrando é tremendo tudo. Ela acorda quando estava para ser tragada pelo buraco provocado pela explosão. Medeiros acorda-se exausta.

Ela levanta seu braço esquerdo. Embora não veja, mas imagina sua mão sem os seus dois dedos... eles eram seus. Hoje nãos os tem mais.

— Você::: vai passar::: sem eles::: — Medeiros assusta-se ao perceber que não está sozinha no quarto. Mas, no mesmo instante acalma-se ao ver John Lennon ao seu lado, numa cadeira de rodas especial.

— Como você chegou até aqui?

— Você::: Assistiu::: Kill Bill? — Medeiros franze o cenho, sem entender o porquê da sua pergunta, ter sido respondida com outra.

— A primeira ou segunda parte?

— Volume um::: — John puxa o ar, fazendo o som molhado e efervescente, que torna-se desagradável e desconcertante para quem não está acostumado a ouvir.

— Sim JL... eu assisti. Mas por que a pergunta?

— Eu::: fiquei::: tentando usar::: — John abre um sorriso sarcástico e faz uma pausa voltando a falar: — A mente.

— Continuo sem entender nada.

— Uma Thurman::: consegue::: com a mente:::

— Mexer o corpo, depois de ter ficado anos em coma. Eu lembro dessa parte. Ela consegue mexer um dedo e depois de muita persistência, consegue sair dirigindo.

— Exato::: Eu::: estava tentando::: — Medeiros abre um sorriso de felicidade. — Usar::: minha mente.

— Parabéns!

— Para::: levantar::: e te matar::: sufocada com::: travesseiro.

Medeiros arregala os olhos com que acaba de escutar. John Lennon está ali parado, não sabe-se quanto tempo, velando o sono dela e diz uma coisa dessas.

A investigadora gargalha alto. Não se importando que já seja madrugada avançada.

— Eu::: estou falando::: sério.

— John, muito obrigado por você está aqui e me fazer sorri. Eu amo você.

— É::: somente::: para que presto:::

— Lógico que não... e você sabe que está fazendo-se de vítima.

— A::: enfermeira novata::: veio comigo::: deixou::: aqui::: e foi.

— Eu estou muito feliz em te ver.

— Você::: não aprendeu nada::: — A respiração de John Lennon cansa. Ele faz uma pausa e continua: — comigo? Eu::: sou::: o que::: sou::: mas sempre::: te amei. — Medeiros mareja os olhos. Ela estica os braços, pegando num dos braços da cadeira, puxando-a para mais perto da cama.

— Eu aprendi sim. — Uma lágrima corre pela sua face. — E foi da forma mais visceral possível.

John Lennon deixa sua respiração falar por ele. Medeiros fica em silêncio, voltando sua visão para sua bota de gesso que vai até o joelho.

— Eu também não acredito que Éris tenha morrido. Você me ensinou que fantasma existe — John continua calado, há algo diferente em seu olhar nesse momento. Um brilho. O brilho de que sua mensagem fora entendida.—, e que volta do mundo dos mortos para cobrar sua vingança.

— Você::: muito emotiva::: gosta::: lembrar do passado.

— Eu também te amo John. — Medeiros toca na mão direita dele.