UMA SÓ CARNE

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O casal está deitado protegido por uma colcha de cetim branca. Devido ao tamanho de Gregório, parece que Medeiros está toda coberta pelos braços dele.

Mesmo tendo colocado no silencioso, o celular da agente não para de acender e apagar, devido à quantidade de mensagens que está chegando.

— Você tem que me deixar sair da cama.

— Não vou te soltar. Nós ainda temos mais alguns minutos.

— Greg, Almeida já passou umas dez mensagens de zap.

— Eu sei meu amor. Mas não consigo te soltar. — Depois de falar, Gregório beija-lhe a boca. — Viajo daqui há algumas horas e não sei quando vou voltar.

Medeiros arranha carinhosamente as costas de Gregório, que arrepia-se.

— Obrigado naquele dia em Garanhuns. — Gregório abre um pequeno sorriso. Medeiros continua: —Lá na casa de Karina.

— Não fui eu quem estava lá. — Medeiros franze o cenho. Ela tinha certeza que havia visto alguém... uma sombra no jardim. — Foi o Aluísio. — A agente surpresa com a resposta, aninha-se nos braços de Gregório. Como se fosse entrar peito a dentro.

— Eu sinto muitas saudades dele. Por que ele não vem me ver?

— E ele também sente saudades suas, meu amor. — Medeiros beija Gregório e passa-lhe sua mão no rosto dele. — Mas ele está bem. Adaptou-se rápido. Fora que, se ele já enxergava as situações de longe, agora triplicou. E para sua pergunta eu não sei responder. Mas vou dar o recado para ele.

Medeiros continua dentro dos braços de Gregório.

— Por que você está rindo? — Medeiros pergunta sem olhar para Gregório.

— Se alguém pudesse te ver assim, aninhada em baixo dos meus braços, parecendo tão frágil, não imaginaria a força que tem. — Medeiros continua calada e com os olhos fechados. — Eu não queria te deixar agora. — É a vez de Gregório puxar gentilmente o rosto da mulher amada. — Mas, o que me conforta, é saber que você não precisa de mim, para se cuidar sozinha.

A agente suspira. Seus olhos estão fitos nos pequenos pingos de chuva, que começam a marcar a janela.

— É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. — Medeiros responde e coloca a metade do rosto em baixo do braço de Gregório. — Antes eu lidava com uma situação por vez... Agora, me encontro no meio de um turbilhão. E sinto que vai piorar.

Gregório a abraça forte e gentil.

— Mas vocês mulheres têm esse dom. Conseguem lidar com todas as situações, problemas, angústia, medo e incertezas sem desconecta-se de nenhuma delas, e no final, sempre dão conta do recado... não adianta me olhar assim, você sabe que estou falando a verdade. — Gregório alisa a face de Medeiros, passando-lhe seu rosto no dela.

— Eu tenho um presente pra você. — Medeiros ao terminar de falar, levanta-se da cama e vai até o guarda-roupa, branco, que fica ao lado da janela. A chuva aumenta a intensidade.

Ela quando volta nua para cama, recebe o olhar insaciável e sacana de Gregório e entrega-lhe uma caixa com um laço vermelho. Na verdade é uma caixinha preta. Um pouco maior que uma caixa de fósforo.

Ele se emociona ao abri-la.

— "As muitas águas não podem apagar esse amor, nem os rios afoga-los." — Gregório ler o texto que está gravado em latim, num pingente de ouro que é uma Lua Cheia, e que tem o tamanho de uma moeda de um real. — Como você sabe da importância desse texto para minha vida?

Medeiros agasalhá-se toda, dentro dos braços dele novamente.

— Você fala muito enquanto dorme. E numa dessas noites, eu gravei o que estava dizendo e mandei para um amigo. Para minha surpresa, era essa frase que você estava repetindo quase todas as noites, enquanto dormia.

— Esse texto é o que está gravado na lápide da minha esposa. — A voz de Gregório engasga. — Eu o gravei com minhas mãos. — Os olhos dele ficam sem piscar, ao viajar para seu passado.

— Meu amor, vamos mudar de assunto então. — Pede Medeiros. Ela não imaginou que fosse algo ligado a famílias dele.

— Eu preciso te contar o que aconteceu com minha família.

— Você quer conversar sobre isso agora?

— Sim. Somos uma só carne. Não terei segredo para você.

A Língua de Deus - COMPLETO - 30/10/2019 - +18 Anos. SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora