A Língua de Deus - COMPLETO - 30/10/2019 - +18 Anos. SEM REVISÃO

COMEÇANDO

— Medeiros como você sabia de todas essas informações?

Medeiros ainda sem olhar para Almeida, continua observando através do vidro da sala, os advogados chegando para falar com os pais dos meninos assassinados.

E agora estão sendo acusados pelos crimes contra Karina Werner.

— Eu mandei uma mensagem para Rafael antes de subirmos no helicóptero... Para ele averiguar o que havia no HD de Karina.

— Você o que? Medeiros não acredito que você buscou informações não autorizadas, via remoto? É isso mesmo que estou ouvindo?

A agente olha para baixo e depois encara o delegado.

— Exatamente isso. Almeida não estou feliz com o que fiz... Se é isso que está martelando sua cabeça. Mas era preciso. Eu não poderia deixa-los livres depois que fizeram.

— A senhora não pode sair por aí invadindo as privacidades das pessoas, simplesmente por julgar que era necessário! Isso é crime! Nós somos a lei.

— Eu sei disso. Mas como já falei não poderia deixá-los livres. Se nós pararmos para refletir, indiretamente, eles também são culpados pelas mortes dos filhos.

— E você ainda tenta justificar suas ações? É isso mesmo que estou ouvindo? Medeiros é correto então roubarmos informações de uma pessoa morta para fazer a justiça acontecer de forma ilegal?

— Eu não roubei as informações! Karina só faltou dizer onde estavam guardadas! Ela deixou tudo no computador... todas as informações esperando serem coletadas.

— Você já parou para pensar que os vídeos podem ser forjados? Falsos? Uma armadilha feita para te destruir?

— Desculpa Almeida. Mas os vídeos são autênticos. Eu verifiquei. — Rafael interrompe o diálogo.

— Eu ainda não terminei com ela, para começarmos! — Almeida depois de olhar demoradamente na direção de Rafael, senta-se.

Medeiros afasta-se da janela e fecha as persianas.

— Almeida escute bem o que vou-te dizer. Karina antes de tirar a própria vida disse-me que alguém pior que ela estaria chegando. Eu sei que não foi a melhor coisa que fiz, e novamente digo que não me sinto bem fazendo dessa forma, mas o jeito como ela se referiu a esta mulher chamada Éris, deixou-me super apreensiva.

— Como assim? Éris? O que você está falando?

— Os crimes não vão parar por aí, Almeida. Infelizmente não gosto de ser portadora de más notícias, porém Karina foi muito clara! Éris estava chegando.

Medeiros coloca café no seu copo e continua:

— Ela contou-me que há uma Irmandade que mata homens, e que vem atuando de forma imperceptível em nosso Estado há varios anos.

— Caramba Medeiros não acredito que você está mudando o foco da discussão por "achismos"!

— Karina se surpreendeu comigo ao descobrir em tão pouco tempo o que aconteceu com os garotos. — Medeiros sorve o café. — Ela ainda comentou que essa irmandade não matava ou apoiava quem matava crianças, porém ela disse uma coisa que não sai da minha cabeça: "elas não se importavam de matar homens, mas os seus filhos sim."

— A cada momento que passa fico mais confuso e estarrecido!

— O que estou pedindo é que você acredite que tive motivos muito reais e verdadeiros para agir assim. Parece que tentaram ou estão tentando me recrutar... E essas mulheres não a deixariam viver depois dessa minha descoberta.

— E como chama-se essa Irmandade?

— Ela não disse... Apenas falou que Éris estava chegando furiosamente para pegar suas presas. Acho que foi assim que me disse. — Medeiros termina de sorver o café

— E ela comentou como essa Irmandade atua?

— Ela disse algo que ainda estou refletindo... Karina se auto intitulou Kali. E que Éris estava chegando. Ela falou muito, mas a situação era muito tensa e ambígua. Eu ainda estou processando tudo.

— Você tem que ter cuidado Medeiros. Sua atitude não foi correta.

— Almeida eu não estou feliz com o que fiz. Não estou mesmo. — Medeiros olha para seu irmão.

— Você só precisa ter cuidado para não misturar o senso de justiça com a ilegalidade. Essas duas coisas são totalmente opostas para quem quer trabalhar dentro da lei.

— Eu sei disso. Há ainda mais outra coisa que precisamos apurar.

— O que seria?

— Karina antes de morrer deu a entender que o trabalho dela não havia terminado... Acho que foi algo desse tipo.

— Então ainda vamos escutar falar dela?

— Eu receio que sim Almeida. Ela afirmou que imaginava que esses crimes se misturariam com os crimes que estão para acontecer... E segundo Karina, eu cheguei a solução desse caso, meses antes. O que deu merda na ideia dela.

Almeida suspira e olha para o lado.

— Ela era doutora em matemática. Karina não podia engravidar, mas através dos números e probabilidades conseguiu realizar o sonho que almejava tanto.

— Almeida — Começa Rafael. — Karina desenvolveu um algoritmo para poder prever e se esconder em baixo das proteções das nuvens, enquanto levava os corpos dos meninos até o local que foram achados.

Rafael descruza os braços e senta-se ao lado de Medeiros e continua:

— Karina pensou em tudo e o que mais me assusta é entender que ela planejou tudo a anos atrás. Ela foi de uma precisão cirúrgica. O que ela não contou é que Medeiros decifraria em poucas horas o código que nos levou até ela.

— De qual códigos vocês estão falando?

— A sequência nas mortes dos meninos. As idades deles apontavam para um evento acontecido em sete de setembro de dois mil e onze. Foi aí que através das buscas conseguimos chegar até Karina. Tenho que dizer que foi muito estranho ver minha irmã parada, olhando fixamente para as imagens que representavam os corpos dos meninos, com elas sumindo e aparecendo consecutivamente até ela ter o insight.

Medeiros olha agradecida para o irmão que continua falando:

— Não gosto do que fiz, mas se o que está a preocupando for verdade, eu faria tudo de novo.

Almeida ajeita-se na cadeira. Respira fundo.

— Parabéns aos dois pelo trabalho que fizeram, mas saibam que essa ação de vocês vai voltar com uma força brutal. Eu espero está errado, mas reconheço quando vejo abutres... E aqueles advogados são das piores espécies, se é possível dizer isso.

O celular de Medeiros e Rafael tocam juntos.

— Mãe está tudo bem? — Pergunta Rafael. O que ele escuta o faz ficar sem ação. Ele imediatamente olha para Medeiros que está falando com Juliana:

— Você acha que ainda não é muito cedo para abrir um boletim de ocorrência? Minha irmã só faz algumas horas que você não fala com ele... Eu não estou colocando empecilho por que não gosto dele... É por que são regras meu amor... Mas não preocupe-se eu vou verificar.

Medeiros desliga o celular e pergunta ao irmão:

— Que cara é essa?

— Gregório chegou em casa e parece que os exames de papai não foram os melhores. Ela deseja conversar com todo mundo. O que houve com Juliana?

— Álvaro sumiu.