Capítulo 8

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A carta que chegou pelo correio era um convite para comparecer a um jantar na mansão do governador. Aparentemente, eu havia sido selecionado para o Círculo de Ouro do Governador, que condecorava os mais destacados acadêmicos do ensino médio do estado.

— Uau! — Robin exclamou durante o jantar, passando o convite para Mamãe. — Como você conseguiu isso?

— É exatamente a minha dúvida.

— Robin! — Mamãe o censurou. — Caso você não tenha notado, meu filho é brilhante.

— Fala sério, mãe. Eu sim, sou um dos melhores alunos da escola, mas ser parte do Circulo de Ouro? Não sou popular a esse ponto.

— Nem tudo é baseado em popularidade— ela disse. — Você precisa prestar serviços à comunidade e demonstrar habilidades de liderança. Sua participação nos esportes é um bônus. Tudo isso sem mencionar que o Oliver faz parte do comitê de nomeação.

— Mãe! Meu Deus. Você envolveu o diretor nisso?

— É claro que não. — Mamãe ficou ofendida. — Foi ideia dele.

Aposto que foi, pensei, trincando os dentes. Mamãe depositou o convite de volta no impecável envelope, deslizando o dedo sobre o selo em alto relevo do governador.

— Vai precisar de algo novo para vestir — ele falou. — Um Smoking. Nada simples.

Mamãe esticou a carta na minha direção. Eu a peguei e joguei sobre o aparador atrás de mim.

— Ainda não decidi se vou. De qualquer forma, só vai ser em março.

— É claro que você vai.

Hannah se agitou e Mamãe enfiou uma colherada de pasta de peru na boca dela.

—Tenho uma ideia melhor. — Arrastei a cadeira para trás e me levantei. — Você vai. O governador vai gostar mais de você, tenho certeza.

— Harry... — A mágoa na voz de Mamãe me paralisou.

Sem me virar, eu disse:

— Mãe, me deixe tomar minhas próprias decisões, ok? Acho que tenho idade suficiente pra isso. — Virei para encarar os olhos dela. — Não acha?

Sem emoção, ela replicou:

— Do jeito que você fala, parece que eu sou uma mãe horrível, intrometida.

Robin bufou. Apelei para ele, mas ele ergueu as mãos no ar, dizendo:

— Ei, eu estou fora dessa.

Mamãe levou outra colherada de peru para a boca da Hannah.

— Confio em você para tomar suas próprias decisões, querido. Você vai fazer a coisa certa. Sempre me deixa orgulhosa.

Lágrimas inundaram meus olhos. Desabando na cadeira, gritei por dentro:

Quando? Quando, mãe? Quando foi que o deixei orgulhosa? Nunca. Se ao menos ela soubesse que faço tudo forçado. Posso ter as melhores notas, fazer um esporte que sou péssimo, mas nada disso é motivo de orgulho. Pelo menos não para mim. O que adianta ela ter orgulho de mim e eu não? Droga. Eu tinha que ir a esse jantar estúpido. Mas o inferno congelaria antes que eu usasse um Smoking.

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Fiquei postado em frente ao meu armário, esperando por Louis e preocupado com o horário. Tinha encurtado minhas voltas na piscina para dar tempo de passar na secretaria e pegar um formulário para ele. Já estava ficando tarde. Eu não ousava me demorar além do sinal por medo da Arbuthnot. Da ira implacável da Arbuthnot. Naquela semana, ela havia massacrado verbalmente uma garota e a deixado às lágrimas por meros dois minutos de atraso. Ela discursou sem parar sobre o que é ser responsável, mostrar respeito por ela e pelos colegas, por todos que faziam o esforço de comparecer à aula pontualmente. Não é preciso dizer que a garota desistiu da disciplina. Muitas pessoas desistiram e eu também teria feito isso, se não precisasse de mais um crédito em Literatura para meu currículo. Ser aprovado em Oxford e Cambridge não era uma tarefa nada fácil.

O sinal soou. Nada de Louis.

Depois do almoço, subi as escadas para a aula de artes. Ele estava sentado à mesa, perto da janela, conversando com o Brandon. Alguma compulsão me fez ir em frente e interromper o pequeno tête-à-tête dos dois.

— Louis?

Ele piscou para mim.

— Sim?

— Trouxe um formulário pra você. — Procurei por ele na minha pilha de cadernos. Ignorando minha presença, Brandon continuou:

— Então, se você quiser vir hoje à noite, posso pegar você depois do trabalho.

— Aqui. — Empurrei a ficha para Louis.

— Certo, obrigado. — Ele sorriu e deixou a folha de lado, em cima dos livros. Em seguida, respondeu para Brandon: — Eu ligo pra você.

Mackel voou pela porta.

— Então, pessoal. — Ele gorjeou. — Já estão com seus materiais?

Fui cambaleando à minha mesa. Winslow já estava lá, rabiscando em uma prancheta.

— Yo — ele falou.

— Yo pra você!

Respirei fundo e tentei esvaziar a mente. O que havia de errado comigo? Um tipo de raiva borbulhante andara me assolando ao longo de toda a manhã, antes mesmo de chegar à escola. Começou com Mamãe me encurralando na cozinha para me lembrar de que Peter viria passar o fim de semana, e será que eu me importaria de não ficar tão ausente? Sim, eu me importaria. Esse era o plano. No final da aula da manhã, a Arbuthnot acrescentou Grendel à nossa lista de leituras obrigatórias, como se eu tivesse tempo livre. Na aula de cálculo, eu ainda não tinha sequer conseguido decifrar por que precisávamos aprender sobre movimento retilíneo uniforme e, se o Mackel nos desse lição de casa, eu atearia fogo nos cabelos dele.

Ele deve ter sentido o calor do meu maçarico.

— Vamos fazer um exercício em sala hoje. — Ele falou. — Vocês devem terminá-lo ao fim da aula. Quero que criem um objeto completamente diferente a partir de outro que seja familiar para vocês. Ressintonizem suas mentes. Ampliem sua visão.

Eu não fazia a menor ideia do que ele estava falando. Objeto familiar. Procurei pelo recinto. Tudo ali era estranho, incômodo. Ele, cochichando com o Brandon. Pare de olhar para ele. Obriguei meus olhos a olhar para a mesa, para a prancheta. Minha mão esquerda estava espalmada sobre o papel. Certo. Algo familiar. Tracei uma linha em torno dos dedos. Estudei o contorno.

Um peru foi tudo o que vi. Winslow esticou a mão e terminou de traçar a barriga debaixo do meu polegar. Nós dois rimos. Precisamos enfiar a cara na mesa para sufocar a risada. Winslow realmente entregou o peru. Eu risquei uma folha por cima da chave do meu jipe e coloquei a legenda: "Isto não é uma chave. Amplie sua visão".

A caminho do meu armário, depois da aula, meu celular tocou. Era a Taylor me lembrando sobre a patinação no gelo amanhã, como se eu tivesse esquecido.

Como, de fato, esqueci, ela disse que me buscaria às dez e acrescentou:

— Boa sorte com a competição. Queria que você me deixasse ir torcer pra você.

— Nem agora. Nem nunca. — Já tínhamos passado por isso. Ela sabia como eu detestava as pessoas na arquibancada, como ficava apavorado de saber que alguém estava ali me observando, esperando por um bom desempenho. Natação não tinha a ver com competir. Tinha a ver com... sei lá. A equipe. Eu. Os garotos.

Enquanto colocava a chave na porta do meu jipe, notei algo preso nas varetas do limpador de para-brisa. Era duro, quadrado e embrulhado em papel vermelho. Jogando minhas coisas no banco traseiro, subi no banco e fechei a porta. Arrancando a fita adesiva, afastei o papel e retirei o objeto de dentro. Era um CD do One direction. Uma onda de calor transbordou de dentro de mim.

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Nosso Segredo (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora