Capítulo 12

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— Vocês vão manter um caderno para registrar suas observações diárias — Mackel nos falou, arremessando uma perna sobre o banco colocado logo à frente. — Não se preocupem com precisão ou realismo. Só quero que prestem atenção em coisas do dia a dia, procurem vê-las de um outro jeito. Quero que desenvolvam sua própria abordagem da arte como expressão pessoal.

Pessoal como? Como pessoal? Meus olhos foram direto para Louis, que estava lendo a revista em quadrinhos pousada no colo. Como eu contaria a ele sobre o clube? Talvez, ele se esquecesse de perguntar. Ou talvez Harvard me aceitasse só por ser bonito.

Mackel continuou:

— Hoje, vamos fazer um exercício. Vamos tentar enxergar em detalhes o que um artista faria. — Ele fez sinal para que alguém na primeira fila apagasse as luzes e abaixasse a tela branca. Pegou o controle remoto do projetor de slides, apertou um botão e iluminou o primeiro slide. — O que vocês veem? — perguntou.

— Uma cerca.

— Dã — Winslow zombou do meu lado.

Mackel perguntou:

— O que mais?

— Neve.

— E?

— O vácuo, o deserto absoluto das nossas mentes — Winslow sibilou.

Mackel riu.

— Melhor. Mas também não vamos dar julgamento e valores sobre os outros. Concentrem-se no que podem ver. Olhem de verdade. Estreitem os olhos, se for necessário.

Sombras, pensei. Alguém gritou:

— Sombras.

— Bom.

Linhas, espaços, formas, contraste, superfícies ásperas, superfícies lisas, frio.

—Harry! — Mackel chamou meu nome.

Eu me encolhi.

— O que você vê?

— Hum... — Engoli em seco, depois expus meu ponto de vista.

Ele avançou para o próximo slide. Eu estava certo? Flagrei Louis olhando para mim e sorrindo. Acho. Continuamos esse exercício por mais quinze minutos, até que Mackel esgotasse os slides e nós esgotássemos nosso entusiasmo. Assim que as luzes acenderam, ele disse:

— Vamos repetir a tarefa da semana passada. Foi minha culpa não ter dado mais instruções a vocês. Fazia anos que não ensinava Desenho Nível I, como vocês podem imaginar. Novamente, escolham um único objeto na sala para desenhar. Concentrem-se na forma. Examinem o objeto cuidadosamente, com mais atenção do que qualquer outra coisa que já tenham observado. Sintam se livres para caminhar e buscar inspiração. Vou tocar um pouco de música. Espero que ela desperte a criatividade que há dentro de vocês. — Ele colocou um aparelho de som em cima do banco e apertou um botão.

Música clássica começou a tocar.

Era tranquilizante. Eu nunca ouvia música clássica. Taylor a chamava de musa do sono. Ela também detestava country. Certo, escolha algo. Uma cadeira, a porta, um vaso de cerâmica na prateleira. Nada muito interessante. Observei o ambiente algumas vezes mais. A única coisa que continuava voltando ao foco da minha visão era a nuca dele. Havia textura ali. Forma, movimento, interesse. Abri meu caderno e comecei a desenhar.

Ele estava esperando por mim no corredor depois da aula. Ótimo. Levando-o até um canto ao lado do bebedouro, falei:

— Eles recusaram.

— Não. — Ele deu um tapa teatral no peito. — Que surpresa! — Encarando o horizonte, ele estreitou os olhos e disse: — Este lugar me dá nojo. Odeio aqui. É como se todos os homofóbicos estivessem exilados nesta escola.

Nosso Segredo (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora