Capítulo 11

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Louis estava sentado no chão, em frente ao seu armário, lendo compenetrado uma revista dos X-Men. O copo de café estava no carpete, ao lado dele, e a caixa de donuts, aberta para o mundo.

— Você vai engordar — eu disse, antes de girar minha senha na fechadura. Não tinha como ser mais grosseiro? Virei-me para pedir desculpas.

Louis não tinha escutado, ou estava me ignorando. Abri meu armário e olhei no espelho. Precisei ficar na ponta dos pés para conseguir vê-lo. Ele tinha dado uma mordida em um donut de chocolate e estava agitando-o no ar, como isca para mim.

Sorri para mim mesmo, sabendo que estava sendo observado. Deixando o armário aberto, fui para o lado oposto do corredor e examinei o que havia na caixa. A maioria dos donuts estavam esmigalhados ou eram sobras amassadas.

— Esses são os piores donuts que já vi. — Abaixei e empurrei a caixa. — Não sei quanto pagou, mas você foi roubado.

Ele fechou a revista em quadrinhos.

— Como não paguei nada, digamos que foi um bom negócio.

— Donuts grátis? — Minhas sobrancelhas saltaram. — Onde?

— Hott 'N Tott. A loja do meu tio. Ou, como costumamos nos referir orgulhosamente à loja e ao meu tio, o Tesão dos Donuts.

Eu ri. E ele sorriu.

— Só consigo pegar de graça porque trabalho lá.

Os músculos da minha coxa estavam repuxando, forçando meus quadris enquanto eu ficava naquela posição. De pé ou no chão? Meus joelhos decidiram. Sentando de pernas cruzadas do outro lado da caixa de donuts, perguntei:

— E onde é esse lugar? O Tesão dos Donuts?

Ele repuxou o lábio.

— Depois da Speer e da Colfax.

Meneei a cabeça, ainda sem saber onde ficava. Isso era como o submundo, do outro lado da cidade. O sinal do início das aulas ressoou acima de nós. Colocando-me de pé, corri para o outro lado.

— Aqui está o formulário — ele disse, de repente ao meu lado.

— O quê? Ah. — O título "Lésbicas, Gays e Bissexuais" saltou logo na primeira linha. Peguei o formulário para criação de clube das mãos dele e li às pressas enquanto fechava meu armário.

— Quando vai ser sua próxima reunião? — Ele perguntou.

— Na verdade, hoje. — Deslizei a folha para dentro do meu caderno. — Durante o almoço.

— Tudo bem. — Ficamos ali parados por um momento, meio sem jeito.

Meu coração estava disparado. Não sei quem se mexeu primeiro, mas começamos a andar pelo corredor juntos. Próximos. Ele parou na divisão do corredor, ou talvez tenha sido eu.

— Depois me conte o que eles disserem — Louis falou. — Vejo você na aula de desenho. — Ele olhou nos meus olhos, segurando-me em um transe.

Quando me dei conta, ele já havia se afastado. Desaparecido na bruma. Respirei fundo e deixei o ar sair devagar. Por que ele fazia com que eu me sentisse balançando à beira de um precipício? Um passo em falso e eu mergulharia no abismo.

Para variar, decidi fazer a reunião do Conselho Estudantil na Pizza Hut do outro lado da rua. O sr. Olander iniciou a reunião nos informando que ele tinha recebido um pedido da administração para ajudar a organizar uma conferência sobre liderança na Southglenn High em maio. Discutimos quantas salas reservar e quais tópicos seriam interessantes. Os detalhes foram se multiplicando exponencialmente conforme a conversa prosseguia, então sugeri que formássemos um subcomitê. Taylor ofereceu a si mesmo e a mim para trabalharmos nele. Isso custou a ela o mais ameaçador olhar de eu-preferia-que-você-não tivesse- feito-isso. Ela sabia que meu cronograma já estava a ponto de explodir.

Nosso Segredo (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora