Era esquisito precisar tocar a campainha da minha própria casa. Ao fundo, pude ouvir o som alto da tevê. O abrir repentino da porta me alarmou.
Mamãe ficou emoldurada no portal, equilibrando Hannah no quadril. Sorri.
— Oi. — Ela não se moveu para abrir a porta externa. Fiquei me perguntando se ela ia me obrigar a ficar do lado de fora ou bater a porta na minha cara.
Ela torceu o trinco e deu um passo para trás. Entrei.
— Recebi sua carta. Eu estava passando por perto, então não liguei antes. Está ocupada? Estou interrompendo algo? Posso voltar outra hora. Amanhã. Ou hoje à noite. Um horário mais conveniente. — Eu estava tagarelando? Por que ela não respondia? Por que os olhos dela estavam lacrimejando?
Ah, mãe. Aproximei-me dela. Ela descarregou Hannah nos meus braços.
— Quer alguma coisa pra comer ou beber? Eu preciso de uma bebida.
— Não, estou bem.
Ela foi para a cozinha.
— Hannie. Ei, lindinha. — Apertei minha sobrinha bebê e respirei nos cabelos dela. Cheirava a talco, xampu e sabão em pó, toda fofa em seu macacãozinho. — Deus, como senti saudades. — Beijei sua cabeça sedosa.
Carreguei Hannah para a cozinha, onde Mamãe estava inclinada sobre a pia, tomando um copo d'água. Eu queria abrir a geladeira e verificar as sobras de comida, ver se tinha algum frango frito. Sentia uma vontade imensa de comer o frango frito da Mamãe.
— Como está você? — Ela perguntou, virando-se. — Seu cabelo está comprido.
— É, acho que vou deixar crescer. — Já que não tenho dinheiro para pagar um corte, eu quis acrescentar.
— Sempre gostei mais dele comprido. — Ela deixou o copo na pia e passou por mim, voltando para a sala. Eu a segui com Hannah nos braços.
Mamãe se sentou no sofá e diminuiu o volume da televisão. Ajoelhei no tapete e pousei Hannah à minha frente, na esperança de que ela começasse a engatinhar. Como se acatasse minha sugestão, ela começou a se mover pelo assoalho como se fosse um tanquinho.
Mamãe e eu rimos. Bom. Isso foi bom. Amenizou a tensão.
— Onde está morando? — ela perguntou. — Com aquele garoto, eu presumo.
Eu ri.
— O nome dele é Louis Tomlinson. E, não, não estou morando com ele. Tenho meu próprio apartamento.
— Como você consegue bancar? — Mamãe disparou.
Isso me deixou furioso, como se ela soubesse que eu não tinha condições. Como se estivesse esperando que eu vivesse na rua, pedindo esmola, lamentando o dia em que a decepcionei.
— Eu dou conta — falei, sem emoção.
A cabeça da Mamãe caiu.
— Me desculpe. Foi injusto perguntar isso.
Minha raiva dissipou.
— Prometi, a mim mesma, que eu nunca faria com você o que meus pais fizeram comigo. Que eu amaria você não importava o que acontecesse. Mas isso... — Mamãe levantou a cabeça e nossos olhares se cruzaram. — Não vou deixar você jogar sua vida fora com aquele garoto.
Uma queimação percorreu minhas vísceras.
— O nome dele é Louis. E o que leva você a pensar...
— Deixe-me terminar — Mamãe interrompeu. — Você tem tanto talento. Tanto potencial. Eu queria acreditar que tenho algo a ver com isso. Você pode fazer tudo o que quiser, Harry. Tem uma vida inteira adiante.
— É, eu tenho — falei. — Com o Louis.
Mamãe bufou irritada. Ela se levantou e atravessou a sala para resgatar Hannah de um canto, onde ela estava com uma chupeta empoeirada a caminho da boca.
— Não entendo isso. Não entendo você. Achei que tivesse mais bom senso.
Meu interior estava em chamas.
Mamãe girou Hannah e a guiou em outra direção.
— Suponho que você esteja passando por uma fase ou uma crise de identidade. Não sei. Nunca aconteceu comigo.
— Isso é porque você não é eu. Não é uma fase.
Mamãe se endireitou.
— Eu conheço você, Harry. Você não é... desse jeito.
Fale, pensei. Pare de negar.
— Sim, mãe, eu sou. Sou gay.
— Ele fez isso com você! — A voz da Mamãe ficou estridente. — Não sei o que ele fez, mas pedi pra mãe dele manter seu filho doente longe do meu. Ele é um pervertido, e fica caçando meninos inocentes...
— Você disse isso pra Johannah? — Ah, meu Deus. — Como pôde? — Me pus de pé. Precisava ir até lá, pedir desculpas para a Johannah. Ah, meus Deus.
— Aonde você vai? — Mamãe falou às minhas costas. — Harry, quero que você venha pra casa.
Isso me fez parar. Quantas vezes tive vontade de ouvir essas palavras? Quantas noites fiquei chorando até dormir, segurando o telefone junto ao meu peito, rezando para que ele tocasse?
— Por favor, me ouça. — A voz da Mamãe suavizou. — Você não sabe o que está fazendo, querido. Não pensou nas consequências, no que está jogando fora. O seu futuro. Seu respeito próprio. Eu sou sua mãe. Conheço você melhor do que você a si mesmo.
Eu poderia ter rido.
— Você não me conhece nem um pouco, mãe. — Eu me virei. — Tudo o que você vê é a pessoa que quer que eu seja. E eu não posso ser ela. Não sou ela. Não posso viver minha vida por você.
Ela abriu os braços.
— Por favor. Venha para casa.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu queria voltar para casa? Sim, mais do que tudo. Não para as paredes, os as-soalhos e as portas abertas. Não simplesmente por me mudar. Mas pelo conforto e pela segurança de saber que eu sempre teria um lar. Todos precisam de um lar.
Minha cabeça rodou, senti que iria desmaiar. Eu queria um abraço da minha mãe, que ela afagasse meus cabelos, eu queria um pouco de carinho.
— E o Louis? — Perguntei. — Ele é bem-vindo aqui?
Os olhos dela se estreitaram.
— Ele tem uma casa.
Então é isso, pensei. O amor incondicional de mãe, um grande mito. Hannah veio engatinhando até mim e se colocou de pé, agarrando minha perna com suas mãozinhas fortes. Eu a levantei bem alto no ar e, antes de devolvê-la a Mamãe, captei uma imagem mental para desenhar.
— Tchau — falei.
— Se você sair por essa porta — ela disse, apontando. —Esqueça que tem uma mãe, e uma família. A única coisa que vai te restar é aquele seu pai que te largou, que não se importa com você. Você sabe, que você não significada nada pra ele. Todo amor que tenho dado a você, será totalmente para Peter, tudo. Seu quarto, seu espaço nessa família.
Balancei minha cabeça para ela. Ela não entendia. Não entendia nada. Eu amava Hannah e também Peter. Ficaria feliz por eles poderem contar com qualquer outra coisa minha.
Fechei a porta atrás de mim, sentindo tristeza por minha mãe. Lamentando por ela. É, eu tinha feito sacrifícios, experimentado perdas. Mas ela não fazia ideia do que isso estava custando a ela. Porque ela estava me perdendo.
Entrei no eu jipe, liguei o motor e comecei a dirigir. Sem rumo, com olhos borrados pelas lágrimas. Doía muito, muito mesmo. As palavras dela ecoavam na minha mente. Ouvia buzinas por todos os lados que passava, eu devia estar dirigindo como um louco. Tentei segurar o choro, mas o que só vinha em minha mente era "Esqueça que tem uma mãe".
—Por que nasci assim? — disse, me odiando.
Eu devia parar o carro e chamar Louis. Mas quando fui fazer isso, era tarde demais. Eu só consegui ouvir pneus cantando e algo bater muito forte em mim.
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Nosso Segredo (Larry Stylinson)
Hayran KurguCom a namorada dos sonhos, o melhor aluno do colégio, futuro presidente do conselho estudantil e a chance de entrar para melhor universidade do Reino Unido, a vida de Harry Styles não poderia estar mais perfeita. Ao menos é o que parece. Até que Lou...