Capítulo 33

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Fiquei na casa do Louis por mais dois dias. Meu celular se tornou minha companhia constante. Eu o verificava a cada hora, checava se estava ligado, se as baterias estavam cheias. Mamãe sabia meu número. Uma vez que não tive notícias dela até a sexta-feira, resolvi parar na frente de casa após as aulas extras. Pelo menos para pegar mais roupas e o dinheiro no meu cofre. Não podia continuar pegando dinheiro emprestado do Louis para a gasolina e o almoço. O carro da Mamãe estava parado na garagem. Minha pulsação disparou. Talvez, quando ela me visse, quando se lembrasse de quem eu sou...

A porta dos fundos estava trancada, então peguei a minha chave e inseri na fechadura. Mas a chave não entrou. Não sei por quanto tempo me detive ali, em negação. Ela estava na cozinha. Pude ver a silhueta dela atrás da cortina. Ela me viu, sei que me viu. A figura dela desapareceu. Registrei a mensagem. Cambaleei de volta para o jipe. Liguei para meu pai e contei tudo. Como sempre ele mal me escutou, disse que estava tudo bem para ele e depositou mil libras na minha conta. Eu não significava nada pra ele. Gemma...não a vida dela já era difícil o suficiente.

Quando entrei pela porta dos fundos da casa do Louis, ouvi ele e a mãe discutindo na cozinha. Louis gritava:

— Por que ele não pode ficar aqui? O que você vai fazer, mandar ele pra rua? 

Johannah falou:

— Sossegue. Isso não vai acontecer, você sabe. Mas eu liguei e conversei com a mãe dele.

Meu estômago doía. Fraquejei um pouco, precisei me segurar nas prateleiras da despensa. A voz da Johannah abaixou:

— Parece que vamos precisar achar um lugar mais definitivo para ele.

Tive vontade de vomitar.

Louis falou:

— Mãe, ele tem que ficar aqui. Tudo o que aconteceu foi culpa minha.

— Não, não foi. — Johannah rebateu. — É preciso duas pessoas pra dançar tango!

— Não quis dizer isso. — Louis estalou a língua. — Quero dizer... — A voz dele vacilou. — É minha culpa.

— Não, não é. — Atravessei a porta. — Sua mãe está certa, Louis. Preciso encontrar um lugar pra morar.

— Não. — Ele correu pelo recinto e me abraçou. — Quero que fique aqui.

— Louis, você sabe que eu não posso. Não assim. — Olhei de relance para Johannah. — É difícil demais.

A expressão do Louis desmoronou. Ele sabia que eu estava certo. Era uma agonia não podermos ficar juntos. Abraçar um ao outro, beijar, e tocar, e dormir juntos. Ele se dirigiu para a mãe, mas eu o puxei para fora da cozinha, antes que ele dissesse algo de que fosse se arrepender depois. Não precisávamos que ambos fossem para rua.

— Louis. — A mãe dele nos parou a meio caminho da sala de estar. — Volte aqui um minuto.

Louis apertou minha mão e se retirou. A mãe dele o abraçou e a beijou. Isso fez meu estômago revirar e eu corri para o banheiro.

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Peter estava pendurado diante do meu armário na manhã seguinte. Literalmente. Ele estava caído como uma boneca de pano, seu cabelo preto seboso varrendo o chão. E havia um canto atonal saindo de sua boca, soando como uma toada fúnebre.

Do seu próprio funeral, eu esperava.

— O que você quer? — Falei.

Ele saltou. A cabeça bateu contra o armário, produzindo um barulho estridente. Ai. Em qualquer outro momento, eu teria me preocupado com uma possível concussão. Porém, agora, não conseguia reunir tanta compaixão.

— Eu só... — Ele engasgou, como se pudesse detectar minhas vibrações homicidas. — Queria conversar com você.

— Não tenho nada a falar com você, Peter. Dá licença? — Indiquei meu armário bloqueado.

Ele saiu da frente. Abri o armário e enfiei dentro dele minha mochila de natação. Recolhi livros e cadernos e, quando fechei o armário, ele ainda estava ali.

— O quê? — Disparei.

— Você tá bem? — Ele perguntou.

— Ah, sim. Estou ótimo. Obrigado por se importar — falei com ironia.

— Eu me importo — ele disse às minhas costas. — Eu queria pedir desculpas.

Desculpas? Fervi por dentro. 

—Desculpas não consertam nada, Peter. Desculpas nem começam a remendar.

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Nas duas noites seguintes, Louis e eu pesquisamos apartamentos nos classificados. O estúdio mais barato que encontramos custava quinhentos dólares por mês.

— Vou precisar arrumar um trabalho — contei a ele. — O que vou fazer?Não posso ficar pedindo dinheiro para meu pai todo mês. Ele paga meus estudos e vai custear a faculdade — O pânico tomou meu peito. — E se eu acabar morando no jipe?

— Não seria tão ruim — Louis falou. — É acolhedor lá dentro. Ponha uma tevê, um abajur.

Eu não conseguia nem improvisar uma careta de zombaria.

— Não se preocupe, lindo. — Ele descansou a testa na minha. — Tudo vai se resolver.

Claro, pensei. Assim como minha vida até aqui.

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No sábado de manhã, Louis me acordou, jogando-se sobre meu cadáver.

— Levanta. É dia de mudança.

Gemi. Nossos bate-papos por telefone à meia-noite estavam dessincronizando meu relógio interno.

Louis falou:

— Não sei por que não pensei nisso antes. — Ele levantou o lençol e se enfiou por baixo, torcendo-se ao meu lado. — Você sempre vai ter uma família agora — ele murmurou. — Você é um de nós. — Ele correu um dedo pelo meu rosto.

— Louis, não faz isso — adverti, cobrindo o dedo dele com minha mão. — Você sabe o que isso faz comigo.

— Saia já daí! — Johannah guinchou, fazendo-me saltar. E Louis também.

— A gente só tava conversando — Louis falou.

— Não importa. Saia!

Louis jogou os lençóis para o alto e passou por cima de mim.

— Vamos, Harry. Nós vamos até o Centro pra checar os auxílios moradia. Como eu disse, você tem uma família de verdade agora. — Ele cravou um olhar na mãe.

Eu me conformaria com qualquer coisa próxima a "de verdade".

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Nosso Segredo (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora