Capítulo 29

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Ao olhar-me no espelho, poderia pensar que era o mesmo Harry Styles de sempre. Contudo, eu não era mais o mesmo. Havia descoberto essa parte de mim, no centro do meu ser, que me fazia sentir genuíno e vivo. Mais consciente do meu lugar em relação aos outros. Em relação a Louis, claro, mas também ao restante do mundo. Consciente do que o mundo pensava de mim e do que poderia fazer comigo. Louis tinha razão... De repente, desabou sobre mim a percepção da minha vulnerabilidade. Porque importava o que as pessoas pensavam.

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Da minha cabine de estudo, nos fundos do centro de mídia, vi um carro abarrotado de gente fazendo a curva e acelerando. Provavelmente, indo para o McDonald's ou o Taco Bell. Fechei os olhos e suspirei. Meu isolamento autoimposto estava começando a me desgastar.

Sentia falta dos amigos, do Liam, do Niall e até da Taylor —que agora ela mal ficava comigo, toda estranha — .Sentia saudades do bate-papo, das risadas. Sentia falta de sair para almoçar, para patinar ou ir a qualquer lugar em grupo. Não é que Louis não preenchesse minhas necessidades. Ele preenchia. Eu só queria que mais pessoas participassem da minha vida.

— Você está guardando este lugar para alguém?

Minha cabeça girou.

— Liam, oi. — Eu me animei. — Não. Senta. — Virei-me e gesticulei para que ele viesse se sentar na cadeira ao meu lado.

Ele se acomodou.

— O que está acontecendo com você? — Ele perguntou.

O sangue subiu ao meu rosto.

— O que quer dizer? — Abaixei a cabeça, fingindo uma tentativa de achar a página onde havia parado em Os Contos da Cantuária.

— Liguei pra você quatro vezes esta semana e você nunca me ligou de volta. O que eu fiz? Você está bravo comigo?

— Não, não estou.

O olhar dele me prendeu. Havia mágoa em seus olhos.

— Liam, você não fez nada. Não estou bravo com você. Juro. — Cruzei os dedos sobre o coração duas vezes, como costumávamos fazer quando crianças.

Liam me estudou por um bom tempo.

— A gente nunca mais viu você. Eu nunca vejo você. É como se você tivesse deixado o planeta. Parou de almoçar conosco, nunca vem à minha casa, nem me liga.

— Só estou com coisas demais a fazer — contei a ele. — Coisas demais. — Para provar, comecei a descarregar a mochila sobre a mesa da cabine. — Estou tão soterrado neste semestre que vou ficar louco.

Liam examinou meu rosto. Eu não conseguia nem encará-lo. Em uma voz mais baixa, ele perguntou:

— Você quer conversar sobre isso, Harry? Porque, você sabe, eu sou seu amigo, não importa o que aconteça. Você pode me contar qualquer coisa.

Uma pontada de medo se alojou na minha espinha. Ele não estava se referindo a Taylor. Ele sabia. Será que ela havia contado a ele? Ou era minha imaginação correndo solta? Por que me assustava tanto a possibilidade de Liam saber?

Mais do que tudo, eu queria contar a Liam que meu coração estava à beira de explodir com o amor que sentia pelo Louis. Mas eu não podia. Não iria.

— Não tenho nada pra contar. — Fingi um sorriso alegre e dei de ombros.

— Certo, tudo bem. — Liam se levantou para ir embora.

— Liam...

Ele enganchou a mochila no ombro.

— Sinto muito — eu disse às costas dele, retirando os óculos e esfregando os olhos. — Não é você. Sou eu. Eu só... não posso.

Ele se virou.

— Nós somos melhores amigos, Harry. Você pode me contar qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, que vou continuar amando você.

Lágrimas encheram os meus olhos. Não era isso. Eu me virei para a janela. Não é que eu não quisesse confiar nele.

— Harry?

Dominei o meu colapso iminente.

— Ligo pra você hoje à noite. Tudo bem? — Voltei-me para ele e sorri. — Prometo. Assim que eu chegar em casa.

Ele me lançou um olhar caloroso.

— Tudo bem. Eu vou estar lá, esperando.

Enquanto eu o observava atravessar as portas do centro de mídia, reconheci minha mentira. Não ligaria para a Liam. Não podia. Porque, se começássemos a conversar, eu não confiava que conseguiria manter a promessa que fiz a Louis.

O clima estava excepcionalmente quente para a primeira semana de março.

Depois de atender a todas as aulas extras, me empoleirei no banco de uma parquinho próximo da escola, absorvendo o sol, me impregnando com o brilho da vida. Um grito lancinante vindo do balanço cortou meu devaneio. Por que as crianças pequenas têm que gritar tanto?, me perguntei, sorrindo comigo mesmo. Porque elas amavam o som da própria voz. E eu adorava as vozes delas. Uma súbita onda de tristeza me agarrou. Talvez eu nunca tivesse filhos.

Essa dor me roeu por dentro. Crianças. E as crianças?

Havia algumas formas de tê-las, suponho. Não é? Adoção. Poderíamos adotar? Eu nem sabia. Barriga de aluguel.Colocar o meu sêmen no corpo de uma mulher que você nem sequer conhece? Eca. Isso quase me fazia desejar ter engravidado Taylor. Ela seria uma excelente mãe.

Talvez eu pudesse pedir para a Taylor...

Não. O que eu estava pensando? Eu a estaria usando. Assim que ela engravidasse, eu voltaria para Louis. Eu iria querer que nós dois criássemos nossos filhos juntos. E se eu nunca tivesse filhos?

Uma criança passou ao meu lado chorando. Voltei à vida, levantei do banco. Nem sequer notei que estava escurecendo. Relutante, fui para a casa.

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Nosso Segredo (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora