Capítulo 21

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O toque do meu celular me despertou. Com a boca entorpecida, agarrei-o de cima da cômoda e resmunguei:

— Alô.

— A que horas você vem? Pensei que tivéssemos combinado às dez.

Lutei para me sentar, olhando de relance para o relógio.

— Que horas são?

— Quase onze — Taylor respondeu.

— Tá de brincadeira. — Arranquei o edredom e chutei os lençóis amarrotados procurando pelo chão. Nunca dormia até tão tarde. Eu havia sonhado... o Aphrodisium tinha implantado em mim uma ou duas sugestões subliminares. — Já vou estar aí. Só preciso me vestir.

Que dia era? Para que eu ia ver Taylor?

— Esquece — Taylor falou. Não soou nada feliz.

— Sério, eu vou estar aí em dez minutos. Nove.

— Aonde você foi a noite passada? Eu liguei e sua mãe disse que você tinha saído com o Peter. Como se eu pudesse acreditar nisso.

Uh-oh. A culpa cutucou minha consciência. Depois a raiva superou a culpa.

— Tenho que te dar um relatório de cada noite? Você vai ficar me controlando agora?

— Não. — Ela parou. Sua voz baixou. — Eu só quero saber onde você esteve, Harry.

Meu coração afundou no peito. Ela merecia saber? Sim. Em todo caso, qual era o problema? Nada havia acontecido.

— O Peter e eu fomos a uma apresentação de arte performática.

— Por quê?

— Nossa, não sei. Porque existe? — Eu precisava pedir permissão para ter uma vida agora? — Se você quer que eu vá até aí, preciso desligar.

— Tenho que ir para o trabalho em meia hora — ela disse. Soltou um longo e alto suspiro. — Arte performática, hein? Por que o Peter convidou você? Ele não podia chamar alguma dos amigos trevosos para ir? Hã?

Ah, Taylor. Fechei os olhos.

— Acho que não.

— Ligo pra você depois — ela disse. — Ou você pode ligar.

— Tudo bem, eu ligo. — Desligamos e fechei o celular.

Eu deveria tê-la chamado para ir comigo na noite passada, já que Louis mal registrou minha existência. Isso não era verdade. Ele ter ficado contente por me ver não foi imaginação minha. Senti uma corrente elétrica passando entre nós, mesmo com Peter ali. Então, veio aquele Josh e cortou o fio que nos ligava. O celular acenou para mim. Eu o abri novamente e apertei os números. Os números que tinha memorizado. Tocou uma vez, duas vezes... Meu estômago deu um nó. Desliguei. Fiquei parado. Apertei o botão do redial.

Tocou uma vez, duas... E quando eu estava prestes a desistir, uma voz disse:

— Sim, alô?

Desliguei. Era a voz de uma garota. Caí de costas na cama, depois reabri o celular e apertei o redial de novo.

— Alô — ela respondeu.

— O Louis está? — Minha voz soou como a de um garotinho assustado.

Detesto isso.

— Um segundo. Louis! — Ela berrou. Houve um momento de silêncio, depois: — Louis, atende a porcaria do telefone. — Não havia como ser a mãe dele; talvez a irmã? Ela voltou e disse: — Não. Não está aqui. Quer que eu peça pra ele te ligar?

— Não — falei apressado. — Outra hora eu falo com ele.

— Falou! — Ela disse e desligou. Meu coração estava esmurrando cada osso da minha caixa torácica. Eu queria tanto vê-lo que chegava a doer.

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Nadando. Para cima, para baixo, contando braçadas. Uma, duas, três, quatro. Inspira, expira. Tocando, retraindo, para baixo, para trás. Ele. Tudo era ele. A luz, a sombra, o dia, a noite. Ele. Ele. Ele era meu primeiro pensamento na manhã e meu último durante a noite. Ele havia se apoderado da minha alma. Estava dentro de mim, me consumindo, me compelindo a...

Quê?

Afogue isso. Lute contra a corrente. Você pode, Harry. Você é forte. Resista. Pode suplantar as forças da natureza. Você deve. Nade. Lute. Conte. Conte.

Não posso. Não posso. Não posso.

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Ele estava apoiado no meu armário, esperando, bebericando seu café. Quando me viu chegar, se pôs de pé e sorriu. Derreti. Hoje, ele estava com uma camiseta que dizia: TENHO UMA CONSCIÊNCIA QUEER. E VOCÊ?

— Oi — ele falou. — Obrigado por ter ido à minha apresentação.

Pega leve, Harry, meu cérebro avisou.

— Sem problemas. Me fale da Unidade. Como vocês se juntaram? — Estiquei o braço em volta dele para abrir o meu armário.

— Dois de nós nos encontramos no Departamento de Teatro do centro. Eu tive a ideia e colocamos um cartaz no mural. Por quê?

— Só estava imaginando. — Leve, bem leve. Peguei meus livros da manhã, tentando não sentir a respiração dele, o sangue dele pulsando nas minhas veias. — Então, por que você se transferiu?— Perguntei, fechando meu armário.

Ele não respondeu.

Abraçando os livros de encontro ao peito, comecei a andar pelo corredor e ele caminhou ao meu lado. Perto, perto demais. No cruzamento principal, paramos. Olhei para ele, minha pergunta ainda pairando no ar. Um grupo de garotos passou por nós, e eu nem teria notado se não fosse pelo fato de um dos garotos medir Louis de alto a baixo. Ele olhou a camiseta com uma careta de desprezo. Louis deu as costas para eles.

— Não era um ambiente saudável — ele finalmente respondeu.

Eu ironizei:

— E este aqui é melhor? — Achava difícil de acreditar.

Ele fitou o corredor na direção dos nossos armários, o olhar distante.

— Talvez — ele disse. — Estou esperando para descobrir.

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Nosso Segredo (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora