Capítulo 36

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Estávamos sentados em uma cabine, dividindo uma caixa de restos de enroladinhos de canela e reabastecendo os porta-guardanapos quando Louis levantou o rosto e sorriu. Virei-me. Peter estava postado diante do balcão, envergonhado.

— Eu trouxe as suas coisas — ele murmurou, empurrando duas sacolas de lixo cheias na minha direção.

Então é a isso que minha vida ficou reduzida, pensei.

Peter acrescentou:

— Ela ia jogar tudo fora.

Uma dor percorreu meu coração.

— Meu cofre está aí? — Cortei.

— Não. — Peter disse. — Ela ficou com ele. Ela disse que... — E parou.

Meus olhos se estreitaram.

— Ela disse o quê?

Peter levou o polegar até a boca e começou a roer.

— Nem precisa dizer, eu posso adivinhar. — Mesmo que ela nunca tivesse expressado esse sentimento, eu sabia que Mamãe sentia como se eu devesse a ela tudo o que eu possuía. — Como você sabia onde me achar? — Perguntei a Peter.

Ele e Louis trocaram olhares. Fitei-os.

— Acho que ouvi os enroladinhos de canela me chamando — ele disse, saindo apressado da cabine. — Vocês dois, conversem. Vocês precisam um do outro. — Louis tocou no ombro de Peter e acrescentou: — Conte a ele.

Meu olhar abocanhou Peter.

— Me contar o quê? Por que você me expôs?

— Não fui eu. — Peter cuspiu a cutícula. — Nunca faria.

Meu olhar sustentou o dele. Ele abaixou a mão e repetiu:

— Não fui eu.

— Mas você pediu desculpas.

— O quê? — As sobrancelhas dele franziram. — Ah, sim. Por não ter defendido você naquela noite, não ter ficado do seu lado. Eu deveria ter feito isso. Mas é que tudo aconteceu tão rápido.

Examinei o rosto dele, procurando a verdade e não conseguindo encontrar nada, senão um vago sinal.

— Senta. — Gesticulei para a cadeira de plástico que havia ficado vazia à minha frente.

Peter se acomodou. Ofereci a ele um pedaço de enroladinho da caixa. Ele balançou a cabeça, depois levou o polegar à boca e começou a roer de novo.

— É difícil falar com você enquanto faz isso — eu disse.

Ele abaixou a mão.

— Não fique bravo com o Louis — ele disse. — Fiz ele me contar onde encontrar você. Eu estava preocupado.

Ele estava preocupado comigo? Meus ombros caíram. Pelo menos, alguém se preocupava comigo. Senti-me culpado por acusá-lo, por xingá-lo a cada vez que esmagava uma barata no meu banheiro.

— Então — eu disse, forçando um sorriso —, como está você? Como estão as coisas?

Os olhos dele encontraram os meus. Ele pôs a língua para fora como se fosse vomitar.

— Você sabe quem contou a ela sobre mim?

Os olhos da Peter resvalaram pela mesa.

— Acho que sei.

Esperei. Ele não se ofereceu para compartilhar a informação. Eu queria dar um bote, agarrá-lo pelo pescoço, forçá-lo a olhar para mim, falar comigo, contar...

Nosso Segredo (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora