O BAILE
Pela manhã fui forçada à acordar por conta de Alyssa, minha melhor amiga que não desistiu um minuto sequer de me ligar.
Enquanto procurava o celular embaixo das cobertas, fiquei pensando: Como um vinho tomado sem a intenção alguma de se embebedar pode nos trazer tanto arrependimento e dor de cabeça no dia seguinte?!
— Heloísa.
— Eu sei que é você. - respondeu bem humorada do outro lado.
— O que você quer logo cedo, Alyssa?
— Adoro o seu bom humor matinal. - ironizou. — Apronte-se, irei passar em seu apartamento daqui alguns minutos.
— Por quê?
— Querida, acorda. - ela gritou fazendo com que minha cabeça doesse ainda mais. — Hoje é o baile de máscaras da escola e nós duas estamos tão atrasadas que nem compramos nossos vestidos, em qual planeta você está?
Alyssa era a pessoa mais paciente do mundo!
— Uau, me desculpa eu havia esquecido. Vou esperá-la.
E sem mandar um ''tchau'' desliguei.
Todo ano, no início de Julho/Agosto ou mais precisamente período de voltas-aulas, a escola prepara um baile com um tema específico para dar às boas-vindas aos alunos, mas acontece que desde que me conheço por gente, ou desde que comecei a estudar lá, me falta ânimo para ir.
Aprontei-me depressa, pois além de tudo, Alyssa não era muito paciente para suportar os meus atrasos.
Assim que tranquei a porta do apartamento e fui em direção ao elevador, a porta de outro apartamento, quase ao lado do meu, abriu-se abruptamente me assustando.
— Nossa, que susto. - falei colocando minha mão, próxima ao coração.
Olhei para o espelho à minha frente e notei que um rapaz muito alto dos olhos claros me encarava.
— Não sei se você sabe, mas este espelho é de minha propriedade.
Ríspido.
Nenhum pedido de desculpas. Ele se preocupou logo com o espelho que estava no corredor.
Virei pra ele o encarando assim como ele estava fazendo comigo.
— Acredito que se é de sua propriedade, ele deveria estar dentro do seu apartamento e não aqui no corredor onde as pessoas podem se verem à todo momento.
Fui tão ríspida quanto ele.
— Como você é grossa. - questionou.
— Olha só quem está falando de grosseria. - ironizei. — Acredite, trato os outros da mesma forma que eles me tratam.
O assunto morreu ali e o elevador finalmente chegou.
— Amiga que cara feia. - Alyssa diz ao ver-me no hall do prédio.
— Você me acordou queria que eu fizesse cara de felicidade?
— Fala sério. Temos menos de quatro horas para o baile e você ainda quer dormir? - perguntou perplexa.
— Quero. A propósito, você é um pé no saco.
Havia uma diferença muito grande entre eu e minha melhor amiga. Ao contrário de mim, seus pais que eu considerava como meus também, tinham várias casas de aluguel, uma empresa que continha mais de cinquenta funcionários e muito, muito dinheiro. Tínhamos uma diferença de idade também, onde ela havia acabado de completar dezoito e eu estava com vinte e um, extremamente atrasada na escola, mas ainda sim, terminando finalmente o último ano. No meu caso, perdi os meus pais muito cedo e fiquei a mercê de uma tia que me maltratava por demais. Ela ficava com toda a pensão que eu recebia dos meus pais, gastava horrores com ela e suas filhas enquanto eu sempre andava mal vestida, com os piores materiais escolares do universo e afins. Quando completei a maioridade, chutei o pau da barraca e peguei todo o dinheiro que ela guardava embaixo do colchão.
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A garota do 169
Roman d'amourCom a perda repentina dos pais em um acidente de ônibus quando tinha apenas dez anos de idade, Heloíse ou Helô como gosta de ser chamada teve que aprender com muita força de vontade a se virar sozinha. Com um grau de desastre aflorado, Helô era do...