22. Não espere que eu te perdoe

2.4K 178 1
                                    

- Oi filha...

O observei minuciosamente, ele parecia abatido, não lembrava mais o juiz que prezava pela boa reputação acima de tudo, até mesmo acima da felicidade da própria família.

Eu não sei explicar, mas senti compaixão olhando para ele. Fazia tantos anos que ele não me chamava de filha, eu tinha tantas mágoas guardadas dentro de mim em relação a ele.

- Pode entrar, pai...

Eu não sabia se Liz aprovaria isso se estivesse aqui, mas me pareceu certo colocá-lo para dentro de casa.

- Como você está?
- Eu tive que aprender a me cuidar sozinha muito cedo, então estou me virando, como sempre.

Um silêncio tomou o ambiente, fui até a cozinha, peguei uma xícara de café para o meu pai e a entreguei para ele.

- Não precisava...
- Eu sei que você gosta de café e você me ensinou que nunca devemos deixar as visitas de mãos vazias.
- Obrigado filha...
- O que te traz aqui?

Eu não estava com muita paciência para "rodeios", eu só queria entender o que estava acontecendo e acabar logo com essa situação.

- Tudo o que andou acontecendo me fez repensar na minha vida.
- Tudo o que?
- Coraline está grávida e me abandonou, os idiotas que quase tiraram você e sua irmã de mim pra sempre, o Luigi indo pra Lisboa, sua mãe indo pra Itália. Eu pensei comigo mesmo: "Do que vale ser grande na carreira e não ter com quem compartilhar os bons frutos?". Eu não quero mais viver só pela carreira...

Meu pai tinha me perdido quando me bateu, me xingou de vagabunda e disse que eu não era mais filha dele, mas eu achei que o momento não era propício para fazer essa observação.

- Eu quero me aproximar de vocês e para mim é muito difícil ter que te encarar, eu fui insano, eu expulsei a minha princesinha de casa e você teve que se virar... Ainda assim você se tornou uma bela mulher, forte, corajosa, inteligente...

Apenas assenti.

- Você não pode chegar na porta da minha casa e esperar que eu te perdoe. Você não tem noção de todo o sofrimento que impôs a nossa família, você pode até imaginar, mas só nós sabemos o que passamos... - respirei fundo antes de continuar - Eu era a sua garotinha e, do nada, você me acorda numa maldita manhã, grita comigo, me chama de vagabunda, me bate e me expulsa de casa e nem me dá a chance de contar a minha versão da história.

Aquilo estava guardado dentro de mim há muitos anos e eu precisava me "esvaziar" se quisesse recomeçar.

- Na época ninguém quis me ouvir, eu fui atrás dos Cavallero para tentar esclarecer tudo e adivinhe, dei com a "cara na porta" - fiz aspas no ar - na escola eu fui atrás do Felipe e do Daniel e nem eles quiseram me ouvir.

Eu estava chorando. Tirando a "minha armadura" para fazê-lo entender porque perdoá-lo era algo improvável de acontecer tão cedo.

- Eu realmente perdi a minha virgindade naquela noite, mas eu não tinha ideia de que o Daniel gostava de mim até depois de tudo acontecer! Foi muito duro ter que sair da cidade e ir para um lugar novo estando totalmente desajustada mentalmente. Você me chamou de vagabunda e eu sou sua filha, não sou uma qualquer!

Eu estava gritando. Um turbilhão de emoções tomaram conta de mim e me fizeram estourar de um jeito que eu não fazia há muitos anos.

- Então por essas e por outras você não pode esperar que eu te perdoe facilmente, eu fico feliz de ver que você reconheceu os seus erros, mas os danos causados por eles são irreversíveis. Talvez a Coraline ter te largado tenha sido uma coisa boa, você finalmente percebeu que ser daquele jeito só estava te afastando do que realmente importa.

Meu pai estava chorando, era muito triste ver um juiz respeitável percebendo que perdeu as melhores coisas da vida.

Ficamos nos encarando por um bom tempo, então ele disse:

- Acho que mereci tudo isso, eu realmente não fui o melhor pai de todos, pelo contrário, não cheguei nem perto e hoje eu reconheço isso, mas eu não me perdoaria se ao menos não tentasse falar com vocês, especialmente com você.

Eu não sabia o que falar. Fiquei encarando o chão e deixei o silêncio retomar conta do ambiente. Finalmente eu me sentia vazia, mais leve, e a sensação era maravilhosa.

 Finalmente eu me sentia vazia, mais leve, e a sensação era maravilhosa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Proibido para mim - Livro 06 (Série Família Cavallero) [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora