- Acho que ela já foi - Meliodas murmura consigo mesmo ao empurrar a cortina para o lado, a fim de bisbilhotar a rua procurando por sua ex.
Um sorriso molda seus lábios e ele se afasta da janela, girando o corpo nos calcanhares ele pega sua carteira, chaves do carro e seu celular para enfim sair do apartamento.
Parado em frente as portas de metal do elevador Meliodas arruma seus cabelos da forma mais rápida que consegue e entra no cubículo de paredes espelhadas, ele aperta o botão do térreo e espera pacientemente as portas fecharem-se. Em silêncio ele pensa em mil maneiras diferentes de pedir desculpas para Elizabeth, um suspiro ressentido escapa de seus lábios e ele apóia a cabeça no vidro frio.
- Por que nós fizemos aquilo?
Meliodas saí apressado do elevador e cumprimenta o zelador do condomínio antes de ir porta à fora, a procura de seu carro entre os dos outros vizinhos. Os faróis acendem assim que ele aperta o botão para destravar o alarme e também para diminuir seu tempo de procura, sorrindo ele se direciona até o Veloster cor prata perfeitamente estacionado.
Ele entra e liga o carro, imediatamente uma música qualquer começa a tocar e com uma careta Meliodas desliga o som, os gostos musicais de Zeldris deveriam ser questionados. O loiro saí do estacionamento e toma a direção para a casa de Elizabeth, a alguns quarteirões de distância, nervosamente ele bate os dedos contra o volante e sente as palmas das mãos ficarem molhadas de suor, com o cenho franzido ele esfrega as mãos nas calças e espera sem muita paciência o semáforo abrir.
Após quase vinte minutos preso em um trânsito que ele julgou ser infernal, Meliodas desce do carro e bate a porta, seus olhos vasculham a rua calma a procura do carro que Elizabeth as vezes pega emprestado de Margaret, mas não o encontra.
- Ela deve estar em casa - Ele suspira aliviado e põe as mãos no bolso da calça antes de caminhar até em frente os portões automáticos, ele estica a mão e aperta a campainha somente uma vez e espera que abram o portão.
Entretanto, para sua surpresa, Baltra abre a porta da casa com um semblante confuso.
- Meliodas, aconteceu algo?
- Não - O loiro dá de ombros - Eu vim falar com a Elizabeth.
- Ah - As sobrancelhas claras do senhor Liones arqueiam-se em perfeito espanto.
Então Elizabeth ainda não contara a ele?
- Claro - Baltra sorri e abre o portão para que Meliodas entre - Vamos conversar um pouco antes que ela chegue.
- Tudo bem - Meliodas sorri e acompanha o outro até dentro da casa perfeitamente decorada por Margaret.
- Quer tomar alguma coisa? - Baltra olha por cima do ombro para verificar se Meliodas está seguindo-o.
- Claro.
- Estou de folga, então te acompanho na cerveja - Após pegar duas garrafas long neck, Baltra oferece uma para o loiro que aceita e com facilidade abre a tampa e sorve um gole do líquido levemente amargo.
Seus olhos verdes não deixam de procurar por vestígios de Elizabeth pela cozinha ou no corredor.
- Você parece estar com o pensamento longe - A voz de Baltra traz Meliodas de seus devaneios e ele sorri fraco tomando mais um pouco da cerveja.
Com um suspiro inaudível Baltra empurra seu notebook para o lado e apóia suas mãos no tampo de vidro da mesa, sem deixar de notar o quão disperso Meliodas parece sobre as coisas que acontece em sua volta.
- Quer conversar sobre o que está te deixando assim?
- Hum...? - O loiro puxa a cadeira em frente ao outro e se senta, colocando os braços sobre o vidro - Não é nada demais, não se preocupe.
- Meliodas - A voz do patriarca dos Liones exibe um leve tom de repreensão, provavelmente o mesmo já notara que Meliodas esconde alguma coisa - Eu te conheço desde pequeno, sei que está acontecendo alguma coisa que não quer me contar.
Meliodas abaixa a cabeça e morde seu lábio com força, negando-se a falar para Baltra o que realmente houve. Afinal não seria fácil dizer "eu deflorei sua filha e ela se recusa a falar comigo, simplesmente passou a me ignorar"
- Não é nada de mais, senhor Baltra - Ele sorri tentando passar confiança - Sabe que eu nunca esconderia nada do senhor.
As sobrancelhas do Liones se juntam mostrando que o mesmo não caira em sua mentira, porém Baltra meneia a cabeça concordando.
- A Elizabeth... Ela vai demorar? - Meliodas troca de assunto e toma mais um gole da cerveja artesanal.
Desta vez Baltra não esconde seu suspiro e leva a garrafa de vidro até seus lábios, tomando quase toda a cerveja de uma vez.
- A Ellie... Ela...
Silenciosamente Baltra amaldiçoa-se por não conseguir falar de uma vez, que Elizabeth, pediu para que ele não contasse a Meliodas que ela não estava mais na cidade.
Os olhos do loiro arregalam-se e a mão que segurava a long neck treme levemente.
- Aconteceu alguma coisa com a Elizabeth?! - A voz de Meliodas sobe duas oitavas, quase ecoando pela casa toda.
- Não, não é nada disso - Baltra o tranqüiliza - Ela apenas não está aqui.
- Ah, ela saiu.
- Não, Meliodas, a Elizabeth não está aqui em Liones.
- O quê? - O loiro sussurra abalado.
- Ela foi embora daqui há três dias...
A voz do patriarca dos Liones desaparece e somente o apito ensurdecedor prevalece nos ouvidos de Meliodas, que, desorientado larga a garrafa de cerveja e põe as mãos na cabeça, o turbilhão de pensamentos deixam-no pior ainda.
A sensação de aperto no peito que ele sentira dias atrás era isso, era Elizabeth, sua melhor amiga, deixando-no para trás como se não fosse nada.
- ... Meliodas? - A mão de Baltra sobre seu ombro o arranca a força de seus devaneios e ele ergue a cabeça para fita-lo, porém os olhos marejados mal o deixam enxergar alguma coisa.
Meliodas fecha às mãos em punho e tenta inutilmente segurar a vontade de chorar que faz sua garganta doer e o nariz entupir. A única vez que lembrava-se sentir essa dor emocional, fora quando descobriu que estava órfão de pai e mãe por causa de um acidente.
Os olhos claros de Baltra lhe observando, apenas faz com que sua dor fique pior e lentamente as primeiras lágrimas escorrem por seu rosto.
- E-ela me deixou - Meliodas sussurra tristemente e aceita de bom grado o abraço do homem que considera seu pai - Ela me deixou Baltra!
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Lies
FanfictionO que nós fizemos Meliodas? Isto foi errado, melhores amigos não trocam carícias, não se beijam, melhores amigos não transam e nem trocam juras de amor. Cometemos um erro que, infelizmente, danificou nossa cumplicidade. Não posso ficar e fingir que...