Seu queridinho

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O caminho fora feito em silêncio por parte do rapaz de cabelos negros revoltos, o barulho de crianças e adultos passando aos berros não lhe afetavam, perdido em pensamentos com as mãos enfiadas nos bolsos da blusa de moletom azul anil, Zeldris chuta algumas pedrinhas que estavam em seu caminho e ergue a cabeça verificando se está perto do parque que é caminho para ir até o apartamento que divide com seu irmão preguiçoso; para sua surpresa o parque já havia ficado para trás e o prédio de cor pálida está a sua frente.

Sem ânimo ele acena para o porteiro que abre o portão para que o mesmo passe, em silêncio Zeldris caminha em direção ao elevador porém desiste após ver um grupo de crianças barulhentas esperando o elevador, sem emitir ruído ele empurra a porta que indica as escadas e encara os degraus cobertos por um tapete emborrachado opaco, seu olhar sobe para os próximos dez lances de escada e ele resmunga subindo os primeiros degraus.

                       ★★★

Deitado no sofá macio e apoiado confortavelmente em algumas almofadas cor de oliva, Estarossa assiste a um filme estranho para o trabalho da faculdade, porém sua atenção é completamente desviada para o barulho das chaves girando na fechadura e a porta é aberta, murmurando reclamações ofegantes Zeldris tira seus tênis e a blusa que o sufoca, as sobrancelhas negras juntas apenas deixam claro para o rapaz sentado no sofá, que alguma coisa não está certa.

- O que aconteceu? 

- Tudo aconteceu. - Zeldris responde seco - Meliodas aconteceu.

- Isso foi culpa dos nossos pais.

- Eu não estou com graça, Estarossa. 

- Certo - O rapaz de cabelos cinzas pausa o filme na televisão e da dois tapinhas no espaço vazio ao seu lado - Senta aqui e conta pro' seu irmão legal o que aconteceu.

Estarossa esconde um sorriso ao ver que a reação de Zeldris ainda o lembra quando eram crianças, de braços cruzados e expressão emburrada o moreno caminha até o sofá e se joga alí, encarando suas meias escuras.

- E então?

- Eu discuti com o Meliodas - Zeldris diz rapidamente.

- Por quê? Não é você que sempre o protege por ser o irmão mais protetor em relação a nós e blá blá blá?

Zeldris encara Estarossa por longos segundos e em seguida revira os olhos.

- Meliodas está um pé no saco, tem razão da Liz tê-lo deixado e a Elizabeth ter vazado.

- Hey Hey - Estarossa ri - Por que todo esse mau humor?

- Aquele filho da... mãe - Zeldris morde o lábio impedindo de proferir algum palavrão - Explodiu o celular dele na parede porque a Elizabeth desligou a ligação.

Estarossa assovia admirado e se encosta nas almofadas sem deixar de observar o mais novo.

- Você está me escondendo alguma coisa?

- Eu briguei com ele e ameacei chamar o tio - Zeldris desvia o olhar - E o Meliodas disse que eu sou o único menor de idade e que se o tio quiser ele pode me levar.

A expressão tranquila do rapaz se torna espantada com a confissão do irmão.

- Aquele filho da puta disse isso?!

Estarossa exclama furioso e a expressão magoada de Zeldris apenas deixa tudo pior.

- O tio não vai te levar porque você está sob meus cuidados, mas ele vai por o Meliodas na linha.

- Você vai fazer o quê? - Zeldris ergue o olhar ao notar que o outro levanta do sofá tempestuosamente - Irmão!

- Eu vou ligar para o nosso tio - Estarossa pega seu celular de cima da mesa na cozinha.

- Tem certeza disso?

- Ah se tenho.

Estarossa responde e procura na sua lista de contatos o número tão conhecido de seu tio.

                        ★

O toque insistente do celular irrita o senhor de meia idade que lia um documento importante, resmungando palavrões ele deixa de olhar a folha de papel e observa a tela do celular com a imagem de seu sobrinho piscando, com o cenho franzido ele atende a ligação e põe no viva-voz.

- Diga. - Seu tom sério não incomoda o rapaz.

- Preciso da sua ajuda.

- Você não é mais criança Estarossa, sabe se virar sozinho.

Não sou eu que precisa de ajuda. - Ele reclama - É o seu queridinho.

As sobrancelhas loiras do senhor arqueiam-se e ele olha interessado para o celular.

- O que aconteceu com o Meliodas.

- Aquele louco tá fora de si, até ameaçou o Zeldris.

- Uhm...

- Você sabe que ele entra na linha quando você dá bronca nele.

- Certo - O homem suspira - Chego aí à noite.

- Obrigado, tio.

A ligação é encerrada e ele suspira largando a caneta sobre a mesa ao mesmo tempo que uma mulher magra de cabelos coloridos em rosa chiclete entra no escritório.

- Remarque todas minhas reuniões, Merascylla, eu irei sair.

- Claro senhor Chandler, mais alguma coisa?

- Não - Ele sorri assim que a mulher sorri - Nós nos veremos logo Meliodas.

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