A cor laranja esgueira-se pelas janelas abertas e por entre as cortinas não totalmente fechadas, colorindo as paredes de tons frios com as novas cores, do crepúsculo.
Elizabeth exasperada solta seu lábio inferior que estava entre os dentes, com a dor latejante do quase corte, seus olhos azuis que até então não desviaram-se de um quadro, com desenhos de petúnias, escorregam para olhar o celular preso em sua mão destra.
Cansada e irritada ela atira o aparelho sobre o outro sofá em sua frente e esfrega as mãos no rosto, respirando fundo Elizabeth se levanta e caminha até às portas da sacada e as empurra. O ar morno, pesado pela poluição lhe atinge empurrando os cabelos pratas para trás e Elizabeth se debruça sobre o parapeito para observar a movimentação de pedestres e veículos passando em velocidade moderada, mais a frente um pequeno trânsito forma-se e as luzes de freio piscam de minuto em minuto, dando a impressão de uma árvore de Natal.
Elizabeth resmunga sentindo-se desorientada pelo barulho de buzinas, freiadas e a conversa alta das pessoas transitando nas ruas, sente falta da calmaria de sua casa, comparado a loucura da megalópoles que é Camelot. Danafor, sua cidade natal, poderia ser comparada a um vilarejo contra esta grande cidade.
Certo, irei ligar para ele - Ela respira fundo confiante e caminha para dentro da casa novamente.
Rápido, para não perder a coragem, a loira se joga sentada no sofá e pega o celular na mão, porém para assim que digita os primeiros números do telefone de Meliodas, algo em si não a deixa terminar a ligação.
- Eu vou ligar! - Elizabeth exclama e incerta pega o telefone sem fio, e digita quase que automaticamente os números do telefone do amigo e põe o aparelho na orelha, seu estômago se revira em ansiedade.
Sua confiança começa a se esvair a cada toque não atendido e na quinta vez Elizabeth morde o lábio decepcionada e puxa o aparelho para desligá-lo, seu corpo trava assim que a voz rouca soa.
- Alô?
A loira abre a boca pronta para dizer um tímido "oi, sou eu, Elizabeth" entretanto sua voz falha e a garganta parece se fechar, impossibilitando-a de proferir uma palavra sequer.
- Alô? Quem é? - O silêncio em resposta parece deixar Meliodas irritado - Olha eu não tenho tempo para trotes idiotas, então se não me responder nos próximos segundos eu vou desligar!
A ameaça explícita desperta Elizabeth de seu transe e nervosa ela prende o ar ruidosamente. Sua mente trabalha loucamente e ela amaldiçoa-se.
Também, o que diria a ele?
"Oi Meliodas, quanto tempo. Estou ligando para você para dizer que estou bem, então pode parar de me mandar mensagens." - Ou - " Oh, me desculpe, estava tentando ligar para a pizzaria e acabei te ligando."
Ela revira os olhos e toma coragem para desligar a chamada.
- Espera! Elizabeth... É você?! - A voz do loiro soa desesperada.
O coração da loira falha algumas batidas e em seguida dispara contra as costelas, fazendo o sangue bombear com força em suas veias, causando-lhe uma surdez momentânea. A mão que segura o telefone, trêmula e quase derruba o aparelho.
- Ellie, eu sei que é você. Por favor, fale comigo.
Elizabeth olha para suas pernas e morde a parte interna de sua bochecha com força o suficiente para sentir o gosto metálico do sangue, ela respira fundo uma, duas, três vezes e finalmente cria coragem para falar algo.
- Meliodas... - Sua voz saí sussurrada é arrastada.
- Ah, graças a Deus. Ellie me...
Nervosa e insegura sobre o que irá ouvir Elizabeth aperta o botão vermelho do aparelho e o tuuu' da ligação encerrada ecoa em seus ouvidos. Seu coração acelerado ainda não queria normalizar e voltar ao ritmo constante.
A voz de Meliodas parecia sussurrar em seu ouvido, deixando-a desorientada.
★★
- Elizabeth?! - Meliodas exclama não querendo aceitar que a mesma desligou a chamada logo após respondê-lo - Mas que merda!
Esperançoso ele retorna a ligação porém a mesma vai na caixa postal eletrônica. Seu coração bate dolorosamente contra as costelas deixando suas mãos trêmulas pela ansiedade, que rapidamente se transforma em frustração por não conseguir falar com a amiga.
- Porra! - Ele berra e furioso lança seu celular contra a parede a sua frente, o aparelho explode em pedaços e uma pequena marca surge na tinta escura.
Meliodas agarra seus cabelos loiros puxando-os com força o suficiente para arrancar alguns fios.
- Meliodas?! O que aconteceu?! - Zeldris, seu irmão que estava na cozinha preparando algo para comer, corre até a sala ao ouvir o grito e o som alto de algo quebrando. Para sua surpresa o celular do mais velho jaz estraçalhado no chão e o mesmo anda em círculos.
- Ela desligou... Ela desligou! - Meliodas exclama deixando o mais novo confuso.
- Ela quem?
- Elizabeth.
As sobrancelhas escuras de Zeldris transformam-se em um arco perfeito e ele cruza os braços sobre o peito.
- Você quebrou a merda do seu celular só porque ela desligou?! Que droga, Meliodas! Perceba a idiotice que você fez, se ela se afastou é porque não quer nada com você!
- Cala boca! - Meliodas berra.
- Não eu não vou calar minha boca - Zeldris diz firme - Ou você se centraliza, ou eu vou chamar o tio!
- E o que ele vai fazer? Uhm? - Meliodas questiona - O único menor de idade aqui é você, se der a louca nele, ele te leva embora!
- Você está me expulsando? - Zeldris parece ofendido - Quer me entregar para o nosso tio assim?! Eu nem moro com você, caralho!
- Eu não...
- Olha, irmão - O moreno caminha até perto do sofá e pega sua bolsa do chão -, tem razão da Elizabeth ter te deixado. Você é insuportável!
- Onde você está indo?! - Meliodas segura o braço do outro assim que ele lhe dá as costas.
- Vou para casa, pelo menos Estarossa não irá me expulsar pra casa do tio.
- Zeldris me desculpa - O loiro diz de forma suave.
- Eu não vou te desculpar agora, eu não vou aguentar seu mau humor porquê a Elizabeth te deixou de lado.
Estupefato Meliodas encara a porta do apartamento bater assim que Zeldris passa furioso e até magoado.
O choque de realidade o faz se sentar no sofá e encarar suas mãos.
Que diabos ele fez, ameaçando entregar Zeldris para seu tio cuidar?
Sentindo-se péssimo Meliodas engasga com a vontade de chorar. Zeldris, seu irmão caçula que sempre o defendia e agora ele brigou com o mesmo.
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Lies
FanfictionO que nós fizemos Meliodas? Isto foi errado, melhores amigos não trocam carícias, não se beijam, melhores amigos não transam e nem trocam juras de amor. Cometemos um erro que, infelizmente, danificou nossa cumplicidade. Não posso ficar e fingir que...