Sorte grande

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Sério e com as mãos nos bolsos da frente do jeans de lavagem escura, Zeldris caminha da vaga onde deixou seu carro estacionado até a casa de Gelda na outra quadra. As aulas finalmente tinham se encerrado e agora definitivamente ele estava formado, mesmo que não tivesse participado da formatura ou da festa.

O ano terminou e agora estavam em janeiro, poucas semanas antes de seu aniversário. Ansioso Zeldris atravessou a pequena entrada da casa de Gelda e deu dois toques na porta de entrada ouvindo no interior da residência uma música tocando.

- Gelda? - Chamou a garota ao notar a que a porta estava apenas encostada. Curioso e receoso de que algo estivesse acontecendo com ela, Zeldris adentrou a casa e descalçou os tênis no hall de entrada. 

Tímido e sem saber o que fazer, o Haznedar seguiu o corredor até a primeira porta a esquerda, onde descobriu ser a sala. O sofá de dois lugares defronte para a televisão fixada na parede estava vazio e não tinha nada sobre o aparador amarelo, apenas o aparelho celular da mesma. 

- Gelda? - Chamou novamente desta vez seguindo a música e subiu as escadas revestidas com um piso claro, a movimentação e uma sombra refletida na parede em frente ao cômodo do lado direito o atraiu até lá. - Gel?

- Santo Deus! - A Murphy praguejou assustada e largou o estilete que segurava num ruído alto.

Os olhos arregalados viraram-se em direção a porta e Gelda franziu o cenho assim que viu o namorado alí, parado no limiar da entrada tão surpreso quanto a mesma.

- Zeldris! - Exclamou. - Como entrou aqui?

- Eu bati na porta e te chamei. - Ele aponta para fora do quarto, o cenho franzido enquanto falava. - Mas como a música está alta você não ouviu, e sua porta estava apenas encostada.

- Provavelmente foi a Ren que deixou assim. - Ela divagou e prendeu a respiração quando o namorado adentrou o quarto, seus olhos indo de uma caixa para outra.

- O que é isso?

- I-isso. - Sem conseguir enrolar ela suspirou baixinho e apontou para as caixas de papelão com as pequenas coisas que antes enfeitavam seu quarto. - É minha mudança.

- Mudança de casa? - Zeldris questionou fitando-a, seus braços cruzados sobre o peito.

- De país... 

O semblante sério de Zeldris mudou para um incrédulo e ele descruzou os braços, sua cabeça agora cheia de pensamentos confusos e barulhentos.

- Quando ia me contar que vai pra outro país?! - Indagou bravo.

- Amanhã, depois de despachar minhas malas.

- Caramba, Gelda! Nós namoramos há quase quatro meses e você decide que vai me contar sobre a mudança agora?!

- Você queria que eu fizesse o que, Zeldris?! - Gelda gritou nervosa pelo tom acusatório do outro. - Eu tinha te dito que não era deste país e que meus pais custeavam meus estudos aqui. Agora eles querem que eu volte para casa e assuma meu lugar de herdeira.

- Podia ter me contado antes! Há quanto tempo planeja sua volta?

- Soube que teria que voltar faz duas semanas.

Uma exclamação irritada e muito baixa para ser entendida escapa da boca do Haznedar e ele passa as mãos nos cabelos num gesto irritado.

- Zel... Eu não queria isso, mas não tenho escolha. - Gelda adoçou a voz, exausta se sentou na beira da cama e abraçou o travesseiro sem a fronha branca. - Você entende não é? Sabe como os herdeiros são forçados, viu pelo seu irmão.

- Eu entendo, mas estou chateado que você estava protelando me dar a notícia.

Sem vontade para discutir ela acenou para que ele se sentasse do seu lado e emburrado Zeldris o fez. A mão fria de Gelda pelo nervosismo que passou encostou na dele, os dedos enroscando-se.

- Eu amo muito você, Zeldris. - Admitiu baixo. - Me dói saber que vamos ter que terminar o namoro por causa da minha volta ao meu país, mas se quiser... E puder, me espere por mais cinco anos. 

- Até lá você vai se esquecer que um dia gostou de mim, não seja ingênua. - Zeldris retorquiu ácido.

- Te garanto que amar você, Zeldris Haznedar. É inesquecível.

- Cinco anos? - Ele murmurou. - Tudo bem, mas saiba que não vou parar minha vida até lá.

- E nem eu gostaria que fizesse isso. 

Um silêncio pesado se instala entre ambos e Zeldris respira fundo de sentindo desolado com o término abrupto. Era o primeiro namoro que realmente assumia e de repente chegou ao fim, tudo porque os pais de Gelda são tão irredutíveis quanto Chandler foi para Meliodas.

- Eu preciso ir agora. - Ele interviu falando baixo. - Vou te deixar organizar as últimas coisas com calma.

- Um último beijo antes de ir? 

Esperançosa e com o peito apertado Gelda assistiu o moreno se levantar rígido, seus ombros suavizam e Zeldris se vira de frente para ela. As mãos encontram as laterais do rosto pálido e as bocas se encontram num beijo desesperado de ambos os lados, quando termina a mulher segura seus pulsos com suavidade e morde o lábio inferior.

- Obrigada, Zeldris.

Sem responder o Haznedar caminha até a porta e para de repente, com a destra sobre a maçaneta externa, os olhos se encontram e Gelda tem vontade de chorar no momento que vê a tristeza estampada na face dele.

- Eu também amo você, Gelda.

Sem aguardar uma resposta e também sem olhar no rosto da ex namorada, Zeldris saí do cômodo em passadas largas até chegar no carro. Onde finalmente deixa a testa encontrar o volante e descansa a cabeça alí por um tempo.

E pensar que tinha ido na casa de Gelda no intuito de convidá-la a ir no seu aniversário que será no início de fevereiro.

[•••]

- Tenha uma boa viagem. - Contente Elizabeth acenou para o cliente que tinha acabado de assinar um contrato com a mesma. Atuando como advogada cível ela tinha pego a ação contra uma empresa inadimplentes com os seguros trabalhistas.

Assim que a porta do escritório de advocacia que abriu com uma colega que fez em Camelot se fecha, a Liones saí saltitante até a sala de Elaine Malenky, a advogada criminalista e irmã de Harlequin Malenky. Namorado de sua antiga secretária Diane e agora amiga.

- Consegui! - Exclamou erguendo os braços. - É Causa ganha, Elaine!

- Isso é ótimo, Ellie! - A loira sorriu feliz. - Vai dar abertura no processo quando?

- Segunda. Em alguns dias preciso ir para Liones com o Meliodas.

- Vai anunciar o noivado para seu pai e irmãs? 

- Isso.

- Boa sorte. 

Com um sorriso verdadeiro nos lábios tingidos de um tom claro, Elaine se levantou e recolheu os pertences pessoais dentro de sua bolsa. O horário de trabalho das duas acabava de se encerrar e em menos de meia hora ela terá um encontro com o homem que é sócio de Elizabeth na boate da cidade, Ban Kraz.

 - Acho que seu o Meliodas deve estar te esperando lá embaixo de novo. - Riu assim que desligou seu computador e acenou em despedida para a amiga. - Aproveite que hoje é sexta-feira e emende o feriado com o Haznedar em algum lugar chique.

- Quem dera eu, ele tem reuniões e viagens para os próximos meses e não pode adiá-las. 

- Então vá junto. - Elaine lhe lançou uma piscadela antes de sair exibindo um sorrisinho faceiro e deixou Elizabeth para trás suspirando de alegria olhando para sua mão onde o anel de noivado está.

Ela poderia ter mais sorte?

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