Epílogo

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Gelda podia sentir sua jugular pulsar no pescoço tão rápido quanto as batidas do seu coração assim que ouviu nos alto-falantes do avião que iriam pousar no aeroporto de Camelot. 

Faziam tantos anos. A Murphy já não era mais aquela adolescente de dezessete anos que tinha acabado de terminar o ensino médio e engatar um namoro, e pensou na época que seu coração tinha ficado para trás junto com o garoto que amava.

Agora aos vinte e três anos suas perspectivas e ideiais eram outras. E o medo de uma possível rejeição já não a assustava mais como no início. Na área de desembarque e com a única mala de roupa grande que trouxe junto a si, Gelda procurou com olhos atentos por Elizabeth Liones. Quer dizer, agora Haznedar, quando recebeu o convite do casamento da albina Gelda se sentiu mal por não poder comparecer, mas tinha planos inadiáveis e logo os contou para Elizabeth. 

- Ellie! - Sorrindo Gelda se aproximou quase correndo da advogada que a esperava mais afastada da multidão.

A barriga grande de cinco meses de gestação dos trigêmeos a deixava completamente redonda, até seu rosto estava mais cheio. Porém ela exalava aquela luz de grávida, Elizabeth estava mais linda do que nunca.

- Desculpa, você esperou demais?

- Não, acabei de chegar aqui. - Elizabeth sorriu de lado. - Vamos?

- Vamos.

Conversando animadas as duas deixam o aeroporto para trás e entram no HR-V da albina.

- E então como foram as coisas lá em Edinburgh?

- Boas, foram seis anos exaustivos afinal. - Gelda suspira sonoramente e olha de esguelha para a amiga. - Zel sabe da minha chegada?

- Nem imagina, Meliodas e eu decidimos não contar e Estarossa está em Liones e nem imagina que você voltou.

- Isso é bom.

- Chegamos, Gelda. - Elizabeth estaciona o carro no meio fio de uma escola particular e dá um sorriso encorajador para a Murphy. - Ele é o professor de literatura, diga para a secretária que precisa falar com ele e ela vai te liberar para entrar.

- Obrigada, Ellie.

Com o coração batendo forte o suficiente para deixar sua respiração rasa, Gelda adentrou os portões automáticos da secretaria sem imprevistos e ainda foi informada de qual direção seguir para encontrar Zeldris. Na sala de leitura da biblioteca, localizada no segundo andar.

Apenas com o som dos seus saltos ecoando pelos corredores vazios, Gelda subiu os degraus até o segundo andar perdida nos próprios pensamentos. Voltar a entrar numa escola, mesmo que hoje em dia estando numa posição diferente do que uma colegial lhe trouxe boas lembranças, quase todas elas envolvendo o mal humorado Zeldris Alexandre Haznedar. Com o corpo tremendo a mulher parou em frente a porta verde água da biblioteca e empurrou a maçaneta que estava aberta, o carpete preto abafou o barulho de seus sapatos e por um instante Gelda apenas apreciou o que via.

Zeldris tinha deixado todos os traços de um adolescente franzino para trás, alí sentado na cadeira de madeira em frente a um livro de Shakespeare, aquele homem era totalmente diferente. A camisa polo branca que vestia está agarrada aos bíceps de seus braços e os botões fechados não permite que a visão de seu torso não passe daquela peça grudada nele, entretido na leitura ele suspira sonoramente e coça a barba serrada de seu queixo num gesto impaciente, ao passar a folha do livro os óculos redondos de armação grossa escorregam no seu nariz.

- Posso me juntar a você? - Tomando coragem Gelda encosta a porta atrás de si e sorri pequeno nervosa quando está sob a mira dos orbes escuros do professor. - Embora eu prefira Jane Austen. 

O cenho franzido de Zeldris dura apenas alguns segundos, tempo suficiente de reconhecimento e ele arregala os olhos incrédulo de imediato. 

- Gelda? 

- Eu mesma.

- Santo Deus! - Tirando os óculos Zeldris os deixa sobre a mesa e se levanta da cadeira indo em passos rápidos até a mesma na porta, apesar de ter se desenvolvido, ele permanecia da mesma altura. - Foram o quê? Seis anos?

- Seis anos e cinco meses... Desculpe o atraso.

- Eu pensei que você estava ocupada com a empresa.

- Ora Zel, foi você quem parou de me contatar depois que fez o terceiro ano que eu estava longe. - A mulher encolhe os ombros e se senta tranquilamente na cadeira branca de madeira. - E então, como é ser professor de literatura inglesa?

- É bom... E a empresa Gelda?

- Estou de férias por um tempo dela.

O silêncio pesado que fica entre ambos incomoda Gelda e ela batuca os dedos no tampo da mesa.

- Ainda se lembra da nossa promessa, não é?

- Você voltaria cinco anos depois. Já são seis e meio.

- Está compromissado?

De cenho franzido Zeldris nega e se aproxima da mesma.

- Estava esperando que você voltasse, mas já estava perdendo as esperanças.

- Eu torci todos os 78 meses longe que você não me esquecesse e que me esperasse.

Visivelmente incrédulo, Zeldris se aproximou e sem cerimônias a beijou exatamente como se beijaram pela última vez no quarto da casa dela.

- Fica pra sempre comigo? - Ele sussurrou, as testas coladas e Gelda respirou profundamente. - Vamos recomeçar, Gelda.

- É tudo que eu quero, Zel. É tudo que eu preciso.

Sorrindo novamente ele a beijou, pouco se importando que estavam na escola onde ele leciona. Alí, a mercê em seus braços esta o amor de sua vida.

- Eu amo você, Gelda.

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