Indecisões

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O som alto dos saltos finos estalando contra o mármore frio é o único barulho ecoando pelo hall de entrada do prédio, Elizabeth acena educadamente para a recepcionista e aberta o botão do elevador, verifica pela enésima vez se os documentos necessários estão em sua maleta e entra no cubículo de paredes opacas.

Seu celular toca alto e ela pesca o aparelho de dentro da pasta, a tela acesa mostra a nova notificação, uma mensagem de Meliodas. Hesitante ela abre o aplicativo e imediatamente  a mensagem se abre.

" Então é assim, me deixou da mesma forma que meus pais?" - 17/07.

" Ellie, por favor, fala comigo." - 18/07.

" Me desculpe pelo que fizemos." - 19/07.

" Ellie, não me ignore, eu não sei como lidar com isso." - 20/07.

" Eu só quero minha amiga de volta." - 21/07.

Incerta sobre o que fazer Elizabeth bloqueia a tela do aparelho e caminha devagar para fora do elevador, perdida em pensamentos. Duas semanas inteiras já se passara e durante esse tempo Meliodas não deixou de tentar se reaproximar nem um dia sequer, sempre mandando mensagens desculpando-se pelo o ocorrido.

Idiota.

Ela revira os olhos, com o pensamento de que ele está se desculpando por uma coisa que não deveria, afinal ela estava completamente sóbria e ciente do que estavam fazendo, quer dizer, poderia acabar com o que estava acontecendo a qualquer momento, mas não quis, decidiu levar até o final.

Ela não se arrepende de ter ido para a cama com ele, porém não faria novamente, sua amizade com Meliodas comprometeu-se ao fim no instante em que se beijaram.

- Bom dia senhorita. - Os pensamentos de Elizabeth são interrompidos pela voz de sua secretária que sorri educadamente.

- Bom dia, Diane - Ela responde com um sorriso - Tenho algum compromisso pelas próximas horas?

- Não, apenas alguns documentos que precisam da sua assinatura. Eles já estão sobre sua mesa.

- Certo, obrigada.

Em passos rápidos ela empurra a porta de madeira com detalhes e caminha até sua mesa, deixa sua pasta alí e aproveita para abrir as persianas, o sol da manhã inunda o escritório e Elizabeth cerra os olhos acostumando-se a claridade que faz seus olhos doerem. De volta á sua mesa ela empurra a cadeira de couro preto, com estofado macio e se senta para verificar os primeiros documentos que precisam de sua autorização.

As letras miúdas e escuras embaçam sua visão e Elizabeth fecha os olhos tentando se concentrar nos papéis a sua frente, entretanto a imagem de Meliodas teima em aparecer em sua frente.

- Pare de me desconcentrar - Ela resmunga entredentes e bagunça seu cabelo, que, até então, estava perfeitamente arrumado.

Com muita dificuldade a loira consegue ler o documento e assiná-lo, um gemido desanimado escapa de sua garganta assim que a mesma encara a pilha consideravelmente grande a sua frente.

O dia seria longo.

                          × × ×

 Cansada Elizabeth bate a porta do apartamento e apóia a mão na parede para tirar seus sapatos, um suspiro de satisfação é solto assim que seus pés doloridos encontram o piso frio e ela joga a pasta sobre o sofá.  

Tranquilamente caminha até a cozinha e abre a geladeira apenas para fitar seu conteúdo e notar que não há nada que queira comer alí dentro, o toque do celular atraí sua atenção e ela corre para pegar o aparelho sobre o sofá antes de a ligação caía na caixa postal.

- Alô? - Questionou ao levar o aparelho até a orelha.

- Ellie, como está?

- Papai - Ela fecha os olhos e se senta no sofá - , eu estou bem, e você e minhas irmãs?

- Estamos bem. - Baltra responde calmo - Como foi na empresa?

Normal - Ela dá de ombros - E o Meliodas... Como ele está?

- Como acha que ele deveria estar, filha? - Baltra resmunga - Eu não sei o que aconteceu entre vocês e, sinceramente, não sei se quero saber. Mas você precisa conversar com ele Elizabeth, Meliodas está estranho, não é ele mesmo.

O coração de Elizabeth se aperta e ela morde a parte interna da bochecha negando-se a falar alguma coisa que revele o que aconteceu entre ela e o amigo.

Elizabeth, ele chorou. Eu não via aquele menino chorar há anos, e ele simplesmente começou a chorar e dizia que você o deixou.

- Papai, por favor, vamos mudar de assunto. - Elizabeth sussurra - Eu... Só quero ficar um tempo sozinha.

Tudo bem, boa noite querida.

- Boa noite papai.

Elizabeth desliga a ligação e encara o celular em suas mãos pelo que pareceu ser horas, em seu íntimo uma guerra era travada, seu orgulho que seria pisoteado se ela ligasse para ele e seu coração que se quebrava cada vez mais com a idéia de perdê-lo.

- Eu não sei o que fazer. - Ela sussurra e agarra o estofado do sofá, fincando suas unhas no tecido macio.

                        ★★

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