7- CRANIUS CAST

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Eu precisei entrar mais fundo na rede para me proteger do vento gelado que atingia o convés, mas estranhamente não parecia afetar tanto assim aqueles piratas grosseiros. Horas depois, o navio parou. A rede na qual estávamos foi levantada por alguns tritões e arremessada para fora do barco. Tentei sair rapidamente, temendo ser jogado na água. Não. Era sólido. Antes de conseguir me desvencilhar da rede, ouvi a voz do capitão:

— Caso você e a sua abelhinha não morram congelados, fiquem sabendo que estarão mortos caso cruzem comigo de novo! Sendo a cria de quem for!

Quando consegui finalmente colocar meu corpo para fora daquela trama de fios emaranhados, o navio já estava distante no mar. Senti uma onda de frio que parecia capaz de congelar meu minúsculo corpo. Olhei em volta e entendi o porquê. Até onde minha visão alcançava, não havia absolutamente nada, apenas uma planície imensa e coberta de neve. Voltei à minha forma humana, mais adequada para o frio. Não me desvencilhei completamente das redes, apenas o suficiente para alcançar um pouco de neve, que peguei com as mãos e bebi. A massa gelada fez a minha garganta arder, mas eu estava com sede demais para me importar. Depois de colocar umas seis porções para dentro, pensei que seria perigoso continuar. Eu não queria perder o pouco calor que meu corpo ainda guardava.

O mais certo a se fazer era caminhar. Usei uma porção da rede que rasguei com ajuda de uma faca de cozinha que veio embolada junto para tentar impedir que o vento machucasse a minha pele, como uma capa suja e desconfortável. Precisava procurar árvores, buracos ou alguma gruta para me esconder. Algo que me protegesse do vento.

Eu ia partir sem olhar para trás. Deixar o tritão morrer ali, esquecer que um dia havia cruzado com aquele homem. Não me sentia culpado, faria isso para o meu próprio bem. Já havia me afastado alguns metros quando tive a ideia de tirar suas roupas para me agasalhar melhor. Eu estava nu, enquanto Tony costumava usar inúmeras camadas de trajes de luxo, além um casaco que se estendia até a altura dos joelhos. Nada muito pesado, mas ao menos era alguma coisa. Dei meia volta e pisei nos buracos deixados pelas minhas pegadas, evitando assim a sensação desagradável de afundar os pés na neve.

Abaixei-me do lado da rede e comecei a desembaraçá-la de seu corpo. Com algum esforço o deitei na neve, a faca em mãos para poupá-lo de morrer de frio. Eu o teria matado sem pensar duas vezes caso ainda parecesse com um tritão. Teria rasgado sua garganta com aquela faquinha, roubado seus pertences e talvez até mesmo arrancado alguns pedaços de carne para necessidades futuras. Sem dúvidas, era o certo a fazer.

Inexplicavelmente, o que meus olhos viam era o jovem humano que eu havia conhecido na Ilha Flora. Eu gostava dele. Eu não conseguiria machucá-lo. Sentei ao seu lado, tremendo de frio e raiva. Apesar de imóvel, ele ainda respirava.

— Ei, — Cutuquei um de seus ombros — acorda.

Chacoalhei mais forte até que abrisse os olhos castanhos. Com a perda de Thomas, Tony era, além da minha mãe, a única pessoa que eu conhecia. Levantei-me rapidamente enquanto ele sentava.

— Um tritão! — Meu grito quebrou o silêncio gélido. — O que todos vocês querem afinal? Como se meu pai não bastasse, também arrastaram Thomas para o fundo do mar! — Ele arregalou os olhos, assustado. Nunca tinha ouvido minha voz acima do volume de um sussurro. — E você, encarregado de dar um fim em mim, o que vai fazer agora? Devorar aquele que salvou a sua vida?! Monstro!

— Do que você tá falando...?

Segurei os cabelos brancos, colocando-o violentamente de pé.

— Você sabe muito bem do que eu estou falando, mentiroso desgraçado. — Sem mais palavras, virei as costas e comecei a caminhar.

— Pra onde você tá indo, Romeo? Conhece essa parte da...

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