Epílogo

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Depois de tantas tentativas falhas e promessas vazias, já não existe nenhum homem que em mim acredite. Este é um mundo de desrespeito e impunidade. — Protestou a voz da Justiça.

Como se não bastasse, os humanos têm escravizado meus filhos e espalhado a morte indiscriminadamente. Cada vez mais me fazem acreditar que não colocarão fim somente à própria linhagem, mas ao nosso mundo inteiro. — Acrescentou a voz da Vida.

Eles encontraram tantas maneiras de enfrentar a fome, a sede, o frio e o calor... Temo que tenham esquecido que foram feitos para o sofrimento. — Reclamou a voz do Sadismo.

Donos das próprias vidas, é isso o que acreditam ser. Esse ceticismo nojento é o que os impede de respeitar meus vereditos. — Disse a voz do Destino.

A voz da Mentira não tinha nada a dizer, pois não via fundamento em todas aquelas críticas. Mesmo amando a humanidade, ainda estava em minoria, e por isso fingiu concordar.

E assim foi decidido: o Fim do Mundo.

O Destino fez a chuva cair incessantemente, até que os grandes impérios humanos estivessem completamente imersos na água.

Em segredo, a Vida escolheu os que mais gostava e lhes deu tamanho e força o suficiente para suportar o dilúvio, ao mesmo tempo em que removeu a sagacidade e esperteza de seus espíritos, transformando-os em uma inofensiva lembrança da bela espécie que um dia havia criado.

A Justiça, em um primeiro momento, ficou satisfeita com a chuva. No entanto, não demorou a perceber que o Destino punia igualmente os homens bons e maus, e, por fim, se arrependeu de ter concordado com a chacina. Escolheu as almas mais injustiçadas pelo dilúvio e as trouxe de volta à vida, concedendo—lhes guelras e barbatanas para que governassem o novo mundo.

O Sadismo assistiu ao Fim com prazer, ainda que preferisse formas mais lentas e dolorosas de destruição. Percebeu que, com muito esforço, alguns humanos se salvaram, subindo no topo das montanhas mais altas ou construindo grandes navios. "Melhor assim," sua boca se distorceu em um sorriso, "a diversão será maior."

A Mentira também viu que os homens mais inteligentes e sortudos haviam conseguido contornar o dilúvio. Dirigiu-se a eles como prova de reconhecimento, ainda que apenas alguns tenham sido capazes de ouvir. A Mentira ensinou a esses homens como enganar e manipular o Destino, seu antigo rival, e eles passaram a se denominar mágicos, aqueles capazes de iludir a verdade.

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