19 - EXECUÇÃO (Parte I)

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Era uma pequena sala montada entre quatro painéis de madeira um pouco mais altos do que um homem de pé. O chão ainda era de cascalho, e no lugar do teto havia apenas breu. O som das ondas quebrando ainda ecoava ao longe. Ponderei sobre o tipo de estrutura para o qual fomos arrastados, afinal, tinha certeza de que ainda era dia. De toda forma, uma porção de lampiões a óleo garantia alguma iluminação ao ambiente.

Eram quatro os nossos carcereiros: dois homens equipados com finas tábuas de madeira, nas quais estavam queimadas várias linhas e símbolos desconhecidos, um jovem sentado atrás de uma escrivaninha simples, e uma garota de pé ao seu lado, que nos encarava com uma seriedade perturbadora.

— Nomes. — Exigiu o homem sentado, com evidente cansaço na voz. Respondemos obedientemente à pergunta, e a todas as outras que se seguiram. Quando Tony disse quem era, um dos homens que marcava as tábuas de madeira com ajuda de um formão, através de uma técnica primitiva porém bastante útil de escrita, interrompeu o que estava fazendo e levantou a cabeça, surpreso.

— Associado ao Lorde Tritão? — Perguntou ele, mas foi repreendido por um olhar severo por parte do interlocutor e Caleidoscópio não viu necessidade em lhe dar resposta.

O questionário parecia voltado somente a detalhes inofensivos, mas descobri algumas coisas interessantes sobre meus amigos. Zenit morava em Emaus, um arquipélago não muito distante do leste, e que eu inclusive tinha visitado com meu irmão alguns anos antes. Quando perguntaram a idade de Tony, ele respondeu "vinte e três" com tanta espontaneidade que eu fiquei em dúvida se acreditava ou não.

A menina que nos encarava movia os lábios acompanhando os movimentos que fazíamos ao falar, e percebi que estava ali para memorizar nossas respostas, as mesmas registradas simultaneamente por seu colega. Para quê um tratamento tão minucioso de informações como aquelas? Eu não fazia ideia. O grupo que acabávamos de encontrar era inegavelmente organizado.

— Como chegaram até aqui? — O homem questionou, por fim.

— Fomos enviados por Cont. — Falei antes que Zenit ou Tony pudessem dizer besteira. — Precisamos falar com August Entoc. Trazemos notícias urgentes.

Assim que terminei a frase me dei conta de que citar Cont poderia não ter sido uma boa ideia. Para nossa sorte, nenhum dos presentes reagiu mal à minha justificativa.

— Precisa conversar diretamente com August? — Foi tudo o que perguntou.

— Sim, quanto antes melhor. — Respondi. Ele suspirou cansado e coçou os olhos. Parecia não dormir há, pelo menos, um dia. Mesmo assim, a postura imponente não me permitia sentir nenhum tipo de compaixão. Virou para a menina antes de falar:

— Macy, cuide deles. Entre em contato comigo caso arranjem problemas.

— Está bem. — A menina respondeu antes de se dirigir a nós. — Venham comigo. — Ordenou. Em seguida, saiu do cômodo por um vão entre dois dos painéis em nossas costas. Obedeci prontamente, e me surpreendi ao dar de cara com uma ruela escura do lado de fora. A sala onde fomos interrogados era montada ao ar livre. Aquilo não fazia sentido.

— Onde estamos, afinal? — Zenit roubou as palavras de minha boca.

— Vocês devem saber, uma vez que chegaram até aqui sozinhos. — Macy respondeu.

Os Mentirosos realmente subestimavam nosso poder, pois nos deixaram aos cuidados de uma menina que aparentava não ter nem quinze anos de idade. Exceto pelo rosto feminino, Macy ainda parecia um garoto em roupas de adulto, os cabelos loiros curtos e desalinhados.

— Ainda estamos na mesma ilha? — Perguntei. — Onde está nosso barco? Eu preciso vê-lo.

— Se quiserem falar com August, não podem voltar já. Aliás, precisamos agendar um horário. Vamos logo. — Mais uma vez, virou as costas e começou a caminhar em passos rápidos.

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