15- ENTREATO

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Dentro de poucos minutos a aglomeração se dissipou. O show havia acabado e a população entediada voltava aos seus afazeres cotidianos. A expressão de antipatia de Tam foi o suficiente para que nossos espectadores encontrassem algo melhor para fazer, de preferência bem longe da praia. Ninguém olhou para trás, nem mesmo quando Tony gritou de dor após ter tido a brilhante ideia de cair exausto no chão.

— Aah! — Choramingou ele enquanto olhava para a areia cobrindo suas feridas abertas. — Quero água. Fria!

Voltei à forma humana tentando pensar em algum jeito de ajudá-los, mas não dava pra fazer nada de mãos vazias. Os dois precisariam ser capazes de caminhar até algum lugar. Uma enfermaria, hospedaria ou casa de algum cidadão disposto a ajudar três miseráveis. Pelo pouco que vi do povo da Ilha Sol, sabia que a última opção era a mais improvável.

— Tam, me empreste o seu casaco. — Eu não tinha vontade de ser o exibicionista louco daquela praia. — Onde está o seu dinheiro? — Era a pergunta mais importante a se fazer.

— Ah, o baú! — Ele olhou para o mar atrás de nós, frustrado. — Tem um pouco aqui comigo, mas não vai dar pra muito tempo.

Tam estendeu um saco de tamanho considerável cheio de moedas em minha direção. Contamos cento e cinquenta modestos, os quais fiquei com pouco menos de cinquenta, para o caso de alguma emergência. Aquela quantia poderia ser pouco para o apetite insaciável de Levi, mas acho que nos sustentaria bem por mais ou menos uma semana. O tempo necessário para encontrarmos alguma pista de Lorde Tritão.

Eu realmente depositava minhas esperanças em achar a família de Tony, pois de outra maneira teríamos que arranjar uma embarcação para continuar viagem até a Ilha Flora. Eu não tinha ideia de como fazer isso: da última vez que tentei a aleatoriedade em um porto me arrependi bastante.

Depois de se recuperar da queda, Tony nos guiou por trilhas em meio ao mato e grama alta, por vezes interrompidos por pequenas casas de madeira, até o centro de Sol.

— Já que temos dinheiro, vamos para o lado do Porto. — Disse ele. — Amanhã ou depois a gente vai até o distrito dos tritões. Preciso descansar.

Eu também precisava dormir. Mesmo não participando da parte final de nosso naufrágio, eu tinha passado a última noite em claro tentando fazer o navio flutuar. Só lembrar daquela pequena armadilha colorida já me trazia irritação. Em um momento mais adequado, Tam levaria uma bronca por ter me colocado dentro daquilo.

Em poucos minutos o cenário praiano foi invadido por construções. No início eram grandes e mal acabadas, parecendo depósitos de janelas altas, sem entradas visíveis. 

No entanto, quando Tony nos fez passar por uma estreita abertura entre duas delas, percebi que o que eu via era apenas a parte traseira de estabelecimentos virados para uma grande avenida logo à frente. Avançamos em direção à rua e meus ouvidos se alegraram ao som da cidade que começava a funcionar.

Comerciantes abriam as lojas e restaurantes começavam a preparar comida enquanto eu relembrava o prazer de estar em terra firme, ainda maior quando contava com dinheiro no bolso e a certeza de que ninguém em volta iria me reconhecer. "Sem mais água fervente, gelo ou naufrágios, pelo menos por enquanto", pensei comigo mesmo. 

Ao mesmo tempo, os olhares de estranhamento sobre nós me fizeram constatar que nosso grupo parecia bem esquisito. Um gigante, algo que por si só não é comum, acompanhado de um homem maltrapilho e uma criança ferida.

— Escutem aqui. — Puxei os outros dois pra perto cuidando para não machucá-los ainda mais. — Somos os únicos sobreviventes de um grande navio pesqueiro que naufragou a leste. Eu, como navegador, aproveitava as viagens tranquilas para ensinar o meu filho — Olhei para Tony — a conduzir um navio. Você pode inventar seu personagem, Tam. A questão é: eu e meu filho precisamos voltar para nossa casa em Flora, onde reencontraremos minha esposa e usaremos parte de nossas economias para recompensar Tam, que nos salvou durante o naufrágio. O que acham? — Perguntei, orgulhoso da história improvisada.

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