38- EMBAIXO DA TERRA

34 6 29
                                    

Sofia correu na frente, acompanhada por uma garota miúda e ágil que segurava a sua tocha. Os passos pesados a cada grande degrau de pedra ecoavam lá embaixo, dentro do covil escuro que estávamos prestes a adentrar. Sem problemas. Ela não precisava ser discreta, apenas esmagar todas as ameaças que encontrasse pela frente.

— Venham!

Avançamos através do primeiro corredor. Diferente do túnel que eu e Tony tínhamos acessado da outra vez, ele era cavado de forma homogênea e tinha o chão revestido de pedra escura. Três gigantes podiam avançar, lado a lado, ao mesmo tempo. O suficiente.

Na primeira fileira, a tocha de Sofia estava acesa. Apenas trinta tochas estavam distribuídas entre o restante das tropas para evitar acidentes. Não tivemos dificuldade em mantê-las acesas, pois o lugar contava com alguma ventilação: eu era capaz de sentir uma brisa gelada atingindo a porção descoberta do meu rosto.

Nos deparamos com a primeira bifurcação. Apesar de eu não fazer ideia do caminho a se seguir, Tony palpitou com confiança e Sofia acabou por ouvi-lo. O caminho continuou tão largo quanto antes, o que era um bom sinal.

Então, a primeira porta interrompeu nossa rota. Um pedaço de madeira rústica separando os cômodos. Nem sequer contava com uma tranca.

— Pode seguir. — Falou Tony. — Mais algumas dessas e estaremos na câmara principal.

— Espere calado. — Sofia ameaçou antes de sumir junto com a menina que segurava a tocha, que fechou a porta atrás de si.

Alguns minutos depois, pudemos ouvir a sua voz novamente:

— Venham!

Outro corredor, dessa vez mais largo. Agora, atrás de mim cinco gigantes marchavam lado a lado. Caminhamos durante minutos ouvindo apenas o som compassado do choque das botas contra o chão de pedra. Não tardou, contudo, para que eu percebesse uma passagem à frente.

Não tinha porta. Era somente uma grande abertura conduzindo a um ambiente tomado pela escuridão. Aquilo me cheirava a armadilha, mas não deixei que terror tomasse conta de mim. Ninguém dentro do esconderijo esperava pela nossa chegada. Por isso, devia ser apenas mais uma área inacabada, ainda em construção.

Assim que Sofia e sua assistente atravessaram o portal, a tocha se apagou. Irritada, a mulher recuou e esperou o fogo ser restaurado antes de avançar novamente. Entretanto, ao adentrar a zona escura, o fogo se extinguiu mais uma vez. Me preparei para um ataque de nervos por parte de nossa grosseira aliada. Tudo o que ela fez foi soltar uma pequena gargalhada.

— Acho que eu entendi. — Sofia murmurou. — Você, Raquel, acenda essa tocha de novo e fique aí com eles. — Empertigou as costas e completou, em tom assassino. — Parece que é o meu dia de sorte!

Quando o rosto da moça foi iluminado pela tocha pela terceira vez, o corpo musculoso de Sofia já havia desaparecido na escuridão. Raquel olhava para dentro da sala, a expressão dividida entre a curiosidade e o medo. Tony recuou, tomando lugar atrás de mim, que também vacilava, receoso.

Aquela merda só podia significar uma coisa: a prisão de Cast estava preparada para visitas indesejadas. Pior do que isso, contava com a ajuda de um mágico.

Ouvi vozes discutindo, mas os passos pesados de Sofia ecoavam de maneira a me impedir de discernir palavras com clareza. De tempos em tempos, ela gritava, furiosa. Nessas horas, Raquel e alguns dos soldados da frente faziam menção de entrar.

No fim, a ordem anterior de Sofia ainda falava mais alto e ninguém ousou avançar a não ser que ela pedisse ajuda de forma evidente. Presos a essa condição, permanecemos imóveis durante os minutos seguintes, os ouvidos aguçados na tentativa de extrair algum sentido daquela estranha situação.

PrismaOnde histórias criam vida. Descubra agora