25- TAVERNA ROXA (Parte II)

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A maioria dos civis obedeceu prontamente ao conselho de Jack, trêmulos diante do episódio mais perigoso de suas vidas. Para minha surpresa, alguns jovens que esperavam na fila caminharam para o lado de Zenit, a fim de conseguir chamar a atenção do capitão arriscando as vidas para protegê-lo. Zenit encorajou essa atitude, prometendo grandes somas de dinheiro para quem lhe entregasse a cabeça de Jack ou de qualquer um de seus capangas. 

Ainda assim estávamos em desvantagem. Todos aqueles funcionários recém contratados de Dona Maria pareciam comparsas de Lâmina negra, e pareciam bem armados com pistolas e espingardas. Zenit tinha uma arma de fogo, mas eu era apenas um homem com uma adaga, enquanto Pagu e Bogu lutavam de mãos vazias. É uma constatação terrível, mas, em tais circunstâncias, nossas vidas dependiam da força e habilidade de desconhecidos.

O canhão disparou pela primeira vez.

Senti o rosto gelar enquanto a minha breve vida passava diante de meus olhos. O barulho ensurdecedor fez com que os mais inteligentes se jogassem ao chão, mas não fui ágil o suficiente para seguir o exemplo. Em vez disso, apenas fechei os olhos e enrijeci os músculos. Alguém soltou um grito terrível do lado esquerdo. Abri os olhos, tremendo de medo. A carpinteira tinha sido atingida, e suas vestes estavam encharcadas de sangue. A bala, depois de arrancar parte de seu braço, sumiu por um buraco aberto na parede de trás.

Jack riu, Zenit atirou em sua direção, Napoleão saiu correndo para dentro do balcão de Maria e Bogu me puxou para trás de si. "Vamos perder para esse canhão", constatei o óbvio, "a não ser que...".

O tempo de recarga dependia de quantas pessoas estavam envolvidas no processo de manutenção daquela máquina mortífera, mas, de acordo com o pouco que eu sabia, levaria, pelo menos, um minuto. Era o suficiente para que eu chegasse até lá e desse um jeito nos atiradores, enquanto Zenit e nossos homens atraíam a atenção de Jack. Eu poderia entrar na cozinha do bar como Napoleão, caminhar abaixado, longe dos olhares inimigos, e assim evitaria toda a confusão. Era o meu melhor plano.

É óbvio que eu queria gritar para Zenit fugir, queria alertá-lo que lutávamos uma batalha perdida, mas eu não podia fazer isso sem que todos aqueles piratas desconhecidos, atraídos pelas promessas de meu capitão, se sentissem desencorajados. Se eles desistissem de nos proteger, aí sim estaríamos mortos. Por isso, impedir os tiros de canhão ainda era a alternativa mais coerente. Me preparava para colocá-la em prática quando Bogu me segurou pelos ombros.

— Você não vai a lugar nenhum. As ordens de Zenit foram claras.

— Está vendo aquele canhão? — Sussurrei desesperado, incrédulo com tamanha burrice. — Está vendo o que ele fez com a mulher? Só tem um jeito de vencermos essa batalha. Preciso impedi-los de continuar atirando.

— Mas é perigoso. — Ele insistiu.

— Se você acha, venha junto comigo. Mas não tente me impedir, ou o capitão ficará sabendo que me machucou com essas grandes mãos imundas!

Ele obedeceu, e avançou pelo lado de fora impedindo inimigos de pular por cima do balcão enquanto eu engatinhava sorrateiramente, com adaga em mãos. Pagu, por sua vez, tomou posição ofensiva e partia de mãos vazias para cima dos capangas armados de Jack. Não vi nenhuma bala acertar seu corpo pequeno, ao passo que muitos inimigos foram desarmados com suas habilidades de briga acima do comum. 

Passei ao lado de Dona Maria, que praguejava agachada abraçando os joelhos:

— Você vão ver, pivetes nojentos! Vou chamar o exército e todos serão executados. Baderneiros estúpidos! — Ela sussurrava, ao mesmo tempo em que tremia de medo. Napoleão se escondia ao lado da velha, igualmente amedrontado.

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