25- TAVERNA ROXA (Parte I)

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Apesar de dolorido, deitado em um banco no meio de uma praça desconhecida e levemente enjoado, eu já estava sóbrio novamente. O que havia sido aquela aventura bizarra? Preferi não pensar sobre o assunto. A muda de flor completamente destruída no chão ao meu lado, entretanto, indicava algum embasamento verídico. 

Também não pude deixar de perceber um pedaço de papel amassado que foi colocado em uma de minhas mãos enquanto eu dormia. Desembrulhei com cuidado. Dizia:

ESTOU RECRUTANDO!!!

Abaixo das letras garrafais escritas em giz de cera preto, sete linhas de cores diferentes, na ordem do arco-íris. Devia ser coisa de algum pivete que morava ali perto e joguei fora assim que pude. Depois disso me informei sobre o caminho mais rápido até o porto. Estava de volta ao navio logo após o pôr do sol.

— Nunca mais me deixe sair sozinho. — Resmunguei para Zenit.

— Que merda aconteceu com você? — Ele levantou, surpreso. Estava terminando de assar um peixe. — Olha pras suas roupas! Tem terra até na cara. — Sorriu ao perceber que estava tudo bem.

— Eu caí. — Falei a primeira coisa que me veio à cabeça.

— Deve ter sido feio. Está cheio de escoriações no pescoço.

— O que?! — Perguntei, assustado.

— Estou brincando. — Zenit soltou uma gargalhada. — Mas não tente mentir para mim da próxima vez que for para o mato com alguma mulher.

Não importava o que eu dissesse, a partir daquele ponto tudo seria motivo de piada. Por isso, decidi apenas mudar o assunto.

— Conseguiu alguém para nos acompanhar amanhã?

— O Pagu e o Bogu estão dormindo no segundo convés. Eles são os melhores lutadores que eu já conheci. Caros. Mas muito bons. — Eu já tinha escutado aquela história antes. Dessa vez, esperava um desfecho menos catastrófico. Zenit continuou: — E você, teve tempo de passar na Taverna Roxa?

— Sim, está cheia. Parabéns! As pessoas só falam de você. Vai abrir amanhã, mas não aceite nenhuma bebida daquela velha. Ela está chateada com a morte de seu querido Robert.

— Qual o problema dela? — Zenit comentou indignado. — Estou até movimentado a espelunca.

Acordamos cedo no dia seguinte, quando tive a oportunidade de conhecer nossos novos guarda-costas. Fiquei assustado com a primeira visão do maior deles, um homem alto e gordo, com toda a superfície visível da pele deformada por cicatrizes. Ele tinha cabelos loiros, amarrados em um pequeno rabo de cavalo, e um bigode que estava sujo de comida no momento em que se dirigiu a mim.

— Você é o navegador? Eu sou Bogu. — Me ofereceu um aperto de mão, demonstrando mais civilização do que eu geralmente espero desse tipo de brutamontes. — Zenit mandou você se alimentar e esperar por ele na Taverna. Também falou que mandaria o pesqueiro para uma viagem.

Outro homem, que eu concluí ser Pagu, me alcançou um prato de comida quente. Em oposição ao companheiro, era pequeno e careca, magro de músculos bem definidos. Ambos usavam somente bermudas surradas e sandálias nos pés.

— Coma bastante, o dia hoje pode ser difícil. — Ele murmurou para mim, se sentindo íntimo o bastante para dar conselhos. Às vezes eu acho que é alguma coisa na minha cara que encoraja esse tipo de postura. Devo parecer bastante desamparado. Ou apenas perdido.

— Obrigado. Eu sou Romeo. Vocês são... irmãos?

— Não. Quer dizer, a maior parte das pessoas acha que somos, por causa dos nomes. Mas na verdade só escolhemos algo fácil para lembrar. Trabalhamos bem juntos. É isso. — Pagu respondeu em voz baixa e grave. Apesar de menor, era muito mais amedrontador do que Bogu.

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